Em 1975, durante toda uma noite, um soldado pronto, o Portimão, infernizou o quartel de Torres Novas, disparando rajada sobre rajada sobre tudo o que mexia. E nós, resguardados nas esquinas, perguntávamos Porquê?, como se mau vinho e muita ruindade não fossem resposta suficiente. Gritava ele, enquanto recarregava a G3: havia de matar o comandante, o segundo comandante, o sargento da companhia...
Por volta da meia noite saiu do quartel, paredes meias com a vila. Desarmou pobre polícia, que em pânico se atirou às águas imundas e gélidas do Almonda e a nado fugiu para a outra margem. Então, não encontrando a quem perseguir na vila deserta, reentrou no quartel sem que o frio da noite lhe tivesse arrefecido a fúria assassina.
Da capital chegaram ordens para o abater. Perplexos, cruzámos olhares: ninguém com coragem para disparar sobre camarada de armas. Mas agora, com balas reais nos carregadores, já não era só fugir, respondia-se ao fogo, evitando atirar à figura. E o Portimão caiu atingido por estilhaços de rajada, vários ferimentos ligeiros, um testículo a menos, Presídio Militar como destino. Para meu grande alívio, por razões que contarei no próximo post.
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