Não haverá área em que o progresso nacional seja mais evidente do que no humor. Século e meio atrás Camilo Castelo Branco via-o com desprezo:
"o estreme espírito português, por mais que o afiem e agucem, é sempre rombo e lerdo: não se emancipa da velha escola das farsas: é chalaça."
Entretanto, a escolarização generalizou-se, tornou-se obrigatória. Os portugueses viajaram, correram mundo, o relacionamento entre classes alargou-se, a televisão entrou em todos os lares, civilizando.
Nenhuma dúvida de que a citação de Camilo está, felizmente, obsoleta, como pude testemunhar recentemente graças ao hábito nacional de falar em todo o lado ao telemóvel como se estivéssemos na privacidade da nossa casa. O que talvez se deva à certeza de que o humor dos nossos tempos tem tanta graça que ninguém o pode perder:
-- Tá lá? Oiça lá, foi você que me ligou esta manhã? Não? É que tenho aqui indicação de chamada de dois paneleiros, pensei logo em si! Não foi? Ah, pois, você já não é paneleiro, tiraram-lhe o cu...
E num aparte, para os companheiros de mesa: -- Foi operado a um cancro nos intestinos.
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