Já em nova, quando roubava os namorados às colegas, à minha irmã, pouco prazer tinha com eles na cama. Mas, mesmo assim, fazia-o para as arreliar, para lhes estragar o namoro, e dava-me tanto mais gozo quanto mais apaixonadas estivessem. E era tão fácil! Bastava dar aos rapazes o que eles queriam e elas negavam, ou fazer-lhe, ou deixá-los fazer, coisas que as namoradas recusavam alegando vergonha ou nojo! As fingidas! Queriam-nos pelo beicinho, sempre atrás delas como cães no cio, para fazerem inveja às outras, e eu, tirava-lhos como quem tira a chucha a uma criança, elas a chorar, a berrar, e eu a rir. Delas e deles, que depressa me fartava e os mandava à vida, desfeitos, a fazerem-me juras de amor eterno, promessas, que depois de uma tarde na cama comigo ficavam loucamente apaixonados. Foi isto que não contei ao outro Sr. Padre quando me confessei para o casamento. Veja lá o que não seria se chegasse aos ouvidos do meu marido! Não, estou divorciada há dez anos certinhos, o meu marido trocou-me por outra mais nova. E então, para me vingar, voltei a seduzir homens casados, nem me pergunte quantos ou quais, que me não lembro, mas foram muitos, uns atrás dos outros, para que as mulheres deles sofressem como eu sofri ao ser abandonada. Parei quando comecei a namorar um médico. Também ele deixou a mulher, dizia a toda a gente que tinha encontrado finalmente o amor da sua vida. Vivemos juntos três anos, boa vida, estragou-a o meu filho, então na adolescência, que começou a roubar dinheiro ao médico para a droga. E ele desconfiou, marcou as notas, brigámos todos, foi-se embora, pior ficou, que nunca mais arranjou mulher jeitosa como então eu era — ainda agora, não sou nada de deitar fora — anda por aí aos caídos, por entre engates e paixões platónicas por gajas que vão para a cama com todos menos com ele, mas lhe papam jantares em bons restaurantes. Sim, Sr. Padre, volto já aos meus pecados, mas olhe, os mais importantes já eu os confessei.
Já o padre recuperou o fôlego. E enquanto mentalmente esconjura Eu te arrenego, Satanás!, prossegue: Bem vês, minha filha, não te posso dar a absolvição. Antes, é preciso que te arrependas, que te penitencies. E não é só com rezas, são precisos actos. Antes de mais, deves procurar as autoridades e confessar os teus crimes...
Só se eu fosse tonta! Vou-me entregar para quê? Mais dia, menos dia, os velhotes morrem na mesma, até lá só andam a sofrer e a dar trabalho, é obra de caridade o que lhes faço, é certo que me dá gozo, muito gozo, por que haveria de deixar-me disso? E quanto ao que lá vai, lá vai.
O padre insiste. Antes de mais, deve deixar de matar pessoas, com ou sem risco de vir a ser castigada pelos homens. E não voltar a cometer adultério, desviando os maridos alheios.
Mas isso já raramente faço, Sr. Padre. Estão a ficar velhos, desinteressantes, e eu já não estou para os aturar, também já pouco gozo me dá enfurecer as legítimas.
Reza muito, minha filha, para que o Espírito Santo que ilumine, para que Deus te conceda a graça do arrependimento, que depois encontrarás tu as penitências redentoras. É a salvação da tua alma eterna que está em causa...
A sua escrita é rasteira e sem graça. Tudo muito mau.
ResponderEliminar