quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Que fazemos debaixo do Sol?

Para quê fazer, por exemplo, água-pé, se o pessoal, depois de a provar, e mesmo que esteja muito boa, a não bebe, preferindo o vinho do ano anterior? E eu também...
Para quê escrever, se os editores nada querem comigo, se os leitores dos meus romances, exceptuando Entre Cós e Alpedriz, se contam pelos dedos das mãos — talvez de uma das mãos?
Não sei. Tal como não sei se a vida terá algum sentido. Ou se faz sentido preenchê-la de manhã à noite com inutilidades.
Nada de novo, nada de original nestas minhas medíocres reflexões — já o velho Eclesiastes o disse e muito melhor do que eu:
“E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do sol.” (Ec. 2.11)
Mesmo assim, enquanto as forças, que vão já escasseando, me não faltarem, enquanto a cabeça funcionar e os meus múltiplos interesses se não esvanecerem por completo, vou continuar. Porque sou teimoso, casmurro de tal forma que nem a mim próprio logro convencer-me e, mesmo sabendo da inutilidade do esforço, prefiro-o de longe ao arrastar da vida e da velhice em estéreis conversas de café, ao definhar tristonho, sem desejar partir, sem querer ficar.

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