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quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

A luta continua


Lembram-se da minha guerra com o MEO, motivada por um serviço de banda larga que não subscrevi? Sim, esse, de que me não facultam o contrato verbal ou telefónico -- pois se ele não existe! -- e a "prova" da entrega do equipamento é um documento com assinatura falsa, de alguém que desconheço?
Já apresentei queixa na PSP, acabo de apresentar outra na ANACOM, amanhã será na DECO... 
Vou até ao Papa, se for preciso. Por enquanto, só estou a exigir o cancelamento do contrato a que sou alheio, a devolução das verbas indevidamente retiradas da minha conta aproveitando débito directo para o M4O, entretanto cancelado, e um pedido formal, por escrito, de desculpas.
Por enquanto.
Mas a fúria que me dá esta vigarice, juntamente com o tempo perdido a tentar resolvê-la, agravada pelas respostas arrogantes e burocráticas do MEO podem, a qualquer momento, fazer-me querer ser ressarcido de incómodo, deslocações à loja MEO, tardes aí perdidas, serões como este estragados a reclamar daquilo que aparenta ser um caso de fraude, roubo de identidade, falsificação de assinatura, utilização abusiva da autorização de débito directo.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Bricolage

O que me falta em habilidade sobra-me em vontade. Assim, meti mãos à obra, desmanchei resguardo velho de polibã por se ter quebrado um dos vidros, e montei este, comprado no Aki. Não ficou nada mal. Levou três serões, que os dias são reservados para outras actividades.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Agradecimento

É duro, confesso, continuar a escrever romances na quase certeza de que nenhum editor se interessará pela respectiva publicação. Mas não é surpreendente, tendo em conta que os editores de ficção nacional se contam pelos dedos de uma mão (e sobrarão dedos) e enfrentam eles mesmos dura luta pela sobrevivência, a qual os aconselha a não arriscar em autores sem peso mediático -- e, menos ainda, no dizer do meu amigo António L. Pacheco, em plantadores de couves, de bigodinho. O que, aliás, já me tinha sido dito por um editor contactado depois do sucesso do Eu, Carolina, obra autobiográfica que se vendeu como sabonetes: "O que é que V/ quer, se não dorme com o Pinto da Costa, nem trabalhou numa casa de alterne?")
Note-se que me não me têm faltado propostas de publicação de editoras -- pagando. O que continuo a recusar, indiferente aos eufemismos que envolvem as propostas. A pagar, prefiro fazer edições de autor, que me ficam muito mais baratas, não cedo direitos, os livros são meus, faço com eles o que bem entender. E pouco me afectam os comentários escarninhos dos críticos da edição de autor, que partem da ideia implícita -- e errónea -- de que, se as obras auto-publicadas tivessem mérito, não faltariam editores interessados, esquecendo, por exemplo, Camões, Fernando Pessoa, cada um com apenas um livro publicado em vida, esquecendo aqueles que só foram publicados postumamente, ou os que recorreram sistematicamente à edição de autor, como, por exemplo, Miguel Torga...
Envergonhar-me-ia a auto-publicação se me dissessem que o aspecto gráfico dos livros é mau, que encontraram erros de ortografia ou de sintaxe, incoerências nas histórias, que as narrativas não prestavam, etc.
Porém, os numerosos leitores que ao longo dos anos me têm feito chegar o seu feedback, não raro por escrito, têm sido pródigos em encómios. Haverá, presumo, outros tantos que nada disseram, ou porque não gostaram, ou porque não leram; mas não é meu desiderato agradar a todos. E muito me apraz sentir o respeito dos pares, na certeza de que, oficiais do mesmo ofício, conhecem bem os truques, sabem onde procurar os pontos fracos como costumam fazer nas suas obras antes de as darem à luz pública, faltar-lhes-á como a mim a paciência para amadorismos.
Por isso me encho de orgulho -- tão legítimo como o do operário que terminou a contento tarefa penosa e exigente -- ao ler a recensão que Cristina Torrão, escritora radicada na Alemanha, teve a amabilidade de escrever no seu blogue e no Facebook sobre o meu romance Um amor inventado, e que pode ser encontrada AQUI.
Muito obrigado, Cristina, muito obrigado João Madeira, muito obrigado António Pacheco! Muito obrigado a todos aqueles que ao longo dos anos me têm feito chegar as suas opiniões, persuadindo-me de que vale a pena continuar a escrever! 

