De um lado do rego, a terra revirada pela charrua, do outro o verdura dos cardos a exigir lavoira. Um pouco mais longe, à esquerda, a vinha, avermelhada pelo Outono, quase a despir-se para dormir no Inverno. Em baixo, a eira e a sua casa. Ao fundo, massa indistinta azulada pela distância, os pinheirais que ocultam da vista o mar. Ausente da foto, mas a pairar sobre tudo isto, o cheiro a terra amanhada, solidão e silêncio, brutalmente quebrado pelo trabalhar do tractor, a protestar contra o esforço de esventrar barro, de virar leivas, de pôr a raiz ao sol às ervas daninhas -- ou, como gosto de lhes chamar, mal situadas.
Depois fresei uma tira da terra lavrada, abri regos, semeie ervilhas, couve-nabo e -- perfeita loucura! -- plantei batatas, que a geada seguramente queimará. Assim é a agricultura: um risco assumido, uma aposta frequentemente perdida. Mas, lá reza adágio da minha terra, "mais vale perder a semente do que a sementeira". E a alegria de semear em dia soalheiro até faz esquecer o desgosto que já deu, que provavelmente dará -- encontrar batatal queimado pela friagem matinal.
2 comentários:
A alegria de semear em dia soalheiro pode encher o celeiro!
E já agora_"mais vale perder a semente do que a sementeira" é adágio de pesssoa previdente!
Uma escrita geométrica, cantante,penetrante como gume do arado.
Grande abraço.
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