Número total de visualizações de páginas

sábado, 24 de novembro de 2012

25 de Novembro


Vivi o PREC (Processo Revolucionário em Curso) e o Verão Quente de 1975 com muito medo e uma arma na mão. Sempre que o meu quartel entrava de prevenção rigorosa, o que sucedia todas as semanas, deitava-me vestido e calçado, cinturão com cartucheiras carregadas, G3 com bala na câmara. Era muito influenciável e levava a sério as prelecções do comandante, que nos frequentes plenários revolucionários de lavagem ao cérebro antecipava ataques da reacção; apavoravam-me as medidas logo tomadas, como metralhadora antiaérea na parada para resistir aos aviões Fiat que no 11 de Março haviam bombardeado o Ralis, quartel revolucionário -- e a gritaria constante do povo que se manifestava fora dos muros do quartel soava-me como música fúnebre em filme de terror.
Boataria constante e contraditória. A televisão substituía a programação normal e a informação pelo malfadado hino do MFA ou passava ininterruptamente a estúpida da cantilena em que a gaivota voava, voava. Ambiente opressivo, sem notícias de casa e da família. Soldados enervados passavam-se e disparavam contra camaradas. Outros, apenas para saírem do quartel, voluntariavam-se para barricadas na RTP, desejosos de atirar sobre os reaças -- enquanto o comandante jurava morrer de botas calçadas quando “aí vier a reacção”. 
No 25 de Novembro foi a mim, segundo furriel miliciano com 21 anos mal feitos, que enviaram a erguer e comandar barricadas nas estradas da Atalaia e de Torres Novas, sem outras ordens, sem saber o que ia fazer, como proceder, apenas para o comando fingir que fazia alguma coisa, sem se comprometer embora.
Poucos dias depois, fui saneado, bem como todos os oficiais e sargentos milicianos da minha unidade – para minha grande alegria. 
E o valente comandante da EPAM (Escola Prática de Administração Militar), que jurava morrer de botas calçadas? Pois rendeu-se logo que os comandos de Jaime Neves, de passagem pelo Lumiar, dispararam bazucada contra a porta de armas... 
FOTO: pouco antes do 25 de Novembro. Sou o primeiro ajoelhado à direita.

8 comentários:

José A Rosado disse...

Lamentavelmente este "escrito" não tem nada(!)... rigorosamente nada!... de verdade histórica e factual!

JCC disse...

José Rosado, o que é que não é verdade? E porque é que coloca escrito entre aspas? Não foi, não está escrito? Sugiro que, se para tal tiver paciência, se dê ao trabalho de apontar as incorrecções. Terei todo o gosto em as debater consigo ou com qualquer outro. Porque eu estive lá, "com muito medo e uma arma na mão" conforme escrevi no escrito que, para si, não é escrito.

José A Rosado disse...

De imediato cumprimentando-O, informo-O que coloca "escrito" (entre aspas) porquanto o seu "escrito não faz juz ao Seu brilahnte Curriculum de historiador e escritor laureado.
Faltando o necessário e indespensável enquadramento histórico aos factos que relata, e que correspondem à Sua vivência de então, introduz factos no texto que não correspondem, porque NUNCA ACONTECERAM(!), à verdade histórica dos acontecimentos vividos pela EPAM no decorrer do PREC (aonde se deve incluir o "Verão Quente de 1975"... e não retirá-lo do enquadramento como faz)!

Já agora... tem a certeza que:
1 - havia na EPAM, e cito-O, "Ambiente opressivo, sem notícias de casa e da família. Soldados enervados passavam-se e disparavam contra camaradas"?
2 - O mandaram "erguer e comandar barricadas nas estradas da Atalaia e de Torres Novas, sem outras ordens, sem saber o que ia fazer, como proceder"?
3 - havia na EPAM "frequentes plenários revolucionários de lavagem ao cérebro antecipava ataques da reacção"?
4 - os "comandos de Jaime Neves, de passagem pelo Lumiar, dispararam bazucada contra a porta de armas"?
5 - sabe, de facto, que "o valente comandante da EPAM (Escola Prática de Administração Militar), que jurava morrer de botas calçadas" se "rendeu" ou se respeitou as ordens emanadas pelo Presidente da República e CEMGFA na altura?

