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terça-feira, 13 de agosto de 2013

Imerso num mar de dúvidas

Desde a mais tenra infância que os porquês da vida e do Universo me intrigam e inquietam.
Cresci, mais em anos do que em tamanho, e deixei de irritar os outros com questões que a muito poucos interessam, por demais preocupados com assuntos verdadeiramente importantes, como o campeonato de futebol, a Albuquerque e o negócio dos swaps, o nascimento de um bebé na família real britânica, as viagens do novo papa.

Passei a procurar respostas nos livros, sem desprezar obras religiosas como A Bíblia; mas nela encontrei sobretudo poesia primorosa, como o Cântico dos Cânticos, e um repositório de histórias encantadoras na sua ingenuidade, como o Génesis, a par de outras de fraco proveito e mau exemplo, como Abraão e o filho, José e os irmãos, o velho pai que os filhos sodomizam... Nem o Novo Testamento escapa à vulgaridade, com S. João obcecado em nos convencer de que era o discípulo que Jesus mais amava, discussões de comadres entre os apóstolos sobre o respectivo lugar no poleiro celeste, comparações entre o baptismo com o Espírito Santo e o baptismo com água do Baptista...

Palavreado sem significado, como muito daquilo que hoje se escreve, que me traz invariavelmente à boca o velho Porquê? O que é que isso quer dizer? Qual o significado desse adjectivo, desse substantivo, desse verbo, dessa metáfora, dessa comparação?
Pois, todos o sabemos, palavras, por bonitas que sejam, depressa as leva o vento, sem que nos deixem ideias, as quais, raras e preciosas como as pérolas autênticas, devem ser colhidas com esforço nas profundezas do mar do pensamento. As quais, quando existem, dispensam o floreado de palavras, rejeitam a expressão gongórica, recusam os artifícios da retórica. Ideias que surgem sobretudo na ciência e raramente sobrevivem aos argumentos destruidores dos pares e à experimentação. E a ciência, tão compartimentada, tão especializada, com a sua metalinguagem, surge opaca ao leigo como eu. Só o talento de cientistas-escritores que a Gradiva tem trazido até nós me tem permitido acompanhar, vagamente, o espantoso mundo das descobertas.
Há uns anos, insatisfeito com a escassez de obras de divulgação científica e com a lentidão com que são traduzidas, com a sua desactualização, inevitável dada a rapidez do progresso científico, passei, graças à Amazon e ao Kindle, a ler penosamente no original as obras mais recentes. Tenho encontrado, não a resposta aos grandes porquês, que a ciência não é o domínio das certezas, mas novas questões, igualmente fascinantes, de que, por vezes, aqui tenho dado conta, como, por exemplo, reflexões sobre a natureza do Universo, quais e quantas as suas dimensões, como pôde surgir do nada, a matéria e a energia negras, o espaço e o tempo... Saber que não terei as respostas não me desanima. Sou capaz de viver sem certezas. Também eu prefiro a incerteza e a dúvida à certeza da ignorância.





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