Foi no Inverno de 1983 que soube da existência de um clube de karaté próximo -- em Torres Novas.
Chovia torrencialmente quando abri a porta e pedi para entrar. Como resposta, apenas um aceno de cabeça de um dos dois cintos castanhos que treinavam juntos e prosseguiram o combate sem me darem a menor importância.
Eu, impaciente, tiritava de frio no pequeno pavilhão gelado, húmido, desconfortável, quase despido; num dos topos uma engelhoca para bater (makiwara, saberia muito depois), no outro uma cortina preta atrás da qual se mudava de roupa e um cartaz, imperativo e lacónico:
CULTIVA O SILÊNCIO
Quando finalmente terminaram o treino, uma boa hora depois da minha chegada, pedi para entrar para o clube. A resposta foi desanimadora: não me podiam dar muita atenção.
Mesmo assim, insisti. Admitiram-me, na certeza de que desistira depressa. Bem enganados estavam!
Li num post recente que encerrou em definitivo a vida de karatedo. Lamento que assim tenha sido.
ResponderEliminarPratico, quando posso, judo e aikido e não me imagino viver sem essas actividades. Pelo que, compreendo o que possa ter sentido ao aperceber-se da incapacidade para continuar.
Mas o "do", marcial e quotidiano, continuam a fazer-se diariamente, como muito bem sabe. Um guerreiro vive, algures, dentro de cada um de nós, seja isso em tempo de paz ou de guerra.
Um abraço cúmplice por talvez agora se sentir, no sentido literal do termo, de "mãos vazias".
João Andrade
Bom dia!
ResponderEliminarNão abandonei o karaté, encerrei a prática oficial, que é como quem diz, Federação e Associação (JKSP), por entender que aqueles treinos, adequados para jovens, não são compatíveis com a prática em idade avançada: fazem subir a tensão arterial, agravam lesões existentes, etc. Há outras formas de continuar ligado— arbitragem, direcção, etc., mas nunca me interessaram e não tenho tempo nem paciência para elas. A minha prática foi sempre, e é, egoísta. Treino para o meu aperfeiçoamento.
Quanto ao judo, suponho que, mais ainda que o karaté, se ressentirá do peso dos anos, pois hoje parece-me ter pouco a ver com a "via da suavidade" preconizada pelo mestre Kano; o aikido, parece resistir melhor ao avanço da idade -- vi vídeos de demonstrações com mestres de idade avançada, como Ueshiba, Alain Nocquet, etc. Mas, ponto relevante, neles os mestres não são projectados — são os seus discípulos, mais jovens. E as quedas frequentes tornam-se desagradáveis a partir dos cinquenta, falo por experiência, e podem refrear a prática.
Felicidades, persistência e alegria nesses treinos! Há que aproveitar enquanto se pode, mas sem deixar de estar atento a outras modalidades, tão ou mais ricas, como o Tai Chi Chuan, que podem ser praticadas desde que o corpo se mova e a cabeça funcione.
Olhe, estou a seguir religiosamente os planos de treino que os monitores do ginásio que frequento me fizeram tendo em conta os joelhos estragados, o que implica fazer coisas que sempre detestei: bicicleta, bicicleta elíptica, remo, máquinas... E estou a gostar e a sentir os respectivos benefícios na saúde.
Diziam os antigos mestres de karaté que a Via não tem limites. É preciso, no entanto, escolhê-la sensatamente.
Um abraço.
JCC