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sábado, 28 de fevereiro de 2009

Patranhas 100 Poesia, de Joaquim de Lisboa


De uma só assentada, Joaquim de Lisboa publicou dois livros, um de poesia (Patranhas 100 Poesia) e outro de contos (Trinta Tretas). A modéstia revelada pelos títulos é enganadora. São obras honestas, bem arredadas das "patranhas" e "tretas" a que, modestamente, os títulos fazem referência.
Em Patranhas 100 Poesia, o autor, que rejeita "alcandorar-[se] ao pedestal de poeta", pretendendo humildemente transmitir uma visão "Do [seu] mundo e das [suas] vivências", revela, para além dessa vivência sem a qual a arte resulta estéril, sentido de humor, transversal à obra, apurado sentido rítmico e formal, capaz de conjugar som e sentido tanto em géneros tão difíceis como o soneto como em formas mais livres, mas sempre bem marcadas pelo ritmo, como a primeira quadra do soneto "Dúvidas" bem evidencia:
"Quando eu era menino eu tinha certezas
Limpas e puras como a água das fontes
Eu via montanhas no mais raso dos montes
Profundezas de mar em quaisquer correntezas..."
Não sou crítico, nem um post de um blogue é o meio adequado para realçar o mérito desta obra despretensiosa, que justifica leitura atenta, lenta, saboreando-a poema a poema, como eu próprio acabei de fazer. Parabéns, Joaquim.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

"Volta à terra, que batatas dá"

Antigamente, quando a crítica era crítica, o politicamente correcto ainda não tinha sido inventado e as origens rurais um estigma que se queria esquecer, o dito volta à terra, que batatas dá, ou o "go back to the shop, Mr. John" era rude golpe nas ambições literárias do aprendiz de escritor ou de poeta.
A mim, não só me não ofende, como o sigo à risca logo que chegam os primeiros dias bonitos de Primavera, trazendo no chilreio animado das andorinhas ânsias de sementeiras à minha alma camponesa (...)
As batatas, semeadas (ou plantadas, conforme se entenda que os tubérculos são semente ou a própria planta) multiplicar-se-ão, se o tempo correr de feição e os amanhos lhes não faltarem, proporcionando enorme prazer, e logo na apanha, assadas a murro.
Pelo contrário, a escrita, bem mais cansativa do que as sementeiras, torturante correcção após correcção – corrijo centenas de vezes, na procura da palavra exacta, da frase certa, da toada adequada – não merecerá sequer um insulto da crítica...
(Post de 2007, foto da plantação de batatas de 2009)
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Plantando batatas

O Vergílio em acção
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sábado, 21 de fevereiro de 2009

Não resisto!

A remeter para o post de João Paulo Sousa, em Da Literatura. Palavras para quê?

domingo, 15 de fevereiro de 2009

O Miguel e o avô Zé

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O fotógrado

Nas mãos do Afonso, uma calculadora velha torna-se máquina fotográfica digital.
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O fotógrafo

É apenas uma calculadora velha -- mas o Afonso usa-a como máquina fotográfica.
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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Crítica suspeita


(...) Aproveitando o facto de estar num quarto de hotel onde só há canais espanhóis, trouxe há duas semanas o Lacrau para o ler, já que em Lisboa na vida normal é impossível ler um livro. Ora qual não é o meu espanto ao descobrir que não é um livro menor, não é um "livrinho", não é uma desilusão e muito menos um embaraço. Sempre disseste tanto mal dele que estava à espera de ler algo mesmo pobrezinho!
Não tendo a proximidade de Entre Cós e Alpedriz dos Montes, dos sítios e de algumas histórias e personagens já familiares, é um bom livro, bem escrito e que deixa saudades ao acabar.
O Lacrau pode não ser o filho preferido, mas não tem porque ser mais barato! Tem tanto valor como o outro!

Encara isto como uma refilice da tua leitora (e fã) atenta e exigente, como sempre.

Beijinhos

Sofia

domingo, 8 de fevereiro de 2009

sábado, 7 de fevereiro de 2009

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Invernia (Do lacrau e da sua picada)

