segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Falácias

As fotos que publiquei recentemente no Facebook, preparado para dormir em condições quase espartanas no dojo de Paredes de Coura e a de grupo, após o treino de sábado de manhã, revelando a verdade, mentem.
É um facto. Estive lá, de sexta a domingo, e dormi no dojo, nas condições que as fotos sugerem. Fui, não por militância, antes por compromisso, não por desejo de aprender, antes por amizade ao meu companheiro de viagem e de percurso, que venho acompanhando há mais de 35 anos nestas andanças, e foi o meu primeiro professor de karaté. Fui, prevenindo que não treinaria: os joelhos tornam penoso qualquer treino de karaté da minha linha, e a antecipação das dores, o receio de agravamento do mal de que sofrem — ruptura do menisco interno com derrames, confirmada por ressonância magnética que o meu amigo, médico, me mandou fazer — levam-me a querer poupá-los. É que me permitem fazer a vida normal, incluindo os treinos aeróbios no ginásio (bicicleta, remo, elíptica, passadeira, com corridas curtas, não mais de 15 minutos, mas não suportam as posições baixas do karaté, joelhos a fazer força para fora, as rotações, a recepção do peso corporal, a força impulsionadora, frequentemente lateral, etc. 
Mas, mesmo assim, não resisti e fiz treinos muito limitados. Ora, lá diz o provérbio, quando a cabeça não tem juízo o corpo é que as paga. O que está a acontecer.
Vou em breve a consulta de ortopedia; mas receio que intervenção cirúrgica, sempre incerta nos resultados, não me traga de volta os joelhos da minha mocidade. E não seria sensato proceder à respectiva reparação para voltar ao mesmo — para um profissional do karaté, não há escolha; para mim, não se trata de prescindir das actividades físicas, mas de as mudar, adaptando-as à idade e estado do corpo.
Treinos que sacrificam joelhos, costas, fazem subir a tensão arterial, etc., não são para velhos; e envelhecer, com as limitações que os anos trazem, não deve implicar abandono da actividade física, mas adaptação. É o que tenciono fazer — é o que faço há uns três ou quatro anos: evitar o que me faz mal, insistir no que me faz bem. Proceder de outra forma seria dar razão a Jacques Brel: "Plus ça devient vieux / Plus ça devient con".
Assim, este treino em Paredes de Coura marcou o encerramento da minha prática oficial na linha Shotokan /JKA. Aquilo que nas fotos aparenta ser um acto de militância, foi, na verdade, a minha despedida. 
É a vida a seguir o seu curso inexorável... Um abraço para aqueles que ficam.

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