quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Artimanhas da escrita

Em cada discurso do general De Gaulle, mesmo naqueles que proferiu em momentos de crise profunda, de quase guerra civil, havia, invariavelmente, uma palavra rara. 
O presidente vai falar esta noite? Pois reuniam-se frente aos televisores, em casa, nos cafés, nas brasseries, nas colectividades, ouviam-no religiosamente até ao fim, cada qual querendo ser o primeiro a identificar a palavra, a explicar triunfante o seu significado, a listar as acepções, a discutir a pertinência do seu emprego.
Também eu recorro frequentemente a este truque para ser lido e verificar se o fui. Não se amofinem. Lembrem-se d'A Queda, de Camus: "Ah! Noto que implica com este imperfeito do conjuntivo. Confesso o meu fraco por este modo, e pela frase castiça em geral." 
Portanto, não me censurem por recorrer amiúde a arcaísmos sintácticos e lexicais. Os quais, afinal, talvez não sejam de tão mau gosto como os palavrões, quando são utilizados escusadamente...

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