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quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Bom Natal

Pouco dado a festas, aprecio o Natal e comemoro-o com gosto, comendo e bebendo em família, em homenagem a um menino que (terá) nascido pobre, num estábulo, aquecido pelo bafo de animais e depois, em crescido, nos deixou ensinamentos que se seguidos pelos seus discípulos e pelos seus adversários teriam feito do Mundo um lugar bem melhor para todos. Há, também, a nostalgia da infância, quando deixava o sapato na lareira para que pela calada da noite o Menino Jesus lá deixasse prenda -- uma peúgas, talvez uns rebuçados, jamais brinquedos.

Por tudo isto, por muito mais, que não pode agora ser escrito porque a família me espera, impaciente, um bom Natal.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Cuidado com o Windows Vista!

Foi de má vontade que comecei a utilizar o Vista. Mas, tendo comprado em Maio computador novo, em que vinha pré-instalado, achei que mudar era complicado. Até comprei, para lhe fazer companhia, um Office Casa & Estudantes, com 3 licenças.
Hoje, estava eu tranquilamente concentrado na escrita, reiniciou, interrompendo-me o trabalho sem me pedir autorização, apenas informando que estava a configurar actualizações... e depois ERRO!
\boot\bcd
Tentei tudo. Procurei na NET: utilizar o CD de recuperação. Pois. Mas formata todas as partições do computador! Telefonei para a Toshiba. O mesmo. A recuperação apaga todo o disco, repondo o computador no estado em que veio da fábrica.
Recorri ao Linux e copiei as pastas Documents e Images. E depois, não tive outro remédio senão aceitar a destruição de tudo o resto. Ainda sem inventário dos estragos, sei que perdi todo o mail recebido desde Maio, as passwords armazenadas, creio que todos os registos do One Note (usava-o muito)... Precisarei de semanas para tentar repor os dados e os programas, e muita coisa estará, quase de certeza, irremediavelmente perdida. E o Office já não trabalhará porque já foi instalado 3 vezes - uma delas no computador da minha mulher, vítima de idêntico problema meses atrás.
Como é possível que o Vista, com tanta treta de segurança, simplesmente falhe após uma actualização de rotina e não haja maneira fácil e não destrutiva de o pôr a funcionar?
É muito prejuízo, em tempo e em dinheiro.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Lançamento do romance Trilhos, de José Cavalheiro


De Adelino Gonçalves, o seguinte convite para o lançamento do romance Trilhos:
"Terá lugar no Diana Bar / Biblioteca de praia da Póvoa de Varzim no dia 13 de Dezembro às 21 horas e 30 minutos.

Gostaria de os ver por lá.
Adelino Gonçalves
Editora Arcano Zero

SINOPSE
Depois de M’Africando, José Cavalheiro abre novas perspectivas em Trilhos. É um romance que nos transporta da realidade à Realidade. Obriga-nos a questionar quem somos, para onde vamos... Uma aventura que o autor nos convida a empreender levando apenas como companhia um condutor, cada um, e um veículo, o nosso Corpo, a caminho do Homem completo cujo potencial transportamos.
De nos perdermos entre veredas e sonhos, montanhas e visões, escolhas e destino em busca do Sol.
A linguagem do autor é nova com aromas exóticos e uma textura de saudades e suavidades.

Uma obra que marca quem nela embarca."

Que o lançamento corra bem e autor e a obra conheçam o sucesso. Tive já o prazer de ler M'Africando e aguardo com muita curiosidade o novo romance de José Cavalheiro.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Contador de histórias

"A vitória já não me espera" *

* verso de "Canto Moço", José Afonso
Aí por 1993/94, era Manuela Ferreira Leite ministra da Educação, os sindicatos infligiram-me derrota amarga, que me fez, pela segunda e última vez, des-sindicalizar. Estávamos a ganhar, não havia como perder, e um tal Teodoro assinou um acordo com o ME...
Saiu-me então este poema, que ninguém apreciou:

