segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Quarenta anos atrás...

Dá vontade de rir pensar que este bando de miúdos enfezados, engravatados, eram soldados– instruendos e estavam a ser duramente preparados para a guerra e para nela comandarem praças pelas picadas de Angola – Spínola pretendia descolonizar as restantes “províncias ultramarinas”, mas preservar a jóia do Império.
Este é o meu pelotão, um dos cinco de cada uma das cinco companhias de instruendos do quartel, comandado pelo aspirante, atrás, ao meio, facilmente identificável por ser o único de quico. Um ranger. Dos duros. Não parece, pois não? Fosse hoje e veríamos no seu lugar matulão culturista, cara borrada, ar de mau, não com a farda de trabalho, mas envergando imponente camuflado, mangas arregaçadas a exibir os poderosos músculos. Mudam-se os tempos, mudam-se os soldados.
Sou o terceiro a contar da direita, na fila do meio, óculos e bigode. Incorporado à força, aos vinte anos, exactamente quarenta anos atrás, no Regimento de Infantaria n. 7, de Leiria. Deram-me fardamento, a descontar no pré, uma G3 para companhia permanente, um lugar num beliche duma camarata, pespegaram-me ao peito letreiro com um número para saber que de indivíduo passava a soldado-instruendo 1093/975.
Saudades? Nenhumas. Não gostei da tropa, da ordem unida, da vida regulada pelos toques de clarim, das formaturas, dos discursos intermináveis sofridos na parada na posição nada descansada de "descanso", da comida que hoje não dariam aos porcos, dos castigos por dá cá aquela palha, dos fins-de-semana cortados, da instabilidade que o ambiente de pré-guerra civil causava. 
Porém, estive lá. Contrariado, mas estive. Quarenta anos atrás, que passaram quase sem que desse por eles.

2 comentários:

  1. aspirante, na foto não é alferes.

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  2. Muito obrigado pela correção. Vou já emendar. Quarenta anos deram para me esquecer das patentes...

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