Foi no Itau, café do Camões, aí por 1971, que me apresentaram aquele revolucionário: acabara de sair de Caxias, onde a Pide o detivera por largos meses. E ele, olhando em redor vigilante, sempre alerta, que os bufos estão por todo o lado, contava pormenores. Não fora submetido à tortura do sono. Nem à da estátua. Nem... Ah, mas fora torturado, muito torturado, a sua militância duramente posta à prova -- e, baixando a voz, tapando a boca com a concha da mão, contava: punham-lhe pó nos sapatos para as solas se romperem mais depressa!
Sem paciência para o continuar a ouvir, eu queria ir-me embora, ele não permitia; segurava-me o braço e continuava, continuava, a narração das sevícias que lhe estragaram uns bons sapatos em coisa de semanas!
Lembrei-me dele hoje, a ouvir Hugo Chávez: são os americanos que provocam o cancro nos presidentes sul-americanos! Acautela-te, ó tu, não-sei-como-te-chamas, do Irão!
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