(in Gilvaz, o Homem das Cicatrizes)
“… a Teresinha, a única mulher que tivera nos braços, que tanta força de vontade lhe exigira para não ter também na cama, como ela desejava, como ele sonhava — depois de casados!
E às voltas no leito, recordava como durante todo um ano, o primeiro ano na Universidade, lhe rondou a porta, a cortejou incansável rua abaixo, rua acima, a soltar baforadas do charuto que apagava logo que contornava a esquina para o poupar, na esperança de que assomasse à janela, a seguia de longe, quando, sempre acompanhada pela mãe e pela criada, passeava pela cidade, sombrinha garrida a resguardá-la do Sol inclemente do nosso Verão. Negros cabelos, pele trigueira a reluzir tentadora como maduro figo lampo, olhar vivo, nada discreto, a provocar remoques constantes da mãe, sorriso constante de quem com tudo se maravilha, que as covinhas do rosto tornavam ainda mais cativante. Tudo nela sugeria, ao olhar romântico de Adolfo, o Portugal de província, são, feliz, satisfeito: como a Joaninha, de Garrett, porém sem olhos verdes nem rouxinóis a segui-la para todo o lado, também ela nem bela nem galante, igualmente pequenina, a despertar o desejo de lhe pôr sobre os ombros braço protector.
No segundo ano, admitido em sua casa, aceite o namoro pela família, trocavam beijos à socapa, nada castos, antes ardentes, que, pressentia-o, a sua Teresinha era vulcão adormecido, a aguardar por oportunidade para explodir em lava ardente. Resistia. Era menina de família, sua namorada, impunha-se-lhe o dever de a respeitar, de não cair em tentação quando ela o abraçava forte e sentia os mamilos duros atravessarem a roupa que separava a pele de ambos, a coxa carnuda que se introduzia despudoradamente entre as suas pernas como se quisesse confirmar a existência de algo escondido, a boca colada à sua em beijos lascivos, impróprios para donzela casta, como a queria...
Chegava a assustá-lo o desejo da moça; mas atribuía-o aos calores da virgindade, ao ardor da juventude, à paixão do primeiro namoro, ao sangue do povo, pujante, saudável, que lhe corria vigoroso nas veias e, em cada mês, quando jorrava, a acamava doente, com fortes dores de barriga, vómitos incessantes, empalidecida, aparvalhada até. Nessas alturas, por insistência da enferma, autorizavam-lhe visita no quarto, acompanhado embora pela mãe ou pela criada, jamais a sós:
— Que tens tu?
Ela, contorcida com dores, respondia por entre vómitos: — Coisa de mulheres...
— E o médico, que diz ele?
Teresinha encolhia os ombros: — Ora, o médico... “
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