No blogue Horas Extraordinárias, a sua autora reflecte hoje sobre motivações para a leitura e, sobretudo, sobre a utilidade e a viabilidade de procurar ensinar outros a gostarem de ler.
No meu caso, para além de factores hereditários, a que voltarei noutra ocasião, suponho que a fome pela leitura terá sido reforçada por solidão e curiosidade. Para o gosto pelos livros, muito contribuíram duas mulheres que não esqueci na dedicatória do meu primeiro romance, Do lacrau e da sua picada: a minha professora primária Margarida Martins d'Aires Filipe e Margarida de Carvalho, minha professora de Português e responsável pela biblioteca na Escola Industrial e Comercial de Leiria. E a Biblioteca Itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian.
Mas a minha formação como leitor ecléctico e devorador insaciável de livros deve-se talvez a um montão deles que descobri, tinha treze ou catorze anos, em casa modesta em Leiria onde a minha mãe me hospedou. Velha, escura, tristonha. O que interessa é que, ao fundo de um corredor, amontoavam-se centenas de livros, sem qualquer ordem. Para um miúdo viciado na leitura, afastado da família, num meio completamente estranho, foi um maná dos céus. Devorava um ou dois por dia, misturando Júlio Dinis com Caryl Chessman, o condenado à morte que na cela se tornou escritor, Thor Heyerdahl e a sua Kon-Tiki, Júlio Verne, Dumas, Salgari, Defoe, histórias policiais, do faroeste... Aconchegado e alimentado como lagarta na maçã, os dias voavam, as saudades não doíam tanto...
Naquele primeiro período, os resultados escolares não foram brilhantes...
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