Crescem as noites, arrefecem os dias, alongam-se as sombras, até há pouco exíguas, verticais, duras – eis que difusas se confundem com natureza, casas, objectos, pessoas, e a lucidez que sempre nos faltou não alcança destrinçar nessa penumbra a realidade fugidia.
Não é só o Portugal tristonho a definhar, não; é todo um mundo de aparências, de quimeras, créditos, promessas plásticas de juventude eterna, vidas de sonho decalcadas de revistas de cabeleireira… Sabemos hoje (sabê-lo-emos?), que a riqueza era virtual como o dinheiro, como o crédito bancário, e vemos as prometidas vidas de sonho esvanecerem-se para todo o sempre como sombras que jamais conseguiremos alcançar, ora fugindo à nossa frente se as perseguimos, ora a seguirem-nos trocistas se lhes viramos as costas. Para nosso desgosto e revolta, espera-nos, sarcástica, a frugalidade austera dos nossos pais e avós…
NOTAS: (1) post de Outubro de 2010; infelizmente bem actual.
(2) Título: verso de um poema de Camilo Pessanha.
Sem comentários:
Enviar um comentário