Uma ida aos Correios é suplício. Às tantas, dou pela entrada de uma moça já pouco moça que foi minha aluna. Do 7º ano ao 12º. De pequenina, cabelos pela cintura, uma bonequinha que não falava, até uma mulherzinha que também não falava. As coisas correram bem entre nós, apesar do seu mutismo: sempre a passei, com boas notas, inteiramente merecidas -- ou não lhas teria dado. Pois a moça já pouco moça -- como os jovens envelhecem depressa! -- entra e sai, sai e entra, resvés comigo, e coisa estranha, não me conhece. Enfim, maneiras de ser, ou anda um professor a educar uma jovem seis anos para isto, ou, como diz o meu amigo João, a partir dos cinquenta somos invisíveis para as mulheres, sei lá. Eu não existo e é tudo.
Pelo canto do olho apercebo-me da entrada de outra ex-aluna, esta apenas do 10º ao 12º. Notas pouco brilhantes. Prevejo que também me não vai conhecer. E, de facto, durante longos minutos, parece que me não vê naqueles correios quase desertos, em que os funcionários arrastam o serviço. De repente, põe-se a meu lado e conversamos. Pergunto-lhe pela vida, falamos de outras alunas. Nem tudo está perdido. O civismo ainda existe.
5 comentários:
Como te compreendo. Em mais de 30 anos de ensino passam por nós milhares de alunos. Não podemos ter a veleidade (?) de ter agradado a todos. De igual forma é impossível lembrar-mo-nos de todos (nem das caras nem dos nomes). Mas é muito gratificante ouvirmos, quando menos esperamos "Olá Professor!".
Falas tanto de mim...e eu nunca falo...dos amigos,apenas e só me refiro aos outros...aos indiferentes.
Anónimo João: aprendo com os mestres...
Reinaldo: não se trata de ter agradado ou desagradado. É uma questão de civismo cumprimentar os conhecidos. A moça em questão conhece-me perfeitamente, nunca tivemos qualquer conflito, é quase minha vizinha. Deve ser mal de família, pois a mãe, que a acompanhava, procedeu da mesma forma.
Enfim, logo à noite, se a encontrar, publico uma mensagem de uma ex-aluna de quem há muito me esqueci, isto para mostrar que a ingratidão não é mal geral. Há excepções, que nos tocam.
Mas passando-vos tanta gente pela mão, é normal que boa parte deles ache que está a incomodar e que vocês nem se lembram deles, ou não?
De facto, de muitos alunos nem nos lembramos. Mas quando trabalhamos seis anos seguidos com uma miúda ou com um miúdo, acompanhamos o seu crescimento, tentamos contribuir positivamente para a sua formação e depois finge não nos conhecer -- magoa.
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