Estudava então em Leiria, pouco, e estava alojado em casa modesta, velha, escura, tristonha, de uma senhora divorciada que recebia estudantes como hóspedes — sim, ao contrário do que hoje se diz por aí, o divórcio existia antes do 25 de Abril, embora se não aplicasse aos casamentos religiosos.
Adiante. O que interessa é que, sobre o soalho, ao fundo de um corredor, amontoavam-se centenas de livros, sem qualquer ordem. Para um miúdo viciado na leitura, afastado da família, num meio completamente estranho, foi um maná dos céus. Devorava um ou dois por dia, misturando Júlio Dinis com Caryl Chessman, o condenado à morte que na cela se tornou escritor, Thor Heyerdahl e a sua Kon-Tiki, Júlio Verne, Dumas, Salgari, Defoe, histórias policiais e de terror com os livros de cowboys e o Major Alvega...
Os dias voavam, as saudades não doíam tanto...
Naquele primeiro período, os resultados escolares não foram brilhantes.