Destroçado pela derrota derramo minha amargura
Pelos caminhos deste país que já foi de vinho e mel
E a ela perdura, amarela e viscosa como fel,
Tingindo cada rosto, cada figura,
De lívida brancura

Já nada é como era dantes
e o cabelo que me vai faltando é apenas
breve indício do Inverno que se vem aproximando.
Mas o que me dói e não tem cura
neste entardecer azedo
é ver o país a adormecer cinzento
de indiferença e pasmo bafiento

Ninguém faz nada sem proveito.
Pelas auto-estradas que conduzem aos centros comerciais
telemóveis saúdam as novas catedrais
(Por aí fora, o abandono
Matas queimadas, hortas perdidas
peixes lançados ao mar
fábricas fechadas, reformas antecipadas
país de alheio dono
Desespero do desemprego, aldeias abandonadas
oh subsídio-servo-dependência!)

Não, nem orgulho ferido nem sonhos perdidos
agora já só o meu olhar camponês me magoa
como o mato à minha terra onde já nada é como era dantes...
Chove no Verão, o Inverno aquece
E o nevoeiro não tece mistérios bastantes
outros que a miséria deste Portugal que esmorece

Só sei que de lado nenhum sairá a luz que rompe as trevas
porque já nem a noite é de breu
nem os dias resplandecem
e os amanhãs não cantam,
silenciosos como a nossa triste terra.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Ao Menino Jesus


Lista, ainda incompleta, de sugestões de prendas para mim
Livros:
Um Homem: Klaus Klump/A máquina de Joseph Walser, Gonçalo Tavares, FNAC, 14,36 euros;
Myra, Maria Velho da Costa, FNAC, 14,40 euros;
A Invenção do amor e outros poemas, Daniel Filpe, FNAC, 6,24 euros;
Filmes:
Ran, os senhores da guerra, Akira Kurosawa, FNAC, 9,95 euros (qualquer outro filme de Akira Kurosawa é bem-vindo);
O grande ditador, Charlie Chaplin, FNAC, 14,95 (qualquer outro filme de Chaplin é bem-vindo);
Utilitários
Pantufas (que não escorreguem no chão molhado);
Jogo de chaves de luneta (pequenas);
(...)

As escolhas do Diabo

De um lado, as imposições do Ministério da Educação, formuladas em puro "eduquês", que visam transformar os professores em meros burocratas; do outro, o ridículo das propostas sindicais, como a que há pouco ouvi a Mário Nogueira: que a avaliação dos professores se faça este ano mediante apresentação de "relatório crítico"! O que sofri ao ler tantos, copiados uns pelos outros, mal escritos, recheados de erros de Português, idiotas do ponto de vista pedagógico e científico, insinuando imodestamente, porque sem a grandeza de Mohamed Ali, Eu sou o maior!
(Nas ruas e na televisão, comportamentos e tomadas de posição de "colegas" em que me não revejo e só me envergonham.)
Entre ME e sindicatos, que venha o Diabo e escolha. A partir de agora, eu estou fora. Derrotado, como sempre. Umas vezes pelo primeiro, outras pelos segundos.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Ministra da Educação falou e (não) disse

Há ministros e ministérios de que apenas se fala quando há problemas. Como a Educação: só quando as asneiras são reiteradas e assumem proporções escandalosas tem lugar nos espaços noticiosos. Foi assim com as colocações de professores, com os exames nacionais, com a TLEBS, agora com a avaliação de desempenho e com o Estatuto do Aluno… Mas hoje foi um exagero: vi primeiro a minha ministra numa conferência de imprensa à saída de um Conselho de Ministros extraordinário, sobre Educação, e depois, há pouco, entrevistada por Judite Sousa na 1. Confesso que não gosto de a ver e, menos ainda, de a ouvir. Protagonismo a mais para um cargo que deveria ser discreto, carecendo de mais obras e de menos conversas. Como as primeiras, certamente motivadas por boas intenções, enquanto não vão aquecer um pouco mais o Inferno, se ressentem da forma desajeitada que a sua implementação assume, esquecendo frequentemente que o porta-voz do governo é o Diário da República, comento as segundas, as conversas.

