As festas do Minho e os anúncios omnipresentes "compra-se ouro, máxima descrição" provam a quem dúvidas tiver que o oiro, ou ouro, voltou a estar na moda. E eu lembrei-me de já ter antes escrito sobre o nobre metal. Foi Entre Cós e Alpedriz:
Atrai as atenções uma mota com side car, ribombando como os foguetes que regularmente atroam os ares, estremecendo vidros e obrigando a semicerrar as pálpebras enquanto se aguarda o próximo estrondo, já anunciado pelo sibilar na subida aos céus. Prontamente todos a rodeiam, admirando-a — Ah, como gostariam os rapazes de poder ter um dia uma BMW reluzente como aquela! Também as mulheres se aproximam, mas não é a máquina que as seduz, é o conteúdo que o dono e a mulher retiram do barco com rodas e expõem: brincos, pulseiras, anéis, fios, tudo pregado a tabuinhas que fazem as vezes de expositores, reluzem em tons de oiro e de prata. Conversam com o casal de vendedores, relembrando a jóia que o marido lhes comprou há anos, quando a vida corria melhor, inteirando-se da valorização de então para cá:
— Quanto é que vossemecê me dava agora por esta pulseira? E alardeiam orgulhosas a mais-valia conseguida com o investimento ou dizem à vizinha que sim, aqueles fios são lindos, mas não se comparam com o que herdaram da avó, entretanto enriquecido e adornado com uma libra de oiro. Os ourives confirmam sorridentes, certos de que a melhor publicidade vem das clientes satisfeitas, assim nem é difícil convencer o povo de que oiro e prata são dos poucos bens duradoiros neste mundo, valorizando sempre, pelo que vale a pena o sacrifício, gozarão elas a beleza das jóias, fruirão os herdeiros do seu valor, sempre crescente.
Mulheres com outro poder de compra chegam-se, tomam nas mãos os artigos, sopesam-nos, criticam a qualidade para ouvirem da boca dos negociantes juras de honestidade e quilates de garantia; deixar-se-ão convencer e procurarão os respectivos homens...
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