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sábado, 31 de julho de 2010

Silly season

Cada vez mais silly, como comprova a recente entrevista da actual ministra da educação em que se propõe acabar com os chumbos -- os quais têm, até ao final do 3º Ciclo, uma expressão quase simbólica: é preciso um aluno esforçar-se muito para conseguir reprovar, mesmo com 8, 10 negativas.
Mas a ministra, descontente talvez com a pouca atenção que tem sido dada à sua pessoa desde que o PEC se tornou gente e Portugal passou a ser governado lá de longe, da Alemanha, em vez de ir a banhos, refrescar ideias, para esclarecer coisas importantes como o ponto da situação relativamente à TLEBS, ao Acordo Ortográfico, aos novos programas, aos mega-agrupamentos, preferiu avançar com a medida que, de uma vez por todas, resolverá os problemas do ensino. Simplesmente, acabando com ele. 
Vale a pena ler isto, no De Rerum Natura, de onde extraí, com a devida vénia, a imagem à direita.
Ah, o senhor Albino, eterno pai (não haverá outros pais neste país?) apoia entusiasticamente a proposta
Lá em cima está o tiro-liro-lito
Cá em baixo está o tiro-liro-ló
Juntaram-se os dois à esquina
A tocar a concertina, a dançar do solidó.
(Amália)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Lagos, Algarve

Com muitas cegonhas e sem turistas. Aqui.

domingo, 25 de julho de 2010

Ave de arribação

Lagos, 25-07-10

Punhetas a grilos

Desde 2005 que, com maior ou menor regularidade, vou concorrendo aos raros prémios literários a que posso: uns são para menores de 35 anos, outros para moradores no concelho, nuns anos contemplam a poesia, noutros a prosa, a extensão dos trabalhos, mínima e máxima, nem sempre é compatível com o que tenho para oferecer...
E, salvo a menção honrosa que muito me honra, nunca o meu trabalho mereceu qualquer prémio. Fosse eu outro, mais susceptível, menos confiante, escrevesse à espera de glória, honrarias, dinheiro, e  teria já desistido. Passaram anos desde que tive a pretensão de “assumir-me” publicamente como candidato a prosador; colecciono derrotas, acumulo desinteresse de editores, enfado de críticos – e, uma ou outra opinião simpática de escritores, muitas de leitores, que me reforçariam a vontade de continuar a escrever se ela dependesse da opinião de terceiros, o que não é o caso. (Como costumo dizer, escrever não é um prazer, há formas muito mais agradáveis de passar o tempo; é cruz a carregar.) 
Esta experiência em derrotas, para além do azedume, sempre útil por dispensar o vinagre no tempero das couves, levou-me formular a seguinte hipótese invejosa, certamente para satisfazer o meu ego:
(1)    Santos de ao pé da porta fazem milagres. Por exemplo, na Galiza ganhou ao meu Lacrau, de que muito me orgulho, um galego com uma história sobre um filibusteiro francês que adorava matar espanhóis. Na Amadora, ganhou um estreante, colaborador de jornais locais. No Funchal ganhou uma funchalense, e pela segunda vez. No da FNAC o meu Entre Cós e Alpedriz perdeu para uma tal Bibi com dois élles no apellido – aparenta pertencer a família illustre de jovens pollíticos em carreira ascendente... O mais curioso é que, embora muito me tenha esforçado, nunca consegui ler nada dos felizes vencedores. Com esta excepção:
 O Novíssimo Testamento. Graças à blogosfera, tive a possibilidade de encontrar aqui  este excerto, certamente exemplar:
«Djédji nunca fez caca na vida, nem sequer nos cueiros, como todos os nenés, mamou, tomou biberão, sopa na colherzinha, sumo na caneca, comida no prato, mas nunca fez, simplesmente aliviava-se arrotando fatias de luz como lua nova, acocorava-se como uma rã e, por cada coaxar, expelia uma lua, várias luas, que depois se amontoavam no céu como se fossem bolas de sabão, e sempre que o fazia, sobretudo depois das refeições, Djédji punha os cães da vizinhança a uivar como lobos aluados, à parte isso, Djédji foi durante toda a vida um relógio vivo para a comunidade, arrotava sempre na hora e, com o tempo, bastava que os cães começassem a ganir para o capataz anunciar a suspensão da empreitada e a hora da merenda, o sacristão badalava os sinos, no quartel rendia-se a guarda, no chafariz jorrava água das torneiras.»
Estou esclarecido: jamais ganharei o que quer que seja se não escrever histórias de caca. Ah, mas isto vai mudar: da próxima, concorro com estória em que o Padre Santo sodomiza a guarda suiça enquanto os cardeais literatos batem punhetas a grilos. Até o Nobel (atenção : NÓbéle!) me darão.

domingo, 18 de julho de 2010

Ni dan

Já em casa, exame feito, é tempo de repouso para, em Setembro, voltar à prática . Porque "o karaté é como uma panela ao lume: só ferve enquanto tiver fogo debaixo." E esse fogo, longe de esmorecer com a passagem dos anos, com caminhos escusos e becos, está cada vez mais vivo.
A todos, companheiros de estágio, examinadores, examinados, adversários, àqueles que em Paredes de Coura me presentaram com a sua amizade, àquele que tanto contribuiu para que eu lá estivesse, orientando-me, preparando-me, e grave sequela impediu de também estar presente, o meu muito obrigado.
(Fotos: aqui.)