Fora do alcance da borrasca, formigas humanas buliam no fluorescente das vitrinas, andares e andares de prédios de escritórios cheios de homens e mulheres trabalhando, esquecidos do domingo, afinal não são católicos, esquecidos do santo repouso, afinal são nipónicos, nasceram para trabalhar, o espanto é só nosso, que nascemos para o descanso, abençoado seja o nosso respeito por domingos e dias santos, que a todos obriga menos aos donos dos hipermercados; esses, estão perdoados, quem se sacrifica pelos outros dá provas de amor ao próximo e seu será certamente o paraíso — na terra e, talvez, no Céu.
O limpa pára-brisas do táxi, incessante, tentava clarear a visão no cinzento do dia ou seria já noite, néones rasgavam a apatia e explodiam em hieróglifos certamente apelando a algum prazer ocidental engarrafado, talvez a Coca-Cola, talvez a Pepsi, se há nesta história publicidade gratuita que seja democraticamente distribuída, afinal a porcaria é a mesma.
O táxi percorria andares de auto-estradas sobrepostas, cotejando arranha-céus, sob a chuva incessante. No banco traseiro, três raparigas deliciavam-se, debitando disparates e rindo perdidamente. À frente, a Lúcia, sentia-se desta vez algo deslocada, não que as colegas fossem desconhecidas, na profissão toda a gente acaba por se conhecer, para isso servem os numerosos encontros oferecidos pelas marcas. E após uma viagem interminável, tantas horas de avião, várias aterragens e descolagens rumo ao mesmo destino, todas acabam íntimas, se acaso o não eram já à partida.
Destoando da euforia geral, a Lúcia apenas sorri, recordando como muito pouco tempo atrás ela própria se deliciaria partilhando dichotes e risadas; agora não se entusiasma, estará a ficar velha? Inútil perguntar às colegas, a resposta seria afirmativa. Di-lo-iam em tom de brincadeira, mas sem nenhuma hesitação: já passara dos trinta, um filho crescidote...
Perguntou em mau Inglês ao taxista pelo Fujiama. Ele não pareceu perceber a pergunta e continuou o seu trajecto, indiferente ao que se passava no interior do táxi. As colegas, chorando até às lágrimas, traduziam para vernáculo:
— ''Queres ir para a cama comigo esta noite?'' Anima-te, rapariga, ainda consegues arranjar melhor!
Não se deu por achada; riu em solidariedade e repetiu a pergunta, desta vez dirigida às amigas: — Acham que se avista daqui?
— O quê, a coisa do amarelo? São assim... e a Tânia, a mais jovem, mostrava a ponta do dedo mindinho.
Desistiu. Talvez nem saibam o que seja o Fujiama, tudo o que conhecem do País do Sol Nascente foi o que viram há anos no Império dos Sentidos, se não fosse a televisão não haveria cultura geral. Ler mais

Invernia (Entre Cós e Alpedriz)

" Chuva e vento, vento, chuva e frio. Gemia água a terra, rebentaram as nascentes, os regatos cresceram até serem novamente rios, submergiram as pontes, matando mesmo a filha do Mouco. (...)
E um dia, inevitáveis como o Inverno que a todos atormentava, apareceram os pexins. Há meses que não podiam pescar, a fome apertava. E apertava-se a garganta dos camponeses ao verem aqueles homens valentes, que não receavam mar e temporais, pedindo esmola por amor de Deus. Os cavadores, também eles impedidos pelo mau tempo de ganhar o sustento, comoviam-se e cada um dava o que podia: um punhado de batatas miúdas, das mesmas que a mulher cozia para os porcos, uma tira de toucinho, uma ou outra maçã ou passas de uva, figos secos, uma fatia de broa e, sempre, um copo de água-pé ou um rijo mata-bicho, aquecendo o corpo e queimando as tristezas, que, bem o sabemos, nem dão de comer nem pagam dívidas.
Então, abrigados nas adegas, ouviam os pescadores horas e horas a fio enquanto fora a chuva batia nas paredes, jorrava dos beirados, corria pelas ruas, fazia transbordar as regueiras, transformando tudo num mar de água. As conversas corriam soturnas como o tempo, recordando os entes queridos levados pelo mar na longínqua Terra Nova, na costa de Peniche, às vezes até junto à Nazaré, mesmo à vista das famílias. E partiam, as ceroulas de flanela arregaçadas pelas canelas, os pés descalços, por poças e atalhos, mendigando pelas aldeias que atravessavam, guardando nos sacos de serapilheira que carregavam às costas a pobre dádiva dos pobres, a quem também escasseava o sustento para si próprios e para os seus; partiam, levando com que mitigar momentaneamente a fome à família enquanto os homens da terra permaneciam nas adegas e arribanas ou iam para a taberna beber fiado.
Como pregoeiro do mau tempo, entoando na gaita-de-beiços a triste melodia do inverno, chegou o amola-tesouras, tentando atrair freguesas com o mesmo assobio com que na Primavera se oferecia para capar os porcos, os mesmos alforges na bicicleta, de onde agora extraía um esmeril para afiar facas e tesouras, alicate e arame fino para consertar as varetas de chapéus de chuva. Também para o galego os tempos estavam maus, calcorreando estradas alagadas e caminhos de lama, a bicicleta à mão, sempre debaixo de chuva inclemente, para ganhar um cruzado aqui, outro ali.
Chegou o cesteiro, instalando-se ora numa adega ora noutra, e habilidosamente entrelaçava vergas fazendo cestos onde as camponesas transportariam ovos ou fruta, poceiros para as uvas na vindima, poceiras para a fruta que venderiam nas praças de Alcobaça ou de Pataias, poceirões onde os burros carregariam o esterco para as hortas quando o tempo levantasse. Ao contrário da formiga, trabalhava de Inverno, mas só receberia mais tarde, talvez apenas no final do Outono: — Pago-te quando vender um casco de vinho..., ambos sabendo que o mais difícil é receber, seja a jorna ganha seja o vinho vendido. (...)"

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Da Literatura: A invenção dos voluntários

Da Literatura: A invenção dos voluntários
Outro excelente texto de João Paulo Sousa sobre o ME e as suas ideias geniais.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

TeX


Amanhã haverá filmes.

TeX


Para a Sofia, que quer conhecer o novo membro da família: