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sábado, 31 de janeiro de 2009

Orgulho

Queixa-se o meu amigo Augusto de que a leitura de fragmentos duros, violentos, de Do lacrau e da sua picada lhe estragou uma noite de sono, tendo-lhe, até, provocado pesadelos. (Em causa, a leitura do Capítulo 4. A menina do shopping -- para mim, também foi muito duro de escrever). Saber que um médico, habituado a lidar com o sofrimento humano, ficou impressionado com um texto de ficção, deixa-me orgulhoso, convencido de que fiz bem o meu trabalho: interagir com o leitor, fazendo-o viver a situação narrada.

"(...) E os que lêem o que escreve, / Na dor lida sentem bem, / Não as duas que ele teve, / Mas só a que eles não têm (...) (Fernando Pessoa, Autopsicografia)

O dado perde venda

Dizia a minha avó. Mesmo sabendo-o, ofereço -- gratuitamente -- versões em pdf dos meus romances. Poderia tentar vendê-las num dos numerosos sites de comércio de e-books. Mas creio que os portugueses dificilmente comprarão e-books, pelo menos enquanto os respectivos leitores não se popularizarem, o que dificilmente acontecerá ao preço a que estão.
A minha oferta não é desinteressada; deve ser vista como uma tentativa de chegar junto dos potenciais leitores e de os seduzir, eventualmente, para a compra dos romances em papel. Mesmo que tal não aconteça, se me lerem, já terá valido a pena.
Do lacrau e da sua picada e Entre Cós e Alpedriz podem ser descarregados no meu site. Não há, de momento, quaisquer restrições. (Um mail a informar-me do download seria simpático.)

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Dramas da escrita

Por várias vezes me referi ao sofrimento que a escrita provoca, repetindo, aliás, o que autores de todos os tempos vêm dizendo: é um suplício corrigir incessantemente, procurar que as histórias caiam com queda, caso e cadência, que as palavras adequadas ocorram pela ordem mais conveniente, perder-me durante tempos e tempos em becos sem saída que, antes, pareciam avenidas grandiosas...
Há, no entanto, um sofrimento a que nunca aludi: aquele que resulta da necessidade de escrever sobre matérias desagradáveis, pela simples razão de precisar delas . Foi o caso, por exemplo, das cenas de violência conjugal em Do lacrau e da sua picada ou do capítulo IX. Sol de Inverno, em Entre Cós e Alpedriz. Neste último caso, um velho, paralisado por uma trombose, vive a sua agonia... É muito duro colocar-me na pele destas personagens, sofrendo com elas, desesperando como elas -- a narrativa exige-o, mas eu resisto, protelando enquanto posso a escrita destas passagens. (Embora, depois de concluídas, não raro me orgulhe do resultado conseguido, com a sensação de ter dito o que queria, da forma como queria.)
Pois é, "quem quiser passar além do Bojador, tem de passar além da dor..."

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Do lacrau e da sua picada (início)

"Eis Setembro, que chega fresco e risonho como a Primavera, após outro Agosto infernal, de calor e de incêndios. Não nos iludamos. Nada voltará a ser como dantes: Setembro jamais será Abril, mesmo que este Sol e esta luz nos queiram convencer de que a Primavera dura todo o ano e a juventude é eterna, mesmo que a cidade pareça a mesma, com o castelo indiferente à passagem dos séculos e o Lis correndo sempre ao encontro do irmão gémeo, para juntos procurarem o mar, sonho de todos os rios.
Repare-se naquele casal que passeia, braço dado, pelas ruas antigas..."

Foto: Leiria

domingo, 11 de janeiro de 2009

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

As Plêiades

É um dos romances que tento escrever. Eis o início:

Manifesto
Aquilo a que já quis é tão mudado,
Que quase é outra cousa, porque os dias

Têm o primeiro gosto já danado.

Camões

Anda o Mundo conturbado, atormentado por cataclismos, guerras e crises económicas, e o país angustia-se, deprime-se, discute, toda a gente preocupada com a Euribor, o Benfica e a crise na educação. Só eu ando alheado de todos esses problemas e em vez de fazer contas à vida, peregrinando de banco em banco na renegociação das dívidas, agitar semanalmente lenço branco pelos estádios, me manifestar, juntando-me ao coro que entoa o “Está na hora / de a ministra ir embora…”, atormento-me com outras ralações, que aos mais apenas despertam sorrisos de comiseração: já é outra vez Natal e ainda há pouco era Verão --- os dias, as semanas, os meses, as estações e os próprios anos passam sem que os consiga afrouxar um pouco, o prazer, quando o há, tem já travo amargo, que o Inverno se aproxima inexoravelmente…

Como o Cão, farejador que busca Sentido para o que É, enquanto segue o amo pelo infinito do firmamento, por entre poeiras, planetas, estrelas, constelações e mitos, assim sou eu --- outro que busca o arremedo que seja de uma resposta que permita, senão resolver o puzzle da vida e dos seus mistérios, pelo menos encaixar uma qualquer peça neste quebra-cabeças; como me poderia então comprazer com as coisas fúteis, aceitar viver um dia, uma hora que fosse, reduzindo o meu destino a um abaixo-assinado, a uma reivindicação, a um protesto, como se o transitório fosse perene como as estrelas, repetitivo como a Noite, cíclico como as Estações, cumulativo como o Tempo?
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Escrita em dia

Tento escrever dois romances -- sim, dois, quase em simultâneo. Não foi, evidentemente, premeditado: durante mais de um ano tentei concluir, ainda sem sucesso, Um amor inventado, inspirado no poema A Invenção do Amor, de Daniel Filipe. Entretanto, surgiu e pôs-se à frente, malcriadamente, uma narrativa na 1ª pessoa, absolutamente contemporânea, inspirada em versos de Álcman, o primeiro poeta ocidental conhecido, que li na tradução de Frederico Lourenço:
"As Plêiades (...) / sobem através da noite imortal / como a estrela Sírio e lutam contra nós."
Pois é: a poesia fica a martelar-me na cabeça, obrigando-me a passar à escrita.
Tendo perdido a fé ingénua na limpeza dos raros concursos, que exigem o anonimato dos autores, mas nada revelam quanto aos critérios de selecção do vencedor, e não receando o plágio, atrevo-me a mostrar o início, mas não o final, de cada um desses romances.
Por razões de legibilidade, cada um deles terá o seu próprio post. Trata-se, obviamente, de rascunhos, que serão constantemente corrigidos, alterados, eventualmente até suprimidos na versão final. De igual modo, os títulos poderão ser ligeiramente modificados, embora as palavras-chave -- amor inventado num, Plêiades noutro -- se mantenham.