Estágio de Karaté


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sexta-feira, 16 de julho de 2010

Exame de karaté

Para mim, a velhice não é um posto, como se dizia na tropa no meu tempo. E os anos não servem de desculpa para fazer ou não fazer. Por isso, domingo estarei em Paredes de Coura, submetendo-me a exame de graduação e serei, seguramente e de longe, o mais velho dos examinados.
Como sempre sucede, à medida que a hora da verdade se aproxima, aumenta  minha consciência dos erros que ainda não consegui corrigir e o receio de falhar, apesar de ter treinado muito e duro -- mas nunca é o suficiente. Mas prefiro falhar tendo tentado, a falhar por não ter coragem de tentar.
(FOTO: final de Jion, tokui kata (a favorita); a antagónica é Empi.)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

A literatura do século XXI

Rentes de Carvalho, lapidar como sempre. Subscrevo todas as afirmações, só lamentando não as ter eu escrito. Por estas, as que ele menciona, por outras razões, cada vez me agarro mais aos clássicos. Nos últimos tempos, li ou reli A Brasileira de Prazins, Novelas do Minho, O Senhor do Paço de Ninães, O Mandarim, A Relíquia, Os Fidalgos da Casa Mourisca, O Pranto de Maria Parda, e ando a deliciar-me há uns bons tempos com o D. Quijote, em castelhano, no original. O Bolano está para aí numa das minhas estantes à espera de maré (li umas páginas, blá...), o nosso amigo Murakami dorme noutra à espera de quem tenha paciência para procurar o seu carneiro, como dorme, deitado para poupar espaço,  o tão badalado As Benevolentes...
Também a poesia contemporânea me não seduz: sem ritmo, sem sentimento, opaca e densa como um buraco negro, afigura-se-me por vezes como um  amontoado de tretas que relevam do puro ócio. E barroco por barroco, prefiro o original.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Karaté

Estágio e exames de graduação. Sábado e domingo, em Paredes de Coura. Direcção: Vilaça Pinto Sensei. Desta vez vou só. Os compagnons de route, por razões diversas, a que não é alheio o Tempo e o seu desgaste, desta vez não se fazem comigo à estrada. Enfim, a Via é solitária.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Ritual dos pequenos vampiros

Começo, também eu, por roubar: o título é de Cardoso Pires, mas infelizmente ajusta-se tão bem à realidade actual que não hesito em me apropriar dele. Começando pelo princípio: acaba o futebol e recomeçam as notícias sobre roubalheira, desmandos, despesismo, desgoverno.  E a oposição afia já dentes gulosos, impaciente pelo poder que tarda. Ah, não nos iludamos, os pequenos vampiros não se tornarão vegetarianos: uns abancarão festivamente à mesa do poder, outros deixá-la-ão pesarosos, talvez para uns "cargos" internacionais ou outros remunerados a peso de ouro na gestão das empresas do 'sector estratégico do estado', ou de privadas agradecidas -- e há os outros, a quem restará um lugar de deputado para o folclore, o espectáculo, os artifícios de retórica, as piadas sem graça, as graçolas que a nós, que sustentamos esses (e essas) cómicos falhados, nos enjoam.
A Oeste, nada de novo (Erich Maria Remarque): vampiros, pequenos, grandes, e os seus rituais. E, sempre, o sangue fresco da manada.

domingo, 11 de julho de 2010

Na mouche

Certeiro, como sempre:
"Existe um domínio quase absoluto do Estado sobre a educação. Uma espécies de soviete supremo na 5 de Outubro que funciona com o apoio de vários sovietes locais e que propicia o desenvolvimento de uma nomenklatura que se infiltra e domina a educação em Portugal."
Nuno Crato, "Notícias Magazine", 11-07-2010

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Grande seca!

Diz o primeiro ministro que " todo o país ficou coberto por infraestruturas capazes de responder a qualquer período de seca." Será que ainda não se deu conta da seca que é ter de o ouvir diariamente e há tantos anos? Tanto tem para dizer e tanta disponibilidade para o fazer! Será que gosta de se ouvir a si próprio? E ainda não aprendeu que a natureza é imprevisível? Que o silêncio é de ouro?

