Conhecíamos Miranda do Douro de visita anterior, quando por lá procurei sem sucesso vestígios do Mirandês.
O Mirandês foi descoberto em finais do séc. XIX, contava o professor Lindley Cintra, por um jovem estudante de medicina, de seu nome Leite de Vasconcelos, que ouviu o companheiro de quarto cantar numa língua estranha. Intrigado, foi à terra do colega, reuniu materiais, e apresentou num congresso de Filologia Românica a descoberta de uma língua até então desconhecida.
A paixão pelo estudo das línguas levou Leite de Vasconcelos a deixar a medicina, vindo a ser nome marcante na Filologia Românica. Entre outras descobertas, a de que o Mirandês era afinal um dialecto leonês, vestígio fossilizado do falar do antigo reino de Leão -- hoje dizem que é uma língua, mas importa destrinçar motivações económicas e políticas de argumentos linguísticos.
Ora o Mirandês ficou-me atravessado desde os tempos de faculdade, onde aprendi que apenas em três regiões nacionais se não falava Português -- Miranda do Douro, Guadramil, Rio de Onor --, e porque no meu último teste da licenciatura, precisamente Linguística Românica, feito na sala Leite de Vasconcelos em dia de tal calor que o professor Lindley Cintra nos pediu licença para desapertar a gravata, saiu um texto que eu identifiquei como sendo Leonês de uma região muito próxima de Portugal, uma vez que continha alguns porteguesismos.
À saída, em conversa com colegas, senti crescerem-me orelhas de burro por não ter visto que só podia ser Mirandês... Enfim, ainda tive treze no teste, então uma belíssima nota.
Sem comentários:
Enviar um comentário