segunda-feira, 11 de abril de 2016

Batatas com pele e fruta por descascar

Parece ter virado moda em tudo o que é restaurante, tasca, boteco, servir as batatas com pele -- a murro. O que era uma receita camponesa, que muito aprecio no tempo da batata nova, generalizou-se. Poupam em mão de obra, poupam na matéria prima.
Acontece que não gosto da pele dura das batatas velhas, e vejo-me em palpos de aranha para a separar da polpa quando me servem tal manjar. Mas há outra razão para querer as batatas descascadas: é na pele que se acumulam os pesticidas utilizados tanto durante a produção como, sobretudo, na conservação. Eu tenho ouvido cada história! -- por exemplo, há agricultores que aquando da colheita mergulham durante 24 horas os sacos de batatas em Decis, um insecticida não homologado para o efeito. Ou noutro qualquer, que tenham em armazém para combate ao bichado da fruta!
Depois, há os tratamentos regulares, no mínimo mensais, com insecticidas em pó para combater a traça da batata (a "fia-maria" , diz-se na minha terra) e antiabrolhantes para evitar que grelem, perdendo peso e qualidade.
E então, mesmo bem lavadas, o que pouco adiantará pois os pesticidas costumam ser resistentes à lavagem, seguem para o forno com a casca onde os resíduos se acumularam -- o que não mata engorda, diz o povo.
Batatas assadas a murro -- sim! Mas novas, quando a pele é tenra e ainda não receberam cobertura de pesticidas. E apenas das minhas, que sei o que levaram, quando levaram.
Dir-me-ão: assim, não podemos comer nada! Discordo. Precisamos é de saber o que comemos. Os supermercados deveriam apresentar garantias de que batatas, fruta, hortaliças foram analisadas e estão isentas de resíduos químicos ou que estes se encontram abaixo dos limites internacionalmente fixados. E, para vos preocupar um pouco mais, acrescento que não são as grandes associações de produtores que estarão em incumprimento, mas, mais provavelmente, os pequenos agricultores que, mal informados, vendem os "bons" produtos do campo sem controle, especialmente nas regiões de minifúndio, em que estreitas leiras de horta pegam com pomares, nada impedindo que as hortaliças frescas vendidas na praça ou mercado pela manhã tenham levado banho de pesticida que o vizinho aplicou no seu pomar durante a noite, quando faz menos vento...
A fruta -- só como da minha, e na época -- fica para outra ocasião. Mas descasquem-na, se não for da vossa árvore. E não obriguem as crianças, como tentaram fazer em tempos a um dos meus netos na escola, a comer a fruta com casca.

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