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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Emigração


O meu pai, sempre aventureiro, emigrou, tinha eu os meus doze anos. Antes, numa linda tarde outonal, à porta da adega, enchi-me de coragem e atrevi-me a tentar dissuadi-lo. Os riscos. A língua. A nossa pobreza. Se valeria a pena tentar a sorte nessa Holanda longínqua e desconhecida, para onde o passador lhe arranjara papéis, em vez da França, para onde todos os outros iam. Para minha surpresa, não me ralhou, antes me ouviu como se eu fosse adulto -- sempre se orgulhou de mim, mas disso só me apercebi mais tarde. 
Não nascera para agricultor. Ia à aventura. Se não resultasse, que o pusessem na fronteira quando o dinheiro se lhe acabasse. Toda a vida arriscara. Pouco tinha a perder.
E uma noite partiu, velha mala de cartão na mão, apesar dos meus protestos: -- Lá deito-a para o lixo.
Ansiosamente aguardávamos as suas cartas. O sofrimento atroz desses tempos em país estrangeiro, de língua incompreensível, inverno inconcebível, o dinheiro a acabar, o companheiro de aventura a regressar derrotado, as vigarices dos patrões que lhe não pagaram, as vezes em que chorou -- só muito depois o contou. As cartas chegavam às duas, três por semana, pelo Natal veio uma com folha de químico azul a esconder nota de dois florins e meio para os filhos, coisa de vinte escudos. Sobrevivemos com parcimónia indescritível, amenizada com a venda dos dois porcos, das batatas. Nos piores momentos, quando a minha mãe desesperava, a minha avó, a viver connosco por viuvez, convencia-a a carregarem a burra com o que havia na adega, o que a terra ia dando, couves, grelos, cebolas, alhos, feijões, e a seguirem para o mercado de Pataias, caminhada de quase dez quilómetros, a fazerem alguns escudos para o governo da semana.
Um dia, a carta contava que o meu pai tinha prestado provas para as oficinas da KLM, a companhia de aviação holandesa;  e depois, a grande notícia: entrara. 
A nossa vida melhorou. Com viagens de avião a preços irrisórios -- creio que pagava cinco por cento do bilhete -- passou a ser visita regular, a quem os poderosos do concelho pediam o favor de trazer garrafa de uísque, então caríssimo entre nós, gravador ou, os grandes figurões de Alcobaça, que o conheciam dos seus tempos de padeiro e confiavam na sua discrição, filmes pornográficos, quase inexistentes entre nós. 
E eu, que reprovara no curso de Serralheiros, finalmente convencido de que não tinha hipóteses nessa área, saí de casa aos treze anos e fui para Leiria fazer o Curso Comercial. Assim se acentuou a minha solidão, a viver como hóspede em casa estranha, em plena crise da adolescência -- nenhuma é fácil, menos o foi a minha, sempre avesso a facilidades -- em meio desconhecido, citadino, de costumes bem diferentes dos meus, rústicos e brutos.
Uma vez por mês, ia a casa, curto fim-de-semana, pois a camioneta gastava quase um dia, entre viagens e mudas, a percorrer os trinta quilómetros. A minha mãe primeiro, os meus irmãos depois, crianças de cinco de dez anos, juntaram-se ao meu pai, e só em Agosto voltávamos a ser família.
Duros tempos, que recordo agora, após conversa com amigos que tentam a sorte por esse mundo fora, na penosa vivência da emigração, mal suavizada pelo Skype.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Infância


