sábado, 15 de outubro de 2016

Taxistas, Uber e o Admirável Mundo Novo

Agora que a guerra dos taxistas conhece uma trégua e os ânimos não parecem estar tão exaltados, atrevo-me a chamar a atenção para o cerne do problema.
A ameaça maior que pesa sobre os taxistas não é a que provém da Uber e afins, embora seja a mais imediata, porque, antes de mais, lhes desvaloriza os alvarás, a partir do momento em que deixam de ser indispensáveis para o exercício da actividade profissional, e não suporta idênticos custos comerciais, nem em pessoal, nem em impostos, licenças, etc.
A maior ameaça, e não é ficção científica, pendente sobre taxistas e TODOS os condutores profissionais de transportes rodoviários, públicos e privados, chega sob a forma de veículos sem condutor, em fase avançada de testes nos EUA e na Alemanha, por exemplo.
Se os particulares podem não querer, ou não poder, comprar um carro sem condutor, já os gestores das empresas de transportes de toda a natureza devem estar a esfregar as mãos de contentes com esta solução, previsivelmente mais segura, porque isenta do erro humano, e incomparavelmente mais barata.  E não duvido de que as grandes empresas do sector do táxi sejam das primeiras a aderir, dispensando os condutores que agora levam para a rua em protestos exaltados.
É a vida. Foi assim nos primórdios da Revolução Industrial, quando os operários em greve destruíam as máquinas que os enviavam para o desemprego, foi assim que profissões inteiras, algumas até medianamente prestigiadas, desapareceram. Por força do progresso tecnológico. Dactilógrafas, estenógrafas, relojoeiros…
Neste Admirável Mundo Novo, em que até as mulheres-a-dias se vêem ameaçadas por robots já acessíveis, que não se sentam a ver televisão no sofá na ausência das patroas, nem têm horário de trabalho nem salário, haverá cada vez menos trabalho, especializado e não especializado. Até que o ser humano, cada vez mais remetido ao papel exclusivo de consumidor e fruidor, seja, ele mesmo, dispensável.
A cada dia que passa, esse momento fica mais próximo. E os taxistas julgam poder adiá-lo, ou evitá-lo, dando uns pontapés nos carros da concorrência, por enquanto ainda com condutor…


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