Ensinaram-me os anos a desconfiar de quem se chega melífulo, palmadinhas nas costas, sempre sorrisos, abraços, beijinhos — como o velho Malhadinhas, lembram-se? O do Aquilino, que por entre pias demonstrações de afecto ia enterrando a navalha nas tripas da vítima.
Ensinou-me a dura experiência que muitas pessoas boazinhas, caridosas ou solidárias, independentemente do seu posicionamento político, são na realidade interesseiras, más, egoístas, não raro velhacas e vingativas. Que se regem menos por padrões morais, que, aliás, distorcem segundo as suas conveniências, mas sobretudo pelo egoísmo, por impulsos e motivações animalescas. E depois, com os artifícios da linguagem, distorcem, explicam e justificam o injustificável.
Pior ainda. O nosso cérebro mamífero adora rituais, hierarquias, submissão, e resiste à aprendizagem. As ideias esgrimidas pelos adversários normalmente entram por um ouvido e saem pelo outro — sem deixar nada dentro.
Duvidam? Experimentem convencer, recorrendo a factos sólidos e argumentação lógica, um crente de que a sua religião é um embuste, um fanático de futebol de que o seu clube é beneficiado pelas arbitragens, ou um adepto das praxes da vergonha que é a existência de tais práticas, sobretudo em meio que se presume intelectual.
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