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O 35

Era casinha modesta da CP, em bairro ferroviário, divisões minúsculas, quintalzinho dividido por curto passeio de cimento até à capoeira e barracas, pequeno alpendre encostado à casa, sob o qual, aos domingos, almoçávamos em mesa tosca de madeira, resguardados do Sol no Verão, aconchegados por ele no Inverno, quando penetrava baixo, pouco acima dos muros caiados.
Era exigência da minha sogra ter a família reunida para o almoço dominical, a que não seria alheia a consciência das necessidades que todos nós passávamos -- raro era o mês em que não precisávamos de lhe pedir pequeno empréstimo, coisa de uns centos de escudos, pago logo que recebíamos o ordenado.
O meu sogro, rijo assentador, alto, seco, de força invulgar, rabugento por natureza, conformava-se com a vontade da mulher, sacrificava-se pelas filhas -- mas os genros? Franzinos, fracotes, sem apetência para a enxada de bicos, nem jeito algum para granjeios de hortelão -- um desgosto que o deve ter perseguido até ao final da vida, aos 85 anos. Ah, como deve ter lamentado que nenhuma das filhas lhe tivesse dado genro à maneira, um desses homenzarrões de força, capazes de assentar travessas na via sob estiagens e invernias, disposto a acamaradar com ele ao despegar do emprego para uns copos na taberna do Pescador, famoso pelo peixe frito, antes de ir amanhar até à noite a horta emprestada!
Nós três, com o apetite dos vinte e poucos anos, fazíamos orelhas moucas a remoques, deliciados com a comida da nossa sogra, cozinheira exímia: caldo verde ou sopa de feijão, frango assado, ou coelho frito ou guisado com ervilhas, feijoada, empadão... Quase tudo da casa, quase tudo cozinhado no fogão a lenha alimentado com madeira de velhas travessas do caminho de ferro, rachadas pelo meu sogro com a bita do serviço.
E tanto como a boa comida, apreciava eu o convívio alegre, por vezes povoado por pequenas quezílias, que nunca deram azo a animosidades sérias e duradouras como as da minha aldeia, onde frequentemente as famílias, pais e filhos até, se não falavam, zangados em disputa por palmo de terra nas partilhas, ou por águas, ou por direitos de serventia, quase sempre por mesquinhez, invejas, má língua.

A família cresceu e multiplicou-se. A velhice roubou à minha sogra as forças necessárias para preparar os almoços de domingo, que começavam na véspera, a matar e amanhar os galos ou os coelhos, a acender alta madrugada o fogão de ferro -- e é possível que a algazarra de tanta gente junta a incomodasse já, ou os protestos do meu sogro, excelente homem, mas sempre rude e áspero, a tivessem finalmente descorçoado.
Há muito tinham deixado o 35, desde então ao abandono. Dele ficaram-nos as memórias, dele fica-nos a tristeza ao vê-lo desabitado, ao abandono, degradado – nem CP o voltou a alugar, nem ferroviário algum aceitaria nos dias de hoje viver em casinha tão modesta, tão pequena, tão sem comodidades. E ficam as saudades desse espaço e desse tempo em que, fazendo minhas as palavras da minha sobrinha, autora da foto, “eu fui tão feliz.”,

FOTOS: (1) entrada, foto da Catarina; (3) pombo observa atento a minha mulher a arranjar alface; (2) neste almoço, lombo assado, seguramente bem melhor do que aquele que servem a Jerónimo de Sousa nas campanhas eleitorais.