Pensava eu que os meus escritos eram ignorados, com a excepção de um punhado de leitores, em boa parte familiares e amigos. Ora nos últimos dias fui surpreendido por duas mensagens, uma elogiosa, que não consegui publicar, outra crítica, publicada como comentário. O autor da primeira delas diz que leu uns contos meus e gostou em particular de um deles, o que me deixou deveras satisfeito; já a segunda mensagem critica a minha vaidade, fazendo de mim um caso notável de arrogância e de presunção, isto por eu ter aqui noticiado -- há um ano! -- que então me foi atribuído o Prémio Irene Lisboa. Apreciei sobretudo a tentativa de diminuir a importância do prémio Irene Lisboa: diz o cavalheiro que não é nenhum Prémio Pessoa. Pois não é: o Prémio Irene Lisboa foi-me atribuído em concurso género "prova cega", ao contrário do Prémio Pessoa, que é dado a personalidades seguindo um rotativismo quase previsível. (julgo que foi desse prémio que escreveu Eduardo Pitta algo como "não é um prémio, é uma comenda". )
É noite, estou cansado, que andei a plantar couves, os olhos fecham-se-me. Por isso, colo as duas mensagens neste post, e quem tiver paciência para as ler que as julgue. Ah, não sou mestre em Ciências Literárias, nem sei o que seja isso: sou mestre em Linguística pela Faculdade de Letras de Lisboa, onde defendi em 2001 dissertação intitulada Para o processamento de argumentos não realizados in situ.
MENSAGEM 1
Professor Cipriano:
Espero que o desgaste físico e psicológico inerente à profissão, não interfira com a sua produção literária.
Tive oportunidade de ler : Crime na capital e também outros contos que divulgou. Gostei particularmente do Padeiro.São imagens muito fortes.
Continuação de bom trabalho
João Castelo Branco
MENSAGEM 2
José Cipriano Catarino é um caso sério de egocentrismo na literatura portuguesa. Repare-se no destaque a negrito que resolveu fazer ao facto de o júri ter escolhido, por unanimidade, o seu conto, a concurso com mais 200 trabalhos.
Talvez para alguém com quase 60 anos de idade, com mestrado em "ciências literárias", devesse ser embaraçoso fazer gala com um texto medianamente escrito, e que só denuncia o amadorismo do Concurso Irene Lisboa. Mas não para Cipriano Catarino. Pelo contrário, resolveu celebrar a vitória com pompa e circunstância (isto não é um Prémio Camões), anunciando no seu blog as horas a que foi contactado dando-lhe a notícia de que havia vencido o prémio. Como se do nascimento de um filho se tratasse...
A cereja no topo do bolo (não me consigo conter) é a frase entre comas que surge no cabeçalho do seu blog, excerto do livro "Do lacrau e da sua picada". Não que seja uma frase sem sentido ou com falta de mosto literário, mas parece que Cipriano Catarino faz o trabalho de uma verdadeira editora, na tentativa desenfreada de publicitar a sua magna obra.
Não me leve a mal, caro senhor. Acho que devemos todos continuar a escrever. E, principalmente, a tentar escrever bem. Mas sempre bafejando humildade nos nossos escritos e nas nossas atitudes.
Leia a crítica e entenda-a como uma chamada de atenção.
De resto, os meus sinceros parabéns!
2 comentários:
Na literatura,tal como na vida,para que ambas tenham um pouco de sal,necessário se torna que, por vezes, sejamos venenosos. Foi o que fui. Venenoso...Provoquei José Cipriano Catarino com um comentário deselegante, desprestigiando o dito prémio. Reconheço que fui um tanto injusto. Mas a sua imediata reacção neste blog (horas após o meu comentário) apenas confirma o que se já sabia. Que é vaidoso e que ficou desagradado por ter recebido uma crítica negativa contra a habitual corrente de críticas de encorajamento que, de certo, recebe.
Não obstante, a sua resposta foi educada, o que somente prova que os seus quase 60 anos, ainda que o não impeçam de não ter vergonha de se incensar com os seus escritos, já lhe vão permitindo que use de cordialidade e urbanidade para com os seus "adversários" - sempre aconselháveis nestes casos - e que só com a idade se vão pondo em prática.
Caro senhor, repare, durante este tempo, estive apenas a divertir-me, tendo-o desafiado para uma pequena polémica. Resolveu declinar. Aceito.Pena. Mas, na verdade, se a tem acalentado, somente acalentaria o meu veneno. No fim de contas, fez bem. Ignore-me.
Para terminar, e como demonstração da minha boa fé, deixe que lhe diga que o invejo (no bom sentido) por 1 único motivo: Percebi que é agricultor. E que planta leguminosas. Por minha parte, nunca serei um agricultor. Com grande pena minha, nada entendo de trabalhos e alfaias agrícolas. O que me impede de arranjar a minha courela e de plantar uma mão cheia de couves. Nesse ponto, lamento não me poder dedicar a tão nobre arte, condenada que foi pelas decisões de infortúnio do Prof. Cavaco Silva e da UE.
Falando de coisas um pouco mais sérias, durante o meu percurso, vou plantando palavras e, quando a colheita corre bem, lá vou plantando umas histórias.
Para isso, preciso seguir o seu blog com mais atenção. Para meu divertimento, bem como para ler o que se vai escrevendo nas províncias deste Portugal. Criticarei quando necessário.
Felicidades!
Boa noite. Não sou homem de polémicas, falta-me o tempo e a paciência. Mas tendo em conta o quase mea culpa do seu comentário, deixe-me explicar-lhe o seguinte -- e peço o favor de me não julgar precipitadamente por aquilo que vou escrever a seguir. A numeração dos tópicos visa apenas ordenar o meu pensamento.
1. Todas as noites leio o correio; se houver comentários para este blogue, publico-os, independentemente da hora a que foram enviados.
2. Não fiquei desagradado com a sua crítica. Garanto-lhe que o que me dói mais é precisamente o silêncio com que o meio literário trata aqueles que querem trilhar o seu caminho sem recorrer à lisonja nem à bajulação.
3. Boa educação não depende da idade.
4. 60 anos dão-me o mesmo direito de dizer disparates do que 30 anos. Plus ça devient vieux...
5. A minha escrita não me envergonha. Trabalho muito, muito duro nela. Porquê escrever aos 60 anos? Porque já escrevia aos 20, embora a timidez me não permitisse publicar. E porque, mais do que agora, considerava que o que escrevia era lixo. E era. Mas sobre esta fixação nos 60 anos, que em nada me envergonham nem impedem de viver como quero, que tal reflectir sobre Saramago, Rentes de Carvalho, Mário de Carvalho, Lobo Antunes e tantos outros? Se há área em que a terceira idade tem cartas a dar, é seguramente a da literatura.
5. O meu maior adversário, o meu principal inimigo, sou eu próprio.
6. A agricultura.Releia Cesário Verde, por ex. "Nós". Para além do mais, é muito reconfortante saber que não precisam de nos atirar com o velho "Volta à terra, que batatas dá". Só lamento não ter mais tempo para a agricultura e para a escrita. Porque é preciso ganhar a vida e, por estranho que pareça, continuo apaixonado pela minha profissão, 36 anos depois de ter começado.
7. Para que melhor possa avaliar a minha magna obra, terei todo o gosto em lhe oferecer os meus romances publicados. Isto se me disponibilizar um endereço para onde os enviar.
Felicidades também para si.
JCC
Enviar um comentário