Este tempo, tão do agrado dos apreciadores de caracóis, cerveja, areais e escaldões, é-me por demais incómodo. Não durmo bem, acordo constantemente para ligar e desligar o ar condicionado do quarto, pouco mais posso fazer que, à noitinha, dar rega parcimoniosa às plantas em tentativa de as aguentar, e sou vítima dos insectos, mosquitos e moscas, que me picam impiedosamente, mesmo por cima da roupa, mesmo por cima do repelente, quando o aplico, como hoje, em que madruguei e fui aos Montes regar para tentar salvar alguma coisa — a maior parte da minha agricultura é de sequeiro pela simples razão de que apenas tenho água de poço em duas pequeníssimas fazendas e, devido à chuva constante, só pude semear o feijão e o milho demasiado tarde. Mas, mesmo que tivesse água em abundância, de pouco adiantaria, porque, mais do que a sede, é o ar quente, literalmente em fogo, que mata as plantas.
É assim o nosso clima, há que o aceitar com resignação, rir das previsões de médio e longo prazo dos meteorologistas, os quais acertam tanto como os economistas e comentadores televisivos, deixar a conversar com as urtigas os visionários que apontam a agricultura como salvação nacional, confundindo a produção de salsa ou rabanetes na varanda com profissão ou negócio.
E, entretanto, esperar que a canícula se vá... até ao próximo Julho.
Título: do soneto de Sá de Miranda "O sol é grande, caem co’a calma as aves", centrado na mudança, tema tão do agrado dos clássicos. Reconhecendo, como eles, que só para nós o tempo não é cíclico, pelo que " tudo o mais renova, isto é sem cura!" pois só na natureza ao Inverno sucede a Primavera.
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