Nasci pobre, em aldeia pobre deste país então pobre. Não passei fome: o meu pai era padeiro, tinha salário e um quilo de pão de segunda por dia. Não tive brinquedos, nem festas de aniversário, nem guloseimas. Nenhum luxo, nem sequer pelo Natal, em que, pela calada da noite, o Menino Jesus descia pela chaminé enfarruscada para deixar no meu sapato peúgas, roupa interior, talvez uns rebuçados. 
Não me sabia, não me sentia pobre: vivia num mundo alternativo, de sonho, em permanente devaneio, prolongando no quotidiano a fantasia dos livros que devorava, uns emprestados, outros requisitados na Biblioteca Itinerante Calouste Gulbenkian: eu era o Tarzan, rei dos macacos, o Robinson Crusoé de uma ilha deserta do tamanho da minha rua, buscava o tesouro dos piratas nas minhas Matas (quarenta homens na mala do morto / ió ió e uma garrafa de rum, cantava o papagaio empoleirado no meu ombro), fazia no meu Nautilus milhares de léguas submarinas, ou sobrevoava África de balão, quando não era injustamente encarcerado em masmorra, de onde me evadiria um dia para ser o conde de Monte Cristo da vingança... Batia-me em vielas lado a lado com D'Artagnan e os três mosqueteiros, fugia de casa com o Huck Finn, embarcava rumo ao desastre com Pedro, Pescador de Baleias, acompanhava Ismael e Ahab na caça insana da terrível baleia branca…
Professores falavam sem que os ouvisse, entediava-me nas aulas de Desenho, brincava nas Oficinas, em cada sábado formava no recreio para a ordem unida da Mocidade Portuguesa -- ou faltava a umas e outras, para andar de barco no Alcoa, pelo que no segundo ano quase reprovei, precisamente a Mocidade, a que só podia dar três faltas...
Todas as disciplinas contavam para a média, e eu, muito mais novo que os meus colegas, era um desastre a Canto Coral, uma nódoa a Desenho, um incapaz a Oficinas, um nulo a Ginástica (assim se chamava então), cujo professor dava também Trabalhos no Campo – duas horas seguidas a ditar apontamentos; embora mediano a Matemática, brilhava a Português, História, Ciências,  o que não chegou para a média de catorze, e perdi a bolsa de estudo que me permitira ir estudar. E ao terceiro ano, o primeiro do curso de Formação de Serralheiros, reprovei: 8 a Oficinas, 9 a Desenho de Máquinas -- nas restantes disciplinas, positivas bem razoáveis.
Vergonha tamanha que, se acaso saí de casa naquelas férias grandes, foi às escondidas. E nunca mais reprovei outro ano.  

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Desespero


Escrevo sobretudo nos cafés, alheado de quem me rodeia. Num deles, desperta-me conversa exaltada ao telefone de uma das empregadas: 
-- ... tenho três filhos, não podem passar fome por causa de um chulo de um patrão. Não sei, a mulher anda a passear por aí bem vestida, a ele e aos filhos não lhes falta nada, os meus filhos não podem passar fome. Às três, vou aí e não vou sozinha. Eu não sujo as minhas mãos, mas há quem o faça. 

Coitada. Uma simpatia com os clientes, apesar da paga miserável, tardia, regateada. Tempos atrás o companheiro da moça contava: sem leite para as crianças, fora exigir os salários atrasados. Conseguira cinquenta euros por conta...
Lutei dia e noite contra o regime salazarista, enfrentei a polícia nas ruas, conheci a clandestinidade. Mas, reconheço-o hoje, Salazar não permitia horários de sessenta, setenta horas semanais, salários em atraso, pagos aos bochechos como favor que se faz, como é favor o trabalho que se "dá" a quem dele carece e se sujeita pelo leite para os filhos.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Prática de Ji'in

Quando, em finais de 2010, comecei a preparar-me para o exame de graduação de San dan, perguntei ao meu mestre que kata escolher para favorita (Tokuigata). A resposta surpreendeu-me: Ji'in. Porra, pensei, logo essa, que detesto, para favorita? 
Mas como sou daqueles que entendem que o parecer do mestre é para seguir, apliquei-me seriamente no estudo e no treino de Ji'in. Um ano depois, já a apreciava. Hoje, sinto-a como minha. Muito há ainda para melhorar, muito suor ainda me há-de encharcar,  até a poder apresentar em exame, como este vídeo, gravado hoje no ginásio Il Korpo, bem mostra.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

As tripas de Deus

O progresso da ciência, e nomeadamente o da Física, tem permitido elaborar, a partir de estranhas evidências, especulações fantásticas sobre a natureza do Universo, algumas das quais parecem saídas da ficção científica. Por exemplo, a hipótese holográfica (Maybe, that is, the universe is rather like a hologram, Brian Greene) ou a de se tratar de simulação em computador.

Para os defensores desta última hipótese, seríamos, não ratinhos no laboratório divino, mas  personagens de um programa ou jogo de computador. Para minha surpresa, há um projecto para testar esta possibilidade:
E se o universo for apenas uma simulação de computador? Investigadores da Universidade de Bona, Alemanha, querem acabar com todas as dúvidas: afinal, o universo é ou não é uma simples simulação de computador?
Se os resultados forem positivos, continuaremos a valorizar cada uma das ilusões que nos fazem esquecer da nossa efemeridade -- por exemplo, essas que preenchem os telejornais -- ou conseguiremos suportar e assumir plenamente a virtualidade da nossa existência, respondendo às banalidades do quotidiano com palavras semelhantes às do Castelhano, do Auto da Índia, de Gil Vicente:
Hablo en las tripas de Dios
Y vos hablaisme en los gatos
!

