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sexta-feira, 24 de março de 2006
terça-feira, 21 de março de 2006
Oração ou frase?
Rascunho, 1ª parte. Agradeço comentários.
Procurando na Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário ( TLEBS) pelo termo oração não o encontramos, excepto em referências indirectas, como, por exemplo, Valor restritivo das orações relativas. Aparentemente esta omissão não é relevante, visto que dois termos, frase e predicação dão conta respectivamente das propriedades sintácticas e semânticas de oração e já no séc. XIX Barbosa defendia que "Oração ou Proposição ou Frase (pois tudo quer dizer o mesmo) é qualquer juízo do entendimento, expressado com palavras". (Barbosa (1881:255), apud Marrafa (1993:44)).
Importa, no entanto, mais do que defender um termo enraizado no ensino da gramática, verificar se não haverá motivação linguística suficiente para legitimar o emprego de oração, entendida não apenas como "qualquer juízo do entendimento", mas sobretudo como um objecto semântico-sintáctico que "pela sua estrutura, representa o objecto mais propício à análise gramatical, por melhor revelar as relações que os seus componentes mantém entre si sem apelar para o entorno (situação e outros elementos extra-linguísticos) em que se acha inserido." (Bechara (1999:406)).
A definição de frase da TLEBS, "domínio em que existe um único verbo pertencente à classe dos verbos principais ou à classe dos verbos copulativos e em que se encontram realizados o sujeito e os complementos exigidos / seleccionados pelo verbo principal ou pelo predicativo do sujeito" é estritamente sintáctica e não parece suficiente para excluir enunciados ilógicos, como "A manteiga comeu o pão", uma vez que no domínio considerado estão satisfeitas as exigências sintácticas do verbo comer. Por outro lado, não fornece, por si só, forma de distinguir as diferentes funções sintácticas do argumento não sujeito em enunciados como (1):
1. a) O João está em baixo.
b) O João está em casa.
Com efeito, embora ambas as frases estejam bem formadas, os constituintes a negrito têm diferentes funções sintácticas, que não são identificáveis sem recurso ao conceito semântico de predicação: em (1.a)) atribui-se à entidade O João a propriedade de estar deprimido; em (1.b)) estabelece-se uma relação entre as entidades O João e casa. A desambiguação sintáctica carece de informação semântica, pelo que o termo tradicional oração parece mais adequado que frase que, tal como está definida na TLEBS, apenas dá conta de restrições sintácticas impostas pelo núcleo verbal.
A alternância activa / passiva parece fornecer outro argumento em favor de oração, entendida como um objecto semântico-sintáctico. Como refere Duarte in (Mateus et al. 2003:529), "verbos de dois lugares como medir, pesar, quando se constroem com um sujeito com o papel de Tema, não podem ocorrer em passivas sintácticas..."
2. a) O Pedro pesa 85 quilos.
b) *80 quilos são pesados pelo Pedro.
Se argumentos como os acima apresentados forem pertinentes, pode justificar-se a inclusão de oração na TLEBS. Comentários?
Procurando na Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário ( TLEBS) pelo termo oração não o encontramos, excepto em referências indirectas, como, por exemplo, Valor restritivo das orações relativas. Aparentemente esta omissão não é relevante, visto que dois termos, frase e predicação dão conta respectivamente das propriedades sintácticas e semânticas de oração e já no séc. XIX Barbosa defendia que "Oração ou Proposição ou Frase (pois tudo quer dizer o mesmo) é qualquer juízo do entendimento, expressado com palavras". (Barbosa (1881:255), apud Marrafa (1993:44)).
Importa, no entanto, mais do que defender um termo enraizado no ensino da gramática, verificar se não haverá motivação linguística suficiente para legitimar o emprego de oração, entendida não apenas como "qualquer juízo do entendimento", mas sobretudo como um objecto semântico-sintáctico que "pela sua estrutura, representa o objecto mais propício à análise gramatical, por melhor revelar as relações que os seus componentes mantém entre si sem apelar para o entorno (situação e outros elementos extra-linguísticos) em que se acha inserido." (Bechara (1999:406)).
A definição de frase da TLEBS, "domínio em que existe um único verbo pertencente à classe dos verbos principais ou à classe dos verbos copulativos e em que se encontram realizados o sujeito e os complementos exigidos / seleccionados pelo verbo principal ou pelo predicativo do sujeito" é estritamente sintáctica e não parece suficiente para excluir enunciados ilógicos, como "A manteiga comeu o pão", uma vez que no domínio considerado estão satisfeitas as exigências sintácticas do verbo comer. Por outro lado, não fornece, por si só, forma de distinguir as diferentes funções sintácticas do argumento não sujeito em enunciados como (1):
1. a) O João está em baixo.
b) O João está em casa.
Com efeito, embora ambas as frases estejam bem formadas, os constituintes a negrito têm diferentes funções sintácticas, que não são identificáveis sem recurso ao conceito semântico de predicação: em (1.a)) atribui-se à entidade O João a propriedade de estar deprimido; em (1.b)) estabelece-se uma relação entre as entidades O João e casa. A desambiguação sintáctica carece de informação semântica, pelo que o termo tradicional oração parece mais adequado que frase que, tal como está definida na TLEBS, apenas dá conta de restrições sintácticas impostas pelo núcleo verbal.
A alternância activa / passiva parece fornecer outro argumento em favor de oração, entendida como um objecto semântico-sintáctico. Como refere Duarte in (Mateus et al. 2003:529), "verbos de dois lugares como medir, pesar, quando se constroem com um sujeito com o papel de Tema, não podem ocorrer em passivas sintácticas..."
2. a) O Pedro pesa 85 quilos.
b) *80 quilos são pesados pelo Pedro.
Se argumentos como os acima apresentados forem pertinentes, pode justificar-se a inclusão de oração na TLEBS. Comentários?
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