Gosto do frio, da chuva, do vento na face, até de uma boa trovoada, contanto que não esteja demasiado próxima -- por cima da minha casa, como é frequente -- fazendo-me jantar tristemente à luz de velas atum enlatado, pois até o fogão é eléctrico. Gosto das invernias, mesmo temporãs como as de hoje, as maçãs na despensa, o aconchego da lareira e um livro (ebook, para ser mais rigoroso), depois na cama o peso dos cobertores, que ninguém me convence a substituir por edredons, e eu a ler até os olhos se fecharem...
Invernias que anunciam o Todos-os Santos, o São Martinho, o Natal, o Ano Novo -- bons pretextos para conviver, comer, beber, preguiçar e escrever.
O que detesto são as gripes que o mau tempo traz e me perseguem desde que me conheço, as quais em novo me deixavam inválido como um velho e agora -- bom, deitam-me abaixo na mesma, ranhoso, nariz ora entupido ora a pingar, atacado por dores musculares e ósseas, impedido de dormir por tosse convulsiva quase tão dolorosa como a tosse convulsa que me ia matando em miúdo, nesse tempo em que os medicamentos eram o Melhoral, pinceladas nas costas com tintura de iodo, o Vick Vaporub -- e apenas se chamava o médico um pouco antes do padre que ia ministrar a Extrema-Unção...
Contas feitas, no meu razão os créditos das invernias têm excedido largamente os respectivos débitos. Hoje, por exemplo, como a foto sugere:
broas em honra de todos os santos, que são por igual merecedores, mesmo que entretanto algum deles tenha sido des-santificado. Café contra a ameaça de dor de cabeça, uma gota de bagaço da época para desinfectar germes e lavar o açúcar das broas evitando que doa algum dente.
E sim, alegra-me saber que há por aí quem concorde comigo quanto ao saldo dos desconsolos e consolações e o diga muito melhor do que eu, como, por exemplo, esta minha personagem:
NOTA: texto e personagem são meus, que é como quem diz, criação minha. Faço este alerta por razões que um próximo post aclarará, espero.
broas em honra de todos os santos, que são por igual merecedores, mesmo que entretanto algum deles tenha sido des-santificado. Café contra a ameaça de dor de cabeça, uma gota de bagaço da época para desinfectar germes e lavar o açúcar das broas evitando que doa algum dente.
E sim, alegra-me saber que há por aí quem concorde comigo quanto ao saldo dos desconsolos e consolações e o diga muito melhor do que eu, como, por exemplo, esta minha personagem:
— Fidalgo, ponde os olhos em mim, a quem não faltariam motivos de tristeza, e aqui me vedes alegre como passarinho. Digo-vos, a vós que haveis mais e melhor conhecimento do mundo, que percorrestes esta Europa e vistes coisas por nós nem sequer sonhadas: os religiosos mentem, não estamos neste mundo para sofrer, antes para viver a vida o melhor que pudermos. E o que é que a torna deleitosa? Pois dir-vos-ei: o bem comer, que sacia os ventres e fortifica os corpos, o melhor beber, que afasta as tristezas, alegra os corações, a companhia de boas mulheres, amigos verdadeiros, coisas de folgar e gentilezas a polir a bruteza dos espíritos, histórias bem contadas. O resto, o ouro, a prata, as demais riquezas, dão mais preocupações do que satisfação. Alegremos pois a nossos corações, comamos e bebamos — não vos ofendeis, esta noite é tudo por conta da minha casa —, contai-me vossas viagens, vossas aventuras alegres, depois, quando vos cansardes de nossa companhia (e envolveu no olhar as moças que tinha chamado para a mesa), escolhereis qual ou quais levar para o sobrado ou eu vos recomendarei aquelas que melhor vos servirão.
NOTA: texto e personagem são meus, que é como quem diz, criação minha. Faço este alerta por razões que um próximo post aclarará, espero.
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