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Testemunhos de leitor



Aos seis anos, antes do Natal, já a professora me punha de frente para as quatro classes, a ler o jornal, para assombro de matulões e matulonas, obrigados a frequentar a escola até aos catorze anos, se antes não concluíssem a quarta classe. Entrei com cunha do meu pai, para não ficar todo o dia sozinho em casa, e algumas das minhas recordações mais antigas são leituras dessa época, no suplemento Ria Connosco, do Diário Popular, como a de uma sereia, que então muito me intrigou. Não continuei durante muito tempo a ser o menino bonito da professora: pouco depois, parti uma cabeça com garrafada e acabou o meu estado de graça. O que pouco me importou. Sabia ler e devorava tudo o que encontrava com letras, os dois ou três livros que havia em casa, os outros nas bibliotecas itinerantes Calouste Gulbenkian. Lia às escondidas, nas aulas mais chatas (para mim, quase todas, excepto Português, História, Ciências), à noite, em casa, quando minha mãe me supunha a estudar fervorosamente -- a ocasião em que me apanhou dará outro post.
Em Leiria, para onde fui frequentar o Curso Comercial aos treze anos, era cliente diário dos quiosques que vendiam a 15 tostões livros usados e os voltavam a comprar por 10. 
Foi então que tive orientação mais consistente e vivi aquilo que considero ser a promoção ideal da leitura. Contá-lo é, antes de mais, exprimir novamente a minha gratidão a essa professora, Margarida de Carvalho, que nunca mais vi e nem sei se viverá ainda.
O sistema por ela implementado era assaz simples: não havia funcionários na biblioteca, a própria responsável (e professora a tempo inteiro) nos recebia: -- O que é que já leste? De que é que mais gostaste? Porque é que não gostaste? Que queres ler? Ah, sim? E porquê? Mas antes vais-me ler este, quando acabares conversamos e depois veremos se estás em condições de ler esse que queres.
A rebeldia da adolescência levava à biblioteca alguns que nunca, nem antes nem depois, leram nada, para provocadoramente pedirem livros que a professora entendia serem ainda inadequados. E eles: Assim não levo nada, se não me deixa ler o que quero. Depois queixavam-se da tirania da bibliotecária ao director de curso, até ao director da escola, se a ocasião se proporcionava. 
Graças à sua orientação, evoluí dos Cinco, Hornoblower e Sandokan para leituras que ainda hoje recordo (A expedição da Kon Tiki, À margem do tempo...), aprendi a apreciar a ficção científica e maravilhei-me com Simack, Bradbury, passei por Pearl Buck, devorei tudo o que por lá havia de Steinbeck, Hemingway, conheci Brecht, impressionei-me pela primeira vez (muitas outras se seguiram) com O Estrangeiro...
Só tive notícias desta professora no pós 25 de Abril: os alunos tinham conseguido saneá-la do cargo. Motivo? "Não nos deixava requisitar os livros que queríamos, pedíamos uma coisa, mandava-nos ler primeiro outra. " 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Indiscrições


No restaurante quase vazio, Gaspar oblige, apenas nós e, na mesa do lado, moço solitário, brasileiro pelo falar ao telemóvel. Escuto, indiscreto. Alguém o tenta reconciliar com a ex. O rapaz concorda que ela tem qualidades, enumera-as até.
Mentalmente intrometo-me: Não sejas parvo, pá, mulher de qualidades é bem precioso, a não perder. 
O brasileiro prodigaliza encómios, sintetiza-os em frase lapidar: É uma grande mulher...
(Oh parvalhão, e estás a almoçar sozinho e descansado, deixando escapar uma grande mulher?)
Justifica a inacção, como se tivesse escutado os meus pensamentos trocistas: -- Mas deixá-la lá estar uns tempos...
(Cretino. Uma grande mulher, de grandes qualidades, em pousio? Em que mundo vives, cara?)
Acrescenta, nostálgico: -- É uma grande dona de casa...
(Corre, estúpido, antes que outro mais expedito te ocupe o lugar. E se for boa na cama... Ai, estes rapazes de agora! Deve ser  falta de cultura: bem se vê que este nem conhece o Ne me quitte pas, nem leu Entre Cós e Alpedriz:
"... Tudo isso carregarás senão com satisfação, pelo menos sem revolta, bastando para tal pensares na ventura que hoje tiveste e que, certamente, te não será negada sempre que o mereceres.  É isso, homem, os tomates são as nossas grilhetas.")

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Alice Vieira e o Plano Nacional de Leitura


A inclusão de O Que Dói às Aves, obra para adultos de Alice Vieira, na listagem da Plano Nacional de Leitura (PNL) não é mero erro informático, como alega ingenuamente a responsável, antes evidencia uma realidade deplorável que o PNL teria por desiderato combater: em Portugal, não se lê. A começar por cima, pelos responsáveis pela elaboração das listas de livros recomendados, os quais nem sequer folhearam o livro de Alice Vieira. O que, antes de mais e num tempo em que se discutem as fundações, deveria fazer repensar a utilidade do PNL, analisando custos, obra realmente feita, estatísticas fidedignas de leitores,  reflectindo sobre a qualidade das obras recomendadas, apurando a cedência ou a resistência a pressões editoriais.
Nada vai mudar. O PNL é vaca sagrada. E leiteira.
Declaração de interesses: não, não li o livro de Alice Vieira. Mas não recomendei a terceiros a sua leitura.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Um mendigo digno


