As minhas leituras são de todo o ano. E nestes invernos longos, à antiga, já sem testes para corrigir nem aulas para preparar, ou planos inúteis a elaborar e relatórios estúpidos a escrever, tenho ficado pela sala a ler, no aconchego do recuperador de calor, sem grande vontade de subir para o escritório, onde apenas modesto termoventilador me aquece os pés...
Leio, já aqui o disse, por duas únicas razões: o prazer e a aprendizagem. O que, na literatura, me conduz inevitavelmente aos clássicos.
Ora os clássicos, diz-me pessoa sábia, leram-se na mocidade. Hoje é tempo de ver o que escreve este ou aquela. De estar actualizado. De, também nas leituras, seguir a onda.
Mas, com tanto clássico neste Mundo, quem terá conseguido lê-los todos na juventude, até porque alguns só recentemente foram traduzidos? E, admitindo que se leram, não nos terão escapado interpretações fundamentais, por falta de experiência de vida, sabido que a leitura é recriação — são recriações — da obra? Ler, por exemplo, o Amor de Perdição aos quinze anos não é mesmo que lê-lo aos trinta. O leitor adolescente, ofuscado pelo triângulo amoroso Simão, Teresa, Mariana poderá não ter olhos para o resto, aquilo que faz desse romance uma obra-prima: a linguagem, a economia da narrativa, o humor, o realismo das personagens secundárias, a recriação dos ambientes da época, a grandeza do ferrador João da Cruz, pai de Mariana...
Boas razões, parece-me, para ler ou reler os clássicos passada a juventude. Embora haja consequências: em confronto com essas leituras pouco do que se escreve actualmente resistirá.
Conversa de velho, daqueles que sempre dizem "antigamente é que era bom"? Talvez. Falta de sentido de humor? Seguramente. O que é certo é que as amostras que descarrego dos livros mais badalados, na LeyaOnline, na Wook, na Amazon, raramente me motivam para comprar a obra. Matteo perdeu o emprego. Excelente título, de autor de quem muito aprecio outras obras. Pois deixei o Matteo a correr pelas rotundas em contramão, que tenho mais que ler, a vida é breve e a arte longa.
No ano passado, os cinco volumes de Os Miseráveis deram-me leitura para quase todo o Inverno. Entremeados com A Capital, que também nunca tinha lido, A Universe From Nothing, Maria da Fonte, das releituras de As Pupilas do sr. Reitor e de A Morgadinha dos Canaviais...
E neste Inverno, oficialmente prestes a terminar, escolhi outra obra de peso, uma das poucas de Tolstoi que ainda não tinha lido: Ana Karenine. Acabei na noite passada. Dessa leitura de quase todo um Inverno, darei aqui amanhã breve e incompleto testemunho. É que não sou crítico, apenas leitor inveterado.
3 comentários:
aguardo ansiosa, está na minha lista também ;)
continuação de boas leituras e escritos.
Também fico a aguardar. E tenho igualmente de ler/reler alguns clássicos ;)
Cláudia, Cristina, vou desapontá-las: apenas tenho umas breves notas para "postar". Vou ainda revê-las e tentar melhorá-las.
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