É sabido, é repetido até à exaustão: nós, que escrevemos em blogues, falamos do que não sabemos; move-nos sanha justiceira, inveja, incompreensão, ignorância sobretudo; o ricaço muda a sede para a Holanda, como tantos outros fizeram já, por nossa culpa, que os perseguimos para que paguem impostos, que os acusamos de serem responsáveis pela situação nacional, que ousamos falar deles como sendo "ricos", quando, na verdade, são apenas trabalhadores a viverem do seu salário, quantas vezes bem modesto.
A mim, que me guio mais por sentimentos do que por razões, ensinado pelos anos de que cada qual tem a sua, pergunto: Onde é que enriqueceram? À custa de quem? Nessa Holanda, como emigrantes, ou cá, a importar bens para arruinar a nossa produção? Apenas com o suor do seu rosto, ou à custa de milhares de desgraçados e desgraçadas, que ouço muitas vezes dizerem que há horas deveriam ter saído e fechado a caixa do hipermercado? E os filhos à espera à porta da escola, a crescerem sem pais presentes, para que os patrões, fazendo contas, deslocalizem fortunas para onde os impostos sejam mais baixos ou as condições de financiamento melhores.
É assim que me fazem dar razão ao camarada Jerónimo: pátria, povo, servem como financiadores, mercados, consumidores. Que os grandes capitalistas nos lixem, já não é pouco; agora que tantos se dêem ao trabalho de defender o indefensável, a saber, que é compreensível que o capital por cá acumulado deserte, irra, é de mais. Cá para o pagante -- chega. Basta. E que ninguém se esqueça: foram os génios das finanças, os economistas, os financeiros que nos conduziram ao ponto em que estamos.
7 comentários:
Independente da opinião, vale a pena ler:
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=529417&pn=1
Obrigado. Já tinha lido -- foi até o que desencadeou o meu post. Sabem tudo de finanças, tudo justificam, excepto como é que eles -- falo dos entendidos -- nos meteram na alhada em que estamos. Neste momento, acredito tanto em economistas como em sociólogos.
A ciência deve ser humilde. Mas não espero ouvir os economistas e financeiros, os políticos por eles aconselhados, a reconhecerem que se enganaram e nos enganaram ao longo dos anos. Pelo contrário: nada foi com nenhum deles. De forma que a responsabilidade só pode ser do mesmo de sempre: minha, que votei neles.
Ensinado pelos anos e pela renoiriana Regra do Jogo, ou não?
Pois, a minha fé na Razão tem vindo a diminuir e, inversamente, a Emoção tem vindo a substitui-la. Será também do meu temperamento romântico, não sei, mas desconfio cada vez mais de justificações bem urdidas.
Quanto à "renoiriana Regra do Jogo", não a conheço...
A um escritor com dois romances publicados não ficaria mal um pouco mais de cultura. Renoir, A Regra do Jogo, cinema francês, diz-lhe alguma coisa?
Vejo por aqui muito pouco saber e muito pouco mundo. Fracote para blogue de escritor.
João Almeida-Bessa
Muito obrigado pelo esclarecimento. Estou sempre pronto a aprender. Quanto à cultura, je fais ce que je peux. Não, não conheço o filme que refere; com raras excepções, nunca fui grande apreciador de cinema francês. Obrigado por me lembrar da necessidade de mudar essa coisa dos dois romances publicados: até o link que lá está não funciona há muito.
Se lhe aprouver, vá passando, nem que seja apenas para ajudar a melhorar o blogue.
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