Há ministros e ministérios de que apenas se fala quando há problemas. Como a Educação: só quando as asneiras são reiteradas e assumem proporções escandalosas tem lugar nos espaços noticiosos. Foi assim com as colocações de professores, com os exames nacionais, com a TLEBS, agora com a avaliação de desempenho e com o Estatuto do Aluno… Mas hoje foi um exagero: vi primeiro a minha ministra numa conferência de imprensa à saída de um Conselho de Ministros extraordinário, sobre Educação, e depois, há pouco, entrevistada por Judite Sousa na 1. Confesso que não gosto de a ver e, menos ainda, de a ouvir. Protagonismo a mais para um cargo que deveria ser discreto, carecendo de mais obras e de menos conversas. Como as primeiras, certamente motivadas por boas intenções, enquanto não vão aquecer um pouco mais o Inferno, se ressentem da forma desajeitada que a sua implementação assume, esquecendo frequentemente que o porta-voz do governo é o Diário da República, comento as segundas, as conversas.
E nesta matéria, verifica-se que a senhora ministra fala de mais e diz de menos; desembrulha e encadeia lugares-comuns, em ritmo acelerado para evitar que lhe sejam colocadas questões, denota nervosismo, que nunca ajuda a persuadir, jamais responde com clareza e objectividade, tanto às questões que lhe colocam os entrevistadores como àquelas que sabe serem as nossas, as dos professores e das escolas. Se algo de importante consegui reter daquela verborreia, que como torneira aberta despejou chavões sobre chavões, é que ficará tudo na mesma. Haverá, é certo, alguma flexibilidade, mas o modelo sacrossanto, só não ungido pelo Sumo Pontífice porque este governo é laico, o modelo fica na mesma, adornado por alusões vagas, como a promessa, já anteriormente feita, mas nunca implementada, de compensações horárias para os avaliadores.
Pelo meio, por aqui e por ali, o reconhecimento do absurdo do modelo de avaliação, que ela própria propôs e continua a defender intransigentemente, com uma fé e uma arrogância que fazem, inevitavelmente, recordar a mentalidade do "orgulhosamente sós"; por exemplo, para combater o abandono escolar, cada professor, ao saber (como?) que um aluno anulou ou vai anular a matrícula (isso é abandono? E se for para fazer a disciplina em exame final, com melhor nota? Ou porque, fora da escola, há formas de fazer um ciclo de três anos em três meses, sem esforço e com sucesso assegurado?) deve reunir com o aluno, reunir o Conselho de Turma, reunir com os pais (tê-los-á? Virão à escola, se não for para espancar o professor?) Simples, não? O meu 7º A tem vinte professores. Se nenhum quiser ficar atrás dos outros, haverá vinte reuniões com cada aluno em risco de abandono, vinte com os pais de cada um deles… Não esquecer de lavrar as respectivas actas, ou faltarão as "evidências"! Ora uma colega do meu departamento tem 15 turmas, 28 alunos na maior parte delas... (Eu sei, os professores não trabalham nem querem trabalhar, viva a ministra que os há-de pôr na linha…) Quando dizemos que o modelo de avaliação é burocrático e absurdo, sabemos do que falamos. Quando a ministra diz que o vai simplificar, aguardamos legislação.
Ouvir a senhora ministra não foi uma completa perda de tempo. Fiquei a saber (1) que só terá aulas assistidas quem o pedir, por pretender ter Muito Bom ou Excelente. (Haverá professor que se considere inferior aos outros?). Só não percebo qual o problema em ter aulas assistidas. Há muitos anos que digo que as portas das minhas salas de aula estão sempre abertas – e quando o calor do Verão aperta, são, literalmente, escancaradas. (2) Que os resultados escolares dos alunos não serão tidos, por enquanto, em conta. Que pena! Há anos que não reprovo alunos, ficarei prejudicado. (3) Que qualquer professor terá o direito de ser avaliado por alguém da sua área disciplinar. Elementar, dirá qualquer Sherlock. De resto, tudo na mesma. A montanha pariu um rato – e a ministra não chega ao Ano Novo. Aposto: um dos meus romances contra um lanche ou, melhor, contra um jantar.
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