A escola-prisão

Confrange-me ver como a escola, que sempre adorei, se está a transformar numa prisão para os jovens, obrigados a nela permanecer de manhã à noite, impedidos de sair por cartões electrónicos, vigiados por câmaras... Não é ficção científica negra, não. Antes fosse. É a realidade que espera os nossos jovens já no próximo ano lectivo: enclausurados todo o dia, emparedados em salas de aula em blocos de noventa minutos, com três direitos fundamentais: sentar, ouvir, estar calados. Para conviver, para namorar, ou o fazem na sala de aula, ou terão de rentabilizar os intervalos, escassos e exíguos, dividindo-os entre as necessidades fisiológicas, a alimentação e as relações humanas.
Não cometeram qualquer crime. Se o tivessem feito, teriam direito a liberdade condicional, regime aberto, pulseira electrónica. Mas estão condenados a prisão das 8H15 da manhã às 18H05 da tarde, obrigados a ver professores até ao vómito -- tudo isto em nome da segurança deles próprios!
Quem se admirará se a indisciplina se tornar explosiva?

terça-feira, 6 de julho de 2010

Canícula

42 graus à sombra. 30 agora, meia-noite. Recordo uma cantiga da minha avó:

Eu cá sou como o gaio
De dia fecho-me em casa
E à noite é que saio.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Jornadas parlamentares do PS

Pelo jeito, parece que o PS se prepara para ser oposição -- atitude sensata, já que não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe. Ouvi Francisco Assis arengar brilhantemente durante uns minutos -- para mais, falta a paciência --  sobre a importância dos valores de esquerda e o papel dos partidos socialistas na construção do bem-estar social e na evolução social da Europa e de Portugal. Só que Assis não é economista, ou saberia que não há almoços grátis. A prosperidade a que ele se refere, de que ainda gozamos aliás, fez-se à custa do Terceiro Mundo, escravizando-o, explorando-o, pilhando-o. Ainda hoje, a população desses países não é dona nem senhora das suas riquezas naturais  -- petróleo, gás natural, produtos agrícolas, droga, prostituição até, pelo que dos rendimentos produzidos poucas migalhas recebe. E a população, já mais ou menos convertida ao American Way of Life, que primeiro contagiou a Europa, quer também o tal estado social, carros, férias, gadgets.
A nós, falta-nos o emprego com a deslocalizacão de fábricas, sobretudo o pouco qualificado -- e aquele que existe é disputado com os imigrantes que importamos. Falta-nos o capital, que arribou a novos paraísos onde a mão-de-obra é barata, os direitos dos trabalhadores inexistentes, o meio ambiente para poluir livremente, a corrupção lei, o potencial de crescimento consumista explosivo.
Deveríamos perceber que o modo de vida actual é insustentável porque sempre se baseou na exploração de uns povos por outros e com a globalização o peso da ignorância como forma de perpetuar a escravização diminuiu. Eles, os chineses, os indianos, os filipinos, os sul americanos, os africanos, têm os olhos mais abertos. Sabem que "...os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos, mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande" (Vieira). E cansaram-se uns, começam a dar sinais de cansaço outros -- de ser pasto de tubarão.
Deveríamos voltar a produzir a parte possível daquilo que comemos (e não faltam campos ao abandono),  queimar calorias no saudável trabalho físico e não apenas em ginásio, gastar cá dentro  e naquilo que produzimos o nosso dinheiro... (Estas coisas penso eu, “que falo, humilde, baxo e rudo, / De vós não conhecido nem sonhado).
E mais não acrescento, que tenho as batatas para arrancar, o post vai já longo e faltam-me qualificações – essas qualificações que legitimam as remunerações escandalosas das cabeças geniais que arruinaram deliberadamente a agricultura, a indústria, a produção nacional e nos conduziram ao ponto em que nos encontramos: às sopas da mãe CEE.
Quanto ao discurso de Assis, parece choraminguice de carpideira no funeral do ideal socialista, construído como alternativa a esse espectro que ameaçou a Europa durante quase um século -- o comunismo. O brilhantismo das suas palavras só me faz recordar Piaf e Les mots d’amour:
Je dis des mots
Parce que des mots,
Il y en a tant
Qu'il y en a trop...
(FOTOS: clicar para ampliar)

domingo, 4 de julho de 2010

Aniversário

Do Miguel, também ele nascido a 4 de Julho. Dois anos -- como o tempo passa!

Boa vizinhança

Levantei-me de madrugada para abrir as janelas e tentar refrescar a casa -- para acordar com ela empestada por fumo. Não, não é incêndio florestal. É só um vizinho que adora fazer queimadas ao domingo de manhã, rádio em altos berros, para que todo o quarteirão se embeveça com música pimba. Sim, ele sabe que é proibido queimar (a GNR já lho recordou), deve ser até o que mais gozo lhe dá.
Dá para parafrasear o Apocalypse Now, agora sem napalm: Adoro o cheiro a queimado pela manhã. Cheira-me a... a... vitória -- sobre a lei , o bom senso e a boa vizinhança.

Exame de consciência

Dantes escrevia sobre homens e mulheres comuns, que neste país sofrem o calor e o frio, a chuva, o nevoeiro, as trovoadas, desconfortos e privações, enquanto amam, trabalham, vivem. Mas descobri que os críticos preferiam neuróticos, tarados, desgraçados, famílias destroçadas e amarguradas que inexoravelmente condenam o protagonista a um final infeliz...
Então fiz longo exame de consciência e passei a escrever sobre homens e mulheres comuns, o desemprego, a mulher que persegue uma ilusão de amor, o calor, o frio, a chuva, o nevoeiro, as trovoadas. E, porque tudo se repete num ciclo quase imutável, dou por mim a dizer: já escrevi sobre isso. E acrescento  imodestamente: até nem me saiu nada mal.