A velhota retira à sua pensão de miséria, já escassa para a farmácia, dez euros para pagar missa por alma do seu defunto; o padre acrescenta o nome do falecido à lista do dia pretendido, não mais de oito nomes, até as missas têm limites de repartição. E por esse acto tão simples, pôr um nome numa lista e pagar dez euros, o defunto beneficiará de mordomias no além, talvez menor tempo de espera no Purgatório, caso a justiça divina seja tão demorada como a portuguesa, ou alívio de pena, caso a justiça divina seja corruptível.
Cá se fizeram, cá se pagam, não ao divino, mas aos seus comissários.
XXI séculos depois de Cristo, como pode a Igreja colaborar nesta farsa, tão contrária aos ensinamentos do seu Mestre, explorando a crendice de pessoas frágeis, carenciadas, pobres entre as mais pobres, estrafegadas pelo custo de medicamentos, taxas moderadoras, custos do transporte para esses hospitais que deslocalizaram para as grandes cidades, aumentos nos transportes, electricidade -- talvez, até, a passarem fome?
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