E nesta matéria, verifica-se que a senhora ministra fala de mais e diz de menos; desembrulha e encadeia lugares-comuns, em ritmo acelerado para evitar que lhe sejam colocadas questões, denota nervosismo, que nunca ajuda a persuadir, jamais responde com clareza e objectividade, tanto às questões que lhe colocam os entrevistadores como àquelas que sabe serem as nossas, as dos professores e das escolas. Se algo de importante consegui reter daquela verborreia, que como torneira aberta despejou chavões sobre chavões, é que ficará tudo na mesma. Haverá, é certo, alguma flexibilidade, mas o modelo sacrossanto, só não ungido pelo Sumo Pontífice porque este governo é laico, o modelo fica na mesma, adornado por alusões vagas, como a promessa, já anteriormente feita, mas nunca implementada, de compensações horárias para os avaliadores.

Pelo meio, por aqui e por ali, o reconhecimento do absurdo do modelo de avaliação, que ela própria propôs e continua a defender intransigentemente, com uma fé e uma arrogância que fazem, inevitavelmente, recordar a mentalidade do "orgulhosamente sós"; por exemplo, para combater o abandono escolar, cada professor, ao saber (como?) que um aluno anulou ou vai anular a matrícula (isso é abandono? E se for para fazer a disciplina em exame final, com melhor nota? Ou porque, fora da escola, há formas de fazer um ciclo de três anos em três meses, sem esforço e com sucesso assegurado?) deve reunir com o aluno, reunir o Conselho de Turma, reunir com os pais (tê-los-á? Virão à escola, se não for para espancar o professor?) Simples, não? O meu 7º A tem vinte professores. Se nenhum quiser ficar atrás dos outros, haverá vinte reuniões com cada aluno em risco de abandono, vinte com os pais de cada um deles… Não esquecer de lavrar as respectivas actas, ou faltarão as "evidências"! Ora uma colega do meu departamento tem 15 turmas, 28 alunos na maior parte delas... (Eu sei, os professores não trabalham nem querem trabalhar, viva a ministra que os há-de pôr na linha…) Quando dizemos que o modelo de avaliação é burocrático e absurdo, sabemos do que falamos. Quando a ministra diz que o vai simplificar, aguardamos legislação.

Ouvir a senhora ministra não foi uma completa perda de tempo. Fiquei a saber (1) que só terá aulas assistidas quem o pedir, por pretender ter Muito Bom ou Excelente. (Haverá professor que se considere inferior aos outros?). Só não percebo qual o problema em ter aulas assistidas. Há muitos anos que digo que as portas das minhas salas de aula estão sempre abertas – e quando o calor do Verão aperta, são, literalmente, escancaradas. (2) Que os resultados escolares dos alunos não serão tidos, por enquanto, em conta. Que pena! Há anos que não reprovo alunos, ficarei prejudicado. (3) Que qualquer professor terá o direito de ser avaliado por alguém da sua área disciplinar. Elementar, dirá qualquer Sherlock. De resto, tudo na mesma. A montanha pariu um rato – e a ministra não chega ao Ano Novo. Aposto: um dos meus romances contra um lanche ou, melhor, contra um jantar.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Avaliação de desempenho suspensa na ES Entroncamento

Os professores da Escola Secundária com 3º Ciclo do Entroncamento aprovaram, em reunião plenária realizada hoje, a suspensão do actual modelo de avaliação de desempenho, tendo havido 120 votos a favor da suspensão, 5 contra e 2 nulos.
A escola tinha já aprovado um pedido de suspensão, entretanto indeferido pela senhora ministra.
Lamento sinceramente que a cegueira e a obstinação da equipa ministerial nos tenham encurralado, trazendo para as escolas desalento, desencanto, frustração; uma classe pacata, obediente, respeitadora das hierarquias é hoje uma classe revoltada - e não é difícil prever que o pior ainda está para vir.

