Atente-se nestas ruínas: foi uma fábrica que empregou centenas e centenas de operários e
de operárias. Conhecia-a em 1976, pouco depois de ter entrado para o ensino.
Havia então na minha escola umas actividades revolucionárias obrigatórias à quarta-feira à tarde,
espécie de formação cívica, que impunham a visita às unidades fabris da região,
conduzindo, a pé bem entendido, uma meia dúzia de turmas. E tais actividades estavam atribuídas aos professores maçaricos. Como eu.
Lembro-me
do cheiro nauseabundo dos curtumes, do riso trocista das
operárias ao ver-nos quase a vomitar, quase a desmaiar com o pivete, elas que, facão na mão, limpavam as peles de sebos repugnantes e gorduras putrefactas indiferentes ao mau cheiro.
Pouco
tempo antes, os trabalhadores, reunidos em plenário, tinham-se apropriado da
fábrica. O patrão suicidou-se. Para a gestão convidaram colega meu, escolhido, não pelas suas qualificações como gestor, que não tinha (suponho que estava matriculado em História), mas por... ter sido orador num comício promovido pela secção
local da Intersindical, a antepassada da CGTP.
Em
breve a fábrica faliu e fechou. As suas ruínas são também as do próprio
PREC -- o Processo Revolucionário em Curso, que agonizava em 1976.
Tudo cansa.
Tudo cansa.
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