ATENÇÃO, caro Camarada AdMil/SAM(!), RESPEITO AS SUAS OPINIÕES(!)... mas sou exigente quanto à Verdade Histórica dos factos e estórias que cada um de Nós relata!

UM GRANDE ABRAÇO, e já agora convido-O a visitar a Página, no Facebook, da Comissão Promotora da “Associação do Serviço de Administração Militar – ASAM”, iniciativa essa que tem por fim “juntar” Todos quantos, servindo o País e o Exército Português/EP, Homens e Mulheres, do Quadro Permanente/QP ou do Serviço Militar Obrigatório/SMO (Milicianos), Oficiais, Sargentos e Praças, tiveram a Honra de prestarem, ou estão a prestar(!), serviço no SERVIÇO DE ADMINISTRAÇÃO MILITAR,A QUE O CAMARADA PERTENCE!

José A Rosado disse...

De imediato cumprimentando-O, informo-O que coloca "escrito" (entre aspas) porquanto o seu "escrito não faz juz ao Seu brilahnte Curriculum de historiador e escritor laureado.
Faltando o necessário e indespensável enquadramento histórico aos factos que relata, e que correspondem à Sua vivência de então, introduz factos no texto que não correspondem, porque NUNCA ACONTECERAM(!), à verdade histórica dos acontecimentos vividos pela EPAM no decorrer do PREC (aonde se deve incluir o "Verão Quente de 1975"... e não retirá-lo do enquadramento como faz)!

Já agora... tem a certeza que:
1 - havia na EPAM, e cito-O, "Ambiente opressivo, sem notícias de casa e da família. Soldados enervados passavam-se e disparavam contra camaradas"?
2 - O mandaram "erguer e comandar barricadas nas estradas da Atalaia e de Torres Novas, sem outras ordens, sem saber o que ia fazer, como proceder"?
3 - havia na EPAM "frequentes plenários revolucionários de lavagem ao cérebro antecipava ataques da reacção"?
4 - os "comandos de Jaime Neves, de passagem pelo Lumiar, dispararam bazucada contra a porta de armas"?
5 - sabe, de facto, que "o valente comandante da EPAM (Escola Prática de Administração Militar), que jurava morrer de botas calçadas" se "rendeu" ou se respeitou as ordens emanadas pelo Presidente da República e CEMGFA na altura?

ATENÇÃO, caro Camarada AdMil/SAM(!), RESPEITO AS SUAS OPINIÕES(!)... mas sou exigente quanto à Verdade Histórica dos factos e estórias que cada um de Nós relata!

UM GRANDE ABRAÇO, e já agora convido-O a visitar a Página, no Facebook, da Comissão Promotora da “Associação do Serviço de Administração Militar – ASAM”, iniciativa essa que tem por fim “juntar” Todos quantos, servindo o País e o Exército Português/EP, Homens e Mulheres, do Quadro Permanente/QP ou do Serviço Militar Obrigatório/SMO (Milicianos), Oficiais, Sargentos e Praças, tiveram a Honra de prestarem, ou estão a prestar(!), serviço no SERVIÇO DE ADMINISTRAÇÃO MILITAR,A QUE O CAMARADA PERTENCE!

JCC disse...

