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sexta-feira, 31 de julho de 2009

Like a bird on the wire

Like a bird on the wire,
Like a drunk in a midnight choir
I have tried in my way to be free.
Leonard Cohen, ontem, no Pavilhão Atlântico. E também Suzanne (link para versão de 1970).
Profissionalismo, boa equipa, público acolhedor, pavilhão cheio - mas, por muita simpatia que tenha pelo cantor e respeito pela sua idade, muitos bocejos da minha parte... É um óptimo entertainer, reconheço, eu é que já não tenho paciência para tantos clichés poéticos e musicais, tudo perfeitamente previsível, a criatividade perdida talvez nesses idos de 70, como sucedeu a tantos outros cujas palavras continuam, no entanto, gravadas na minha memória e não raro inspiram a minha escrita... É, certamente, um problema pessoal:
porque, mudando-se a vida,
se mudam os gostos dela.
Acha a tenra mocidade
prazeres acomodados,
e logo a maior idade
já sente por pouquidade
aqueles gostos passados.

(Camões, Super Flumina)

Raramente os mitos sobrevivem ao contacto com a realidade. Deve ter sido por isso que Edgar Rice Burroughs, que nunca tinha estado em África, após o sucesso de Tarzan recusou todas as propostas para a conhecer...

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Ainda as bebedeiras ou porque os (bons) escritores são caras chatos

O escritor é um "cara chato" quando sóbrio, como afirma o escritor brasileiro Marcelino Freire?
Depende. Para Oscar Wilde (O Retrato de Dorian Gray): "[o]s únicos artistas que eu conheci e que se mostraram encantadores como pessoas são todos maus artistas. Os bons artistas existem unicamente naquilo que fazem, pelo que são completamente desinteressantes como pessoas. Um grande poeta, um poeta maior, é uma criatura absolutamente destituída de poesia. Mas os poetas menores são perfeitamente fascinantes. Quanto piores são as suas rimas mais pitorescos parecem. O simples facto de ter publicado um livro de sonetos de segunda categoria torna um homem bastante irresistível. Vive a poesia que não consegue escrever. Os outros vivem a poesia que não se atrevem a realizar."
(Negrito meu)


Embebedar-se humaniza?


Detesto polémicas, falta-me o tempo e a pachorra para as alimentar, e depois não me parece de bom tom envolver-me em discussões em blogues de outros, que me merecem respeito. E aqui, por princípio, evito criticar ideias ou posições alheias. Mas nem sempre consigo resistir. Por exemplo, segundo Ciberescritas, o escritor brasileiro Marcelino Freire defende "que eventos literários como a Flip (que partiu de uma ideia da editora inglesa Liz Calder, fundadora da Bloomsbury) “humanizam a figura do escritor”: “O mesmo cara chato a quem você assiste numa palestra à tarde, pode encontrá-lo à noite, tropeçando, bêbado, pelas esquinas bêbadas do local.”

Ninguém me convence de que a triste figura que um bêbedo faz o humaniza. O que nos torna humanos são outras coisas.
(Imagem extraída de O Principezinho)

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O ponto de exclamação


Ou de admiração, também chamado de espantação, viu-se alvo de vários ataques incisivos e certamente demolidores, questionando a sua discrição. Reconheço: não é sinal politicamente correcto, surge frequentemente associado a textos declamatórios e foleiros... Mas daí a excomungá-lo ou, pelo menos, a evitá-lo, vai um grande passo.
Nem sequer me dou à maçada de invocar os nossos poetas e prosadores clássicos para defender o !, o sinal de perigo que anuncia "Trabalho na estrada" (que me desculpem alguma incorrecção, a verdade é que tirei a carta sem aprender o código e não me fez ainda falta, trinta e cinco anos depois sem um único acidente). Recorro à minha própria experiência. Em Do lacrau e da sua picada explorei sobretudo a vírgula, esse sinal rasteiro que no nome e na forma curvilínea evoca a víbora, como ela discreta e frequentemente fatal a quem não lhe sabe pegar . E o ponto final, neutro e assertivo. Já em Entre Cós e Alpedriz não estive com esquisitices: empreguei os sinais de pontuação que entendia fazerem falta onde faziam falta. É esta a minha posição: os sinais de pontuação dão um jeitão na expressão e o ponto de exclamação não é excepção!