Ao oferecer trabalho a quem pede esmola, há a remota probabilidade de sermos surpreendidos. 
Há uns anos, ao anoitecer, toca-me à campainha cigano bem posto, franzino, na casa dos seus sessenta anos. Pedia ajuda -- dinheiro ou comida. Se sempre nego dinheiro, nunca nego comida. Mas, por via de algumas situações que já presenciei, antes sondei-o: não queria trabalhar. Sim, queria, mas em quê, se ninguém lhe dava trabalho? Pois eu tinha os muros por pintar, a horta feita matagal...
O homem aceitou prontamente. E eu, convencido da sua boa vontade, dei-lhe do que tinha: pão, uma lata de atum, maçãs e, acrescentei, cem escudos para beber um copo, que não vai comer isso a seco. 
No mês seguinte, reapareceu. Já não a mendigar, mas a perguntar pelo trabalho. Porém, eu receei que o homem se magoasse, ou caísse de andaime, ou, débil como era, lhe desse treco -- sem seguro, eu teria de arcar com as despesas e responsabilidades. Desculpei-me: esquecera-me de comprar as tintas, não valia a pena cavar o quintal, que era cedo para sementeiras -- e aviei-lhe outra sacada com pão, conservas, fruta, cem escudos para o tinto.
Durante muito tempo, foi visita mensal. Cumprimentávamo-nos como velhos conhecidos, eu desculpava-me por não ter ainda trabalho para ele, preparava-lhe o avio do costume, sem esquecer moeda de cem para a pinga, que tanta falta faz, sobretudo a quem sofre

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Coração de manteiga


Um AVC obrigou o senhor Joaquim a internamento no lar, incapaz de andar, de fazer a sua vida, de ser auto-suficiente. Homem forte, confiante, vendo-se aleijado para o resto da vida, desanimou. Sou um merdas, um esporra, desabafava. Mas bem cuidado, logo que Fevereiro trouxe dias bonitos, e o sentavam no alpendre a encher os olhos com verde, os ouvidos com a cantoria dos passarinhos que as empregadas também alimentam, ganhou cor, apetite, vontade, devolveram-lhe forças as saudades do filho único, a labutar em Angola, que viria de férias no verão. E contava primeiro os meses, as semanas depois, finalmente os dias: menina Paula, é já domingo que chega o meu Francisco...
Passou esse domingo, passaram os dias, as semanas, aproximava-se o mês do seu final: que terá sucedido ao meu Francisco, que ainda não pôde vir-me ver? Coisa grave, sem dúvida. Mas ele vem, que se não ia embora sem me ver, sem se despedir de mim, sabe-se lá se para sempre.
Coitado do senhor Joaquim, confidencia-me a directora, quem lhe há-de dizer que o filho já regressou a Angola, não quis vir visitar o pai, lares e hospitais fazem-lhe muita impressão, e falta-lhe ânimo para ver o pai entrevado... 

Coração de pedra

Plantava couves na minha horta quando chega cavalheiro junto do portão. Se eu era o dono. Confirmo. Ouço-lhe a lengalenga enquanto endireito as costas, limpo com o braço o suor que me escorre em bica da testa: pois ele era do Centro de Recuperação X e...
Interrompi-o: sabe, é rara a tarde em que me não vêm pedir dinheiro enquanto trabalho no quintal; mas nunca ninguém se oferece para me ajudar...
-- Então não quer contribuir...
Voltei às couves. Não é só preparar a terra, estrumá-la, plantá-las, regá-las. É preciso deixá-las protegidas da passarada, das lesmas e caracóis, ou de manhãzinha apenas restarão os talos.
E, enquanto o suor me cegava, ia magicando que muita gente bem intencionada concebe a solidariedade social como via de sentido único, ignorando a reciprocidade que deveria existir entre o receber e o dar. Quanto mais não fosse, por amor-próprio.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Destilações

A actualidade política nacional e a respectiva cobertura pelos media parece-me tão interessante, tão excitante como as reportagens da TV Guia sobre a Casa dos Segredos: rasca, à procura da intriga, a privilegiar a coscuvilhice, sempre a atiçar, a acossar uns contra os outros, como se todo o Portugal não passasse de uma matilha faminta de rafeiros raivosos.
Eu entretive-me neste 5 de Outubro a destilar, não o ódio que nos cega e queima, mas a minha aguardente. Quando a merda rebentar, como parece ser desejo geral, vamos precisar de um bom desinfectante, como a aguardente, que servirá também  para afogar a desgraça.