Falava torrencialmente.
-- Queres cinco tostões para te calares um minuto?
Um minuto de silêncio, a eternidade. Impossível.
Disparatava, devaneava, interrogava: -- Quem é? -- E se... -- E agora...
-- Davas uma rica taramela para espantar a passarada na eira!
E eu, sempre reco teco, teco reco...
-- Oh, rapaz, cala-te um bocadinho, por amor de Deus!
Nem suborno, nem promessas, nem súplicas, nem ameaças: -- E se aquela casa caísse agora e de lá saísse um leão...
Foi em Chaqueda, tinha cinco ou seis anos. Morávamos à entrada, do lado de Alcobaça, uma dúzia de casas afastadas da aldeia. Por entre as ruínas de edifício começado para ser a Fábrica do Pão, mas nunca terminado, negras paredes não rebocadas, o homem cavava. Enorme, ganga azul, botas de borracha. Teodoro, nunca me esqueci do nome. Operário na fábrica de vidros.
E eu, sempre na minha infindável palração, reco teco, teco reco...
-- Se não te calas, abro uma cova funda, enterro-te lá, que nunca mais te encontram.
Gelei. Fugi apavorado. E só hoje, mais de meio século passado, me atrevo a contar a história.
2 comentários:
Os teus netos têm a quem sair então.
Eu era muito pior. Mas nada justifica ameaçar de morte uma criança só por falar de mais. Foi susto digno de filme de terror. Nunca mais me aproximei do tal Teodoro.
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