domingo, 19 de julho de 2009

Estágio de Karaté em Paredes de Coura

Almoço n' O Conselheiro, o nosso restaurante. Sábado, 18-7-09.
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Estágio de Karaté

Paredes de Coura, sábado, 18-7-09. Almoço n "O Conselheiro", o nosso restaurante.
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Combate

Exame de dans, Jyu Kumité (combate livre): O Xavier (à direita) e o Mendes.
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Combate

Exame de dans: o Mendes (à direita) e o Xavier em Jyu Kumité.
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Combate

Potência, precisão e controle bem evidentes nos candidatos a 1º dan.
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Combate

Exame para 1º dan.
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Combate

Exames para 1º dan.
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Combate

Exame de candidatos a 1º dan: A Bárbara, 17 anos, merece o nome: Afinal, quem sai aos seus...
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Combate

Exames dos candidatos a 1º dan.
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Combate

Exame para 1º dan
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Combate

Kumité: exame para 1º dan.
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Estágio de karaté

Foto de grupo, sábado.
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Paredes de Coura, à noite

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Estágio de Karaté

Paredes de Coura, 16-7-09.
No Restaurante "O Conselheiro", prestes a jantar.
Da esquerda para a direita: Vilaça Pinto Sensei, o proprietário do restaurante, eu e Augusto Pais.
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quarta-feira, 15 de julho de 2009

CLAC ?


No meu tempo, aí pelos dezoito, vinte anos, significava "Comité de Luta Anti-Colonial". O meu, porque tive um, herdado de José Iglésias, que por sua vez o herdara de famosos actuais como Luís Marques, entretanto preso em Caxias juntamente com outros camaradas seus de comité, chamava-se "Guerra do Povo". Eu sei: o nome dá para rir, mas tinha 18 anos e os amanhãs cantariam em breve...
Depois conheci outro CLAC: O "Clube de Lazer, Aventura e não sei mais o quê" A sigla deve ter algo que atrai como o mel às moscas: não é que já há outro CLAC, novinho em folha?
Já agora, e apesar de pressentir mel e moscas, nem sequer voto em Lisboa... Como Léo Ferré, não quero ser acusado de falar em coisas que me não dizem respeito: "car on pourrait me reprocher de parler de choses qui ne me regardent pas".
(Lembram-se da canção?)
Foto: pouco antes de o Iglésias me recrutar para o CLAC Guerra do Povo, por volta de 1972. Logo que me tornei militante, cortei o cabelo e a barba para passar despercebido.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Que é um nome?

(Para o meu amigo Alfaro João, que ficou incomodado ao saber que no seu blogue tanto o meu nome como o link para este blogue estão incorrectos)
"Até lá, pelo seu cérebro enevoado como o de recém-nascido continuarão a desfilar imagens, sensações, fragmentos de histórias, que não raro se amalgamam numa outra maior — e as personagens desmenti-la-iam se a ouvissem, dizendo que pessoas, tempo e acontecimentos estão baralhados, mas isso não importa — que é um nome, que é uma data mais do que um açude efémero que tenta deter por um momento que seja Vida e Tempo? O passado mais longínquo e o presente mais recente fundem-se e vê novamente jovens rostos que morreram velhos — Aquele é o Mitadá, e o velho tem agora oito anos, e ambos ouvem a bisavó contar como fugiram dos franceses para a Mata da Castanheira e como por lá sobreviveram, era ela uma menina e os franceses emboscaram-nos: — Matamo-los?, perguntou um. — Não, deixa-os ir, são apenas crianças, respondeu outro, sem que nenhum dos miúdos estranhasse que a avó tivesse compreendido o Francês, é o deslumbramento da descoberta de um ninho de melro num vergueiro na cova da Silveirinha, e as avezinhas implumes e cegas abrem novamente os bicos enormes relacionando o ruído da folhagem afastada com a chegada dos progenitores, é a cabaça de água-pé que leva à boca em dia de estiagem, e a bebida faz novamente gluglu enquanto lhe escorre pelas goelas abaixo, é a satisfação do estrume nos poceirões da burra a caminho do chão-de-horta que depressa fará crescer enormes pepinos e tomates, patarecos e melancias e sempre, sempre, a água que corre livre pelas regueiras e que ele captura numa folha de couve para sorver deliciado matando a sede em dia de Verão escaldante...
Como o vento que em certos dias de Inverno sopra de todas as direcções, dando-nos a sensação de o ter sempre pela frente, assim são as suas memórias, surgindo sem causa, por vezes indesejadas, impondo a sua própria lógica, que, a bem dizer, não é nenhuma, pois talvez nem mesmo o Sol, que nasceu bem antes da humanidade e certamente morrerá bem depois dela desaparecer, saiba porque se levanta todos os dias a Nascente para se deitar a Poente.
Porque se lembra agora dos ninhos? Porque sofre novamente como quando os rouxinóis-pais o seguiram durante toda uma tarde, piando dolorosamente, por lhes ter tirado os filhos ainda implumes, sonhando, na sua ingenuidade infantil, criá-los e impressionar toda a aldeia ao ser o único possuidor de rouxinóis cantantes? Morreriam pouco depois, nesse mesmo dia, tendo-os antes abandonado já moribundos sobre um muro velho, na esperança vã de que os pais cuidassem deles e deixassem de o perseguir piando de forma tão dorida que a recordação lhe dói hoje como lhe doeu então.
Cai a noite sobre a aldeia, mas não cai ainda a noite sobre o Jaime, pondo fim ao seu definhar lento, qual candeia a que o azeite vai faltando, tresandando a ranço ardido e nauseabundo…"

