Visto pela vigia, o mar, em plena ondulação, transformou-se em nosso guarda e, além dele, não havia horizonte. Foi o bastante para que Juan confessasse que sempre o intrigara a nossa herança errante e marítima e que, de um momento para o outro, pressentia que o próprio ermo marítimo nos ia reter para sempre. Parecia que fôramos atraídos a uma vaga imóvel, e Juan pediu-me que eu lhe transmitisse O besante, convencido de que se o trocássemos com o mar, seríamos soltos em terra firme.
Não encontrei palavras minhas para o dissuadir, e um pensamento arcaico respondeu por mim:
O mar e a terra não são humanos,
tratam todos os seres como se fossem funâmbulos.
O espaço entre a terra e o mar,
não se assemelha ao fole da forja?
Por dentro, está vazio,
mas nunca se esvazia.
Quanto mais o accionam, mais ele sopra.
Quanto mais se fala,
mais cerrado é o nosso labirinto.
Mais vale que o homem
repouse no interior do fole.
E concluí, para que me compreendesse:
-Não foi o mar, Juan,
mas o seu movimento,
que nos foi dado em herança.
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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
O besante
Extraordinário, extraordinariamente bem escrito, o conto A Terra fora do sítio, de Maria Gabriela Llansol, que ontem reli pela segunda vez. Pode ser descarregado gratuitamente aqui, na Biblioteca Digital Camões. Para aguçar o apetite:
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