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quarta-feira, 29 de junho de 2016

Algazarra canina nocturna

Tenha o sono pesado, mas mesmo assim acordou-me pelas duas da manhã a serenata nocturna de cão de que já aqui falei. 
Tempos atrás, a tentar minimizar o ruído, mandei instalar janela exterior em vidro duplo no meu quarto, que assim ficou com duas janelas, estores no meio. 
Tentei pensar noutras coisas. Sentir pena do cão. Inutilmente. O ladrar incessante, a procurar desgarrada, atravessava vidros, paredes duplas, portas interiores fechadas, entrava-me pelos ouvidos tapados pela roupa.
Peguei na almofada e percorri todas as divisões em busca de silêncio. Em vão. O ladrar enchia a casa.
Desesperado, levantei ruidosamente o estore da janela das traseiras, de onde vinha o barulho, e gritei para a escuridão o mais alto que pude, várias vezes: Cale esse cão! São horas de dormir!
Não se acendeu uma luz que fosse, não se ouviu porta ou janela a abrir, voz a repreender o cão -- que continuou o seu concerto nocturno, imperturbável.
Com sono, fico doido. Telefonei à polícia. 
Amável, o agente quis saber qual o número da porta do cão. Expliquei, o menos atabalhoadamente que consegui: o ladrar provinha de um grupo de várias casas, nas traseiras da minha, havia árvores a tapar a visão e no escuro...
O agente precisava das coordenadas para o Auto de Notificação... Eu devia saber quem tinha cão. Senhor agente, aqui todos temos cão! 
Agradeci, pedi desculpa pelo incómodo, o polícia ficou de mandar um carro verificar se havia ruído perturbador logo que tivesse um disponível. A conversa, longa, decorreu à janela, aberta, para o agente ouvir o chinfrim e não pensar que sou daqueles que em noite de insónia resolve chatear a polícia. Quando desliguei --
O cão calou-se! Misteriosamente, inexplicavelmente!
Agitado, dei voltas na cama durante horas, a medo de que recomeçasse a algazarra, ou que a polícia me tocasse à campainha a perguntar de onde provinha a altercação. 
Acordei rabugento, tensão arterial alta -- é assim que, na minha idade, nos dá enfarte, AVC, coisa ruim. 
Estou convencido de que o cão me ouviu a telefonar para a polícia e resolveu calar-se antes que ela chegasse. 
Ou os donos.

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