Entre Cós e Alpedriz

quarta-feira, 8 de julho de 2009

O fotógrafo

Diz o meu colega Luís Galvão no seu belíssimo site Olhares Fotografia Online:
"O que me encanta na fotografia é poder eternizar um momento, uma expressão, um olhar, um local."
Este desejo de deter o fluir do tempo recordou-me imediatamente um excerto de um dos meus romances em que, curiosamente, também há um fotógrafo, embora à la minuta:

"Foi amor à primeira vista, seduzida tanto pelo seu ar desempenado como pelo romantismo da profissão: sempre feito à estrada, de terra em terra, envolto numa aura de magia, gravava momentos de felicidade que resistiriam muito para além da amargura quotidiana... Encantava-a vê-lo quando escondia a cabeça sob o pano preto, a mão esquerda de fora, alevantada, estalando os dedos para captar a atenção de noivos, ou crianças, ou mancebos em dia de inspecção: --- Olha o passarinho!

Todos riam da graça, e os seus sorrisos capturados pela objectiva perdurariam jovens, bem depois de as rugas lhes vincarem os rostos; logo de seguida, numa lata de atum, protegida por um vidro vermelho, o negro aclarava, a chapa, sempre agitada por uma pinça de madeira, ganhava paulatinamente contornos e traços, surgiam rostos e vestuário: --- És tu! Ficaste tão bem!, ouvia-se, logo que se adivinhava no negativo a imagem invertida de uma vida."

Netbook leitor de ebook?

Ao contrário de muito boa gente, espero que os leitores de ebooks se tornem acessíveis, populares, funcionais, não para substituírem os livros impressos, mas para os complementarem. Por isso, esta notícia, a que cheguei via blogtailors, me encheu de curiosidade. Será que os netbooks podem ser a solução?
(A quem possa interessar: os meus romances estão disponíveis para download gratuito no meu site. Por mais algum tempo, não muito, que tenho uma proposta interessante para os comercializar.)

Jesusalém e Jerusalém


Leio a crítica literária de Eduardo Pitta com grande prazer, mas este texto confundiu-me. Nele, o autor diz-nos que há dois romances intitulados Jerusalém, o primeiro de Gonçalo M. Tavares, o segundo de Mia Couto, ambos da mesma editora. Ora, tendo comprado recentemente Jesusalém, de Mia Couto, não resisti a comparar as capas (ver foto).
Ou Eduardo Pitta se confundiu, o que me parece duvidoso, ou o título do romance de Mia Couto foi recentemente modificado...
Quanto aos livros em causa, também eu considero Jerusalém o melhor romance de Gonçalo M. Tavares e um dos melhores que li nos últimos tempos. Não comecei ainda a ler o de Mia Couto.
Sobre a escolha do título de Gonçalo M. Tavares, também me intrigou até à citação bíblica "se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, que a minha mão direita perca a destreza..." (Creio que lá está: "a minha mão direita seque").
ADENDA: Afinal foi confusão de Eduardo Pitta, que o próprio já corrigiu aqui. Precipitação dos dois, primeiro ele, eu depois.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Despudor

