Sempre disse muito claramente que não iria aplicar o novo acordo ortográfico. Já nem tenho paciência para explicar as numerosas razões desta decisão, tomada em consciência, apesar do risco de vir a ser sancionado. E é inútil lembrarem-me de que antigamente farmácia se escrevia com ph, pois passo muito do meu tempo a ler textos antigos, alguns dos quais remontam à alvorada da nossa literatura, em finais do séc. XII.
Diferente foi a atitude de muitos dos meus colegas, uns por, em consciência, concordarem com as alterações propostas, outros, raros, porque sempre correm atrás das modas.
Hoje foi a vez da Presidente da Associação de Professores de Português sair em defesa do novo acordo em declarações ao DN:
A Associação de Professores de Português (APP) "lamenta" as declarações do secretário de Estado da Cultura sobre possíveis alterações ao Acordo Ortográfico (AO), e considera que se anda "a brincar" com o Ensino.
Em declarações à Lusa, a presidente da APP, Edviges Ferreira, afirmou que "é de lamentar as declarações do secretário de Estado [da Cultura], e também que entre os governantes não haja acordo".
A responsável recordou que "saiu uma portaria do Ministério da Educação, segundo a qual os professores são obrigados a aplicar o novo Acordo Ortográfico a partir do ano letivo 2011/12, a decorrer".
"E agora com que cara vão dizer aos alunos que cada um escreve como entende", questionou a docente.
Edviges Ferreira considerou estarem "a brincar com os professores, alunos, pais, e toda uma comunidade".
Para a presidente da APP as declarações de Francisco José Viegas "destoam da contenção orçamental que nos é exigida", referindo os gastos já feitos com "os manuais escritos já impressos segundo as novas regras" e os que implica a reformulação das regras.
Declaração de interesses: em devido tempo, desvinculei-me da referida associação por entender que não defendia devidamente os interesses dos professores de Português. Este comunicado bem o comprova: afinal, um dos motivos para a rejeição de alterações reside nos custos dos manuais já impressos pelas editoras. Pena não ter denunciado o preço indecente dos manuais escolares, pena não ter avançado com propostas para reduzir o seu custo, purgando-os daquilo que pode ser cortado, o que melhoraria a respectiva operacionalidade.
Talvez por detrás desta rejeição indignada esteja algo mais profundo e difícil de erradicar: o apego ao eduquês. Que, qual hidra, continua peçonhenta com todas as suas cabeças intactas, quase um ano após a tomada de posse do ministro Nuno Crato-- que, já deu para ver, não é nenhum Hércules.
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