Apropriado para o mês, este poema de Camilo Pessanha. Lembro-me de que me saiu num teste de Introdução aos Estudos Literários, na Faculdade de Letras de Lisboa, muitos anos atrás. Era professora da cadeira Margarida Vieira Mendes, que se viria a doutorar sobre o Padre António Vieira. A morte levou-a demasiado cedo. Recordo com saudade o muito que aprendi com ela.
Passou o Outono já, já torna o frio...
-- Outono de seu riso magoado.
Álgido Inverno! Oblíquo o sol, gelado...
-- O sol, e as águas límpidas do rio.
Águas claras do rio! Águas do rio,
Fugindo sob o meu olhar cansado,
Para onde me levais meu vão cuidado?
Aonde vais, meu coração vazio?
Ficai, cabelos dela, flutuando,
E, debaixo das águas fugidias,
Os seus olhos abertos e cismando...
Onde ides a correr, melancolias?
-- E, refractadas, longamente ondeando,
As suas mãos translúcidas e frias...
Camilo Pessanha, Paisagens de Inverno II, Clepsidra
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