Se querem compreender algo do que se passou ontem, nas eleições, e as reais motivações dos eleitores, esqueçam os comentadores e façam como eu: vão à cabeleireira.
Na conversa, enquanto o pouco cabelo que me resta tomba na toalha, manifesto espanto pela derrota de candidata que aprendi a respeitar nos anos em que trabalhámos juntos e tinha tudo, supunha eu, para ganhar folgadamente a Câmara. Prova provada que de política, como de futebol, não entendo nada.
A cabeleireira surpreende-se: — Mas aqui, no Entroncamento, ela nunca podia ganhar!
— Por ser mulher? — pergunto ingenuamente, cuidando que machismo provinciano tivesse prejudicado a minha ex-colega. Ou eventuais ódios antigos, algo contra o pai, a família...
— Não, porque aqui os ferroviários têm muito peso e ela tirou-lhes o passe e às famílias!
— Mas ela não fez nada disso!
— Ora, é deputada e foram os deputados que tiraram o passe aos ferroviários...
Não é, portanto, com sessões de esclarecimento, propaganda partidária, militância, que se motivam os eleitores. Basta o "diz-se que" para arruinar uma candidatura. E a sanha vingadora: Ah a minha filha ficou sem o passe, a minha mulher tem de comprar bilhete para viajar de comboio? Pois alguém vai pagar por isso. Cá se fazem, cá se pagam!
E não, também eu não votei na Isilda, antes convencido de que ela ganharia sem problemas dei o meu voto a candidato que se tem distinguido na oposição. Também não ganhou, mas a tal já estará habituado... Como eu, que não acerto uma!
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