Bom dia, caro Camarada.
Antes de mais, uma correção: não sou, e não pretendo ser, historiador. Conto histórias, e como bem sabe, quem conta um conto sempre acrescenta um ponto. Posto isto, eis as minhas respostas às dúvidas que levantou.
RESPOSTAS
Tenho a certeza. Cheguei à EPAM para fazer a especialidade em Intendência, a qual coincidiu com o Verão Quente. Deram camuflado a cozinheiros e a padeiros, passaram-nos a operacionais, a eles que mal sabiam manejar a G3 e pareciam ansiosos por a usar. Por exemplo, vi da minha janela um açoreano gritar para outro: -- Pá, dá-me um tiro!
-- És doido ou quê?
E puxou da G3 e disparou contra o outro, que se refugiou na camarata.
O ambiente era opressivo? Fechados no quartel durante as frequentes prevenções rigorosas, sem notícias nem da família (o único telefone ficava no comando), com manifestações à porta de armas, gritarias constantes, boatos, a televisão e a rádio apenas passavam canções revolucionárias, não sabíamos o que se passava e imaginávamos o pior. Por vezes, tínhamos visita revolucionária, lenço vermelho ao pescoço e punho erguido, dos militares do RALIS nos seus blindados.E havia as saídas nocturnas, a defender a RTP da reacção, ou a assaltar as sedes do MRPP, por exemplo. Lembro-me de que, aquando da Manifestação da Fonte Luminosa, oficial incentivava a "furar esses cabrões". E um camarada de curso disse claramente que não disparava contra o PS. Eu, para não correr o risco de o fazer, voluntariei-me para o pior serviço, ficar de sentinela, não me recordo do termo que usávamos.
2. Mandaram. Porque eles, os oficiais do quadro não queriam arriscar carreira nem a pele. Estive no cruzamento da Zibreira com a GNR, fizemos uma fogueira, ciganos vieram fazer-nos companhia, pela madrugada apareceram retornados com pão quente com manteiga e café fantástico. Reaccionários a mais não poder ser, mas aquele café, como soube bem na fria madrugada!
Na Atalaia, estive sozinho com uns prontos. Revistávamos os carros, à procura de armas, embora os prontos preferissem chouriço e aguardente. Às tantas, chega carrinha e o condutor informa que levam armas para distribuir nas barricadas do PS. Espanto-me. E ele, militar à civil mas de alta patente, conforme documento que me mostrou: -- Nosso furriel, não está à espera que as vá distribuir nas barricadas da CDE, pois não?
Olhei para os meus homens, nenhum de nós sabia o que fazer, não havia ordens, não sabíamos de que lado estávamos -- e eles seguiram com o armamento.
3. Os plenários revolucionários de lavagem ao cérebro eram semanais. Afora as outras ações de sensibilização. Ainda me lembro do conteúdo, posso relatá-lo. Já agora, as notas do curso foram atribuídas por sorteio e o juramento de bandeira consistiu apenas na assinatura de um papel no comando, durante mais uma prevenção rigorosa em que tive outro fim-de-semana cortado.
4. A bazucada. Admito que possa não ter ocorrido, não estive presente, contaram-me que foi assim que o quartel se rendeu. Aceitei a informação como boa, afinal os comandos metralharam a PM e o RALIS.
5. Pouco importa que o comandante tenha ou não obedecido a ordens. Ele jurava que se aí viesse a reacção havia de morrer com as botas calçadas. A reacção veio e ele não morreu. Fanfarronices, portanto, digo eu que era e sou homem de palavra.

José A Rosado disse...

Caro Camarada de Armas (... sim(!), porque eu também estive na EPAM desde 2 de Janeiro de 1974 a 26 de Novembro de 1975, e passei à Disponibilidade, conforme consta no "Passaporte", e cito: "por ordem verbal e telefónica do Exmo. Presidente da República e CEMGFA GEN Costa Gomes"), de imediato cumprimentando-O, permito-me, com todo o respeito pessoal que o Camarada me merece, dizer que os factos que pretende relatar têm mais de "rascunho para um ensaio novelístico", do que apontamentos, da Sua estória, para o entendimento da História de uma Unidade, a EPAM, no decorrer do 25ABRIL74.
REPITO, E SUBLINHO, QUE RESPEITO A SUA PERSPECTIVA DOS FACTOS(!)... mas em abono do rigor da HISTÒRIA DO 25ABRIL74 não posso deixar de discordar das estórias da Sua vivência!
MAS TUDO BEM(!)... Basta o Camarada (SAM/AdMil) ter estado comigo nesses tempos da EPAM (... que engraçado, e fora qualquer pretensão de "vedetismo", estranho o Camarada não se recordar da "minha pessoa"...) para estabelecermos salutares relações pessoais... ao que terei todo o Gosto e Prazer em revê-Lo pessoalmente e, nessa altura, esclarecer factos que (reais ou não... em tempo se concluirá...) vivemos na "1.ª pessoa"!
Já tive o prazer de o informar dos meus contactos pessoais, ao que estou totalmente disponível para "reatar um convívio cerceado à 41 Anos"...
UM GRANDE ABRAÇO!

José A Rosado disse...

Já agora permito-me agradecer a Sua gentileza em me aceitar como Seu Amigo Facebookiano!

JCC disse...

Já lá vão quarenta anos, esqueci nomes e rostos. Pode dar-me pormenores que me ajudem a recordar-me de si? É sim, quando se proporcionar, terei todo o gosto em que nos encontremos e em corrigir eventuais imprecisões nos meus textos.
Abraço.