Desconfio de políticos bem intencionados. A ministra da agricultura, que resiste à seca com fé, preocupa-me. Não é que agora quer roubar à esquerda uma velha causa?
Rosa Soares, Ricardo Garcia
O Governo quer identificar todas as terras em Portugal às quais ninguém se apresenta como dono, reclamá-las para o Estado e distribuí-las para quem as queira cultivar.
Parece tão boa, a ideia. E todos sairemos a ganhar, não é? Mas não seria de fazer, antes de falar, um estudo da aptidão agrícola desses terrenos, do seu relevo, dimensão média, dispersão, viabilidade económica, etc.? E, já agora, outro estudo que mostre quantos portugueses estão dispostos a trabalhar a terra? Leio um pouco mais da notícia revolucionária:
A identificação destas terras será feita no âmbito da realização do cadastro das propriedades rurais, que o Governo quer realizar em quatro a cinco anos, com recurso aos dados que a administração central já tem na sua posse - como informações sobre impostos, subsídios agrícolas e registos públicos.
Ah, então é isso: uma versão da actualização do IMI, a incidir sobre os terrenos agrícolas! Desiluda-se a esquerda, desiluda-se quem abomina os campos incultos, as terras perdidas. Não é a reforma agrária que aí vem, é apenas o agravamento de um imposto. Ornado de boas intenções.
Por isso, faço minhas as palavras de ordem dos anarcas, em plena reforma agrária:
Mortos, fora dos cemitérios, que a terra é de quem a trabalha!
2 comentários:
Esse seu slogan tem graça!
Ah, os anarcas tinham-nos bons. Lembro-me do "Nem mais um faroleiro para as Berlengas", que contrapunham a "Nem mais um soldado para as colónias. Ou de um grafiti no Júlio de Matos que inicialmente anunciava: "Vasco [Gonçalves] volta" E eles acrescentaram: "Pelo menos, vem às consultas!"
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