Tinha-me esquecido da greve nas escolas. Surpreende-me a chegada dos meus três netos mais velhos, pouco passava das nove da manhã, eufóricos, em algazarra ensurdecedora -- pobres professores!, penso frequentemente.
À porta, grita-me o Miguel (cinco anos):
-- Avô, hoje é o nosso dia de sorte!
Nos trinta e seis anos em que fui professor, fiz umas greves, outras não. Ponderava os motivos e as motivações. Num prato da balança, o pesado rombo no orçamento, o prejuízo para os alunos, sempre angustiado com a falta de tempo; no outro prato, a revolta, as frustrações, os ganhos possíveis, a solidariedade com os colegas...
E os alunos: -- Stôr, já decidiu se faz greve? Vá, faça lá!
-- Estamos atrasados, os exames estão à porta...
-- Faça lá, que depois a gente até estuda com mais vontade...
-- Tenham paciência, eu é que decido!
-- Mas decida bem. Já basta ainda não nos ter dado um único feriado!
Ouve-se dizer que uma greve para ter consequências tem de prejudicar muita gente. Talvez o mesmo aconteça com as greves dos professores. Mas deixam tanta criança feliz!
(NOTA: deixei passar o dia da greve e o do rescaldo antes de publicar este textozinho. Estou de fora, não quero que os colegas no activo pensem que os quero influenciar.)
1 comentário:
O melhor das aulas sempre foi não ter aulas!
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