Para afugentar o desalento outonal



Do grande Prévert, esta obra-prima:

CHANSON DES ESCARGOTS QUI VONT À L'ENTERREMENT

"A l'enterrement d'une feuille morte

Deux escargots s'en vont
Ils ont la coquille noire
Du crêpe autour des cornes
Ils s'en vont dans le soir
Un très beau soir d'automne
Hélas quand ils arrivent
C'est déjà le printemps
Les feuilles qui étaient mortes
Sont toutes réssucitées
Et les deux escargots
Sont très désappointés
Mais voila le soleil
Le soleil qui leur dit
Prenez prenez la peine
La peine de vous asseoir
Prenez un verre de bière
Si le coeur vous en dit
Prenez si ça vous plaît
L'autocar pour Paris
Il partira ce soir
Vous verrez du pays
Mais ne prenez pas le deuil
C'est moi qui vous le dit
Ça noircit le blanc de l'oeil
Et puis ça enlaidit
Les histoires de cercueils
C'est triste et pas joli
Reprenez vous couleurs
Les couleurs de la vie
Alors toutes les bêtes
Les arbres et les plantes
Se mettent a chanter
A chanter a tue-tête
La vrai chanson vivante
La chanson de l'été
Et tout le monde de boire
Tout le monde de trinquer
C'est un très joli soir
Un joli soir d'été
Et les deux escargots
S'en retournent chez eux
Ils s'en vont très émus
Ils s'en vont très heureux
Comme ils ont beaucoup bu
Ils titubent un p'tit peu
Mais là-haut dans le ciel
La lune veille sur eux"

Jacques Prévert, Paroles

(Dois caracóis vão, carregados de luto, ao enterro de uma folha morta, numa noite de Outono; quando chegam, é já Primavera, as folhas mortas ressuscitaram, e os caracóis ficam desapontados; Mas o Sol convida-os a sentarem-se, a beberem um copo de cerveja (si le coeur vous en dit), as histórias de caixões são tristes e nada bonitas. Então todos os animais, as árvores e as plantas se põem a cantar a plenos pulmões a verdadeira canção dos seres vivos, a canção do Verão. E toda a gente a beber, e toda a gente a emborcar, é uma bela tarde de Verão. E os dois caracóis regressam a casa, comovidos, muito felizes. Como beberam bastante, vacilam um pouco, mas lá no alto do céu a Lua olha por eles.)


segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A Verdade Suprema

"Ministra da Educação diz que a avaliação "está em curso em toda as escolas". Estranho... A minha escola foi uma das que pediu a suspensão - e suponho que muitas outras fizeram o mesmo. Mas não. Estamos enganados. Não pedimos a suspensão da dita cuja porque, segundo a ministra, "Não está suspensa a avaliação, não pode estar suspensa. Insisto: não se pode pedir a suspensão da avaliação. É muito importante que ela prossiga e está em curso em todas as escolas".

Diz o povo que não há pior cego do que aquele que não quer ver. Esta ministra vai ainda mais longe: não só não quer ver, não só recusa as evidências, como se obstina (de forma que me abstenho de classificar por respeito para com o cargo que desempenha) em afirmar a impossibilidade de poder haver outro ponto de vista que não o seu.
Curiosamente, ao "corrigir" o Estatuto do Aluno, outra criação genial da actual equipa ministerial, afirma ter constatado "que a aplicação do estatuto aos regulamentos internos não se fazia nos termos do próprio espírito da lei do estatuto do aluno"! Mais uma vez, a culpa é das escolas, que não sabem ler as instruções ministeriais! Não seria melhor anexar à legislação que vai produzindo as respectivas correcções aos Regulamentos Internos? E, já agora, mandar também os Projectos Educativos, Projectos Curriculares de Turma, Planos Educativos e quejandos, que tanto tempo fazem perder, inutilmente, às escolas e aos professores? Ou trata-se de castigo, para punir uma classe de calaceiros?

domingo, 16 de novembro de 2008

Ronin

Ao fim de 25 anos, interrompi o ensino do karaté, mas não a prática, que a paixão continua, tão ou mais viva do que quando comecei. O facto de não ter alunos libertou-me de responsabilidades e de compromissos - quota da federação, pertença a uma associação, programas