O meu pai já tinha vendido a fruta com melhor calibre e aspecto. Mas na adega, que outrora fora de vinho, empilhavam-se caixas com pêras e maçãs miúdas, verdoengas, algumas com pedrado.
Terá sido sugestão de companheiro de copos, dos muitos que nas férias convidava para a adega nos quentes serões da aldeia:
— Não vendes esta fruta?
— A quem? Os compradores não a querem!
— Se a levares para o mercado de Pataias desaparece tudo enquanto o Diabo esfrega um olho!
— Mesmo a miúda?
— Tudo! Lá vende-se tudo!
Ei-lo que sobe ao primeiro andar, eufórico:
— Amanhã vamos a Pataias vender a fruta da adega.
Resmunga a minha mãe: — Só se fores tu! Eu não sou vendedeira de praça!
Ele insiste. Lá vende-se tudo num instante, barato que seja, evita estragar-se.
Discutem. E a Ana, a pôr água na fervura: — Vamos, avó, eu vou consigo.
Com a companhia da neta, a minha mãe cede. — Mas tu, insiste para vincular o meu pai, ficas também a vender.
O meu pai diz que sim. Mas logo à chegada ao mercado, a pretexto de ver a concorrência, desandou, deixando-as sozinhas, com as caixas de fruta miserável, à espera dos compradores. Que, invariavelmente, optavam pelas bancas bem apresentadas, com abundância de produtos variados.
Demorou a voltar. Deve ter parado nas barracas de comes e bebes, uma bifana e uma cerveja ou copo de tinto, larachas com vendedeiras, cavaqueira com vagos conhecidos.
Queixa-se a Ana da má apresentação do produto, mostra-lhe as bancas de sucesso.
Ele concorda com largo sorriso — concordava sempre com a neta.
— Mas tivemos azar com o dia. Isto hoje está fraco, os outros também se queixam do mau negócio.
Venderam dois quilos, que nem pagaram o terrado...
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