Segundo O Público,
Duplica percentagem de reprovações a Matemática nos exames do 12º ano
"Para a tutela, este resultado traduz “menos investimento, menos trabalho e menos estudo” do lado dos alunos, na sequência da “difusão da ideia que os exames eram fáceis” por parte da comunicação social." Seria bom que alguém perguntasse se a tal ideia difundida precedeu a realização de exames. Parece-me que, para desincentivar os jovens do estudo, deve ter sido espalhada logo em Setembro. (Na verdade, começou há muitos anos atrás e acentuou-se claramente com esta equipa governativa - o Estatuto do Aluno é só uma gota de água no mar das asneiras.)
Como se aproximam as eleições, a ministra, bem recordada do peso eleitoral dos professores, desta vez não assacou as responsabilidades às escolas. Zurziu na comunicação social porque, bem o sabemos, a culpa é sempre dos outros.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Diz o Miguel

"Quais leituras, qual quê! Quero é o meu avô!
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domingo, 5 de julho de 2009

Um ano!

O Miguel, no seu primeiro aniversário, com os pais e o irmão - e já com muito sono.
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Fujam, moscas!

"Vou macar as moscas para não fazerem mal à avó Zé e à tia Sofia", disse o Afonso.
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sexta-feira, 3 de julho de 2009

Cata-vento

"Serpenteando por entre as colinas verdejantes, brilham as paredes brancas das casas das encostas, destoando uma ou outra no amarelo que foi moda tempos atrás, vermelhos os telhados, como a luz do poente --- e acima de todas elas, sobressai a torre da igreja, encimada por pára-raios agressivamente virado para o céu, servindo de eixo a cata-vento de ferro, em forma de galo orgulhoso, bico sempre apontado para barlavento, cauda larga para sotavento.
Do galo se diz que é inconstante como a aragem que o faz rodar, mas se o observarmos sem ideias pré-concebidas, dia após dia, ano após ano, melhor ainda, se o pudéssemos acompanhar vida após vida, concluiríamos, como eu próprio já concluí, que também ele tem as suas querenças, visto que, podendo apontar em qualquer direcção, o vejo de manhãzinha olhando para Nascente, como se também ele, na sua mudez férrea, quisesse saudar o nascer do Sol, ou o cacarejar que vem dessa direcção lhe animasse uma qualquer molécula orgânica, depositada pelos pardais oportunistas que o usam como poleiro, sujando-o indecorosamente...
Vendo-o assim imóvel, pensar-se-ia até que a ferrugem lhe limitou os movimentos na sua velhice, imobilizando-o nessa direcção; mas não, que quando a aldeia gela fustigada pelos ventos secos de Leste, de onde nunca veio nada que preste, o pobre coitado, não tendo como se resguardar, mais não pode que apontar-lhes o bico, virando a cauda para os lados do mar.
(...)
A mim, que raramente termino aquilo que começo, volúvel como o vento, de tal forma que já troco barlavento com sotavento, consola-me este amigo de outros tempos, testemunha muda de homens e de ventosidades, que tanto sabe e tudo cala, apenas preocupado como eu em afastar a cauda do desconforto, o olhar impassível fitando o infinito. Que ele me valha nesta narração, orientando-me para os protagonistas certos, inspirando-me a seguir a direito, sem desvios nem divagações, e, sobretudo, sem verborreia que se pegue ao texto como excremento de galinha às botas do criador. "
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Foto: Cata-vento e igreja de Casais da Igreja.
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quinta-feira, 2 de julho de 2009

Gestos

Na autoestrada, um automobilista provocava outro fazendo como Manuel Pinho. Surpreendentemente, o outro, sempre sorridente, mostrava-lhe a gravata. Já na portagem, o primeiro não resistiu:
"Ó amigo, sei que o tenho vindo a ofender, porque é que me responde apontando para a gravata?
"Ah, é que cada um mostra a prenda que a mulher lhe deu pelo Natal."