Com uma fé irracional como o são todas as fés, a humanidade delegou nos entendidos o seu destino -- e o resultado está à vista: a Europa, o Mundo, enfrentam uma crise como não conhecemos outra em tempo de paz. O mais caricato é que num tempo de desorientação, em que verdadeiramente ninguém sabe o que fazer nem qual a solução, se chamam os fautores da desgraça para nos devolver a prosperidade de outrora, como na Grécia e na Itália, agora governadas por homens anteriormente ligados à Goldman Sachs; na vizinha Espanha, o presumível vencedor não parece saber o que fará eleições ganhas; Obama palra; a China acumula desaires da Líbia aos vizinhos do Sul, num desnorte confrangedor; o Japão, incapaz de se refazer da catástrofe nuclear, anda apagado...
Há, porém, vozes dissonantes, que deveriam ser escutadas porque têm do seu lado a experiência, acumularam resultados positivos, aprenderam com os fracassos; mas na nossa arrogância, desprezamo-los porque são velhos, porque são da maldita esquerda, porque não são especialistas em Economia, em Gestão, não trabalharam nas financeiras responsáveis pela crise, não propõem como única saída cortes e a destruição do modo de vida ocidental, o qual, com a suas imperfeições e talvez inviabilidade económica, é seguramente bem melhor para os desvalidos, os enfermos, os pobres do que a alternativa que se esboça: saúde, educação, pão para quem puder pagar.
Dentre esses homens, uma raposa velha: Mário Soares, que hoje afirmou, entre outras coisas, isto:
“Os europeus vão ser obrigados a meter as agências de rating na ordem e a acabarem com a ladroagem dos paraísos fiscais”Receio que tal vá demorar. Porque os especialistas que são chamados à governação, cá e lá fora, aprenderam pela mesma cartilha económica e onde Soares vê ladroagem eles vêem as virtudes e as potencialidades do sistema financeiro. E nós, iludidos pela crença nos especialistas nisto e naquilo, depositamos a nossa esperança, os nossos salários, o nosso futuro, precisamente em quem nos corta a esperança, os salários e, receio, o futuro.
Nota: não me interessam os disparates maniqueístas que opõem esquerda e direita. Em termos de partidos, a merda é a mesma. O que não significa que pretenda governação tecnocrática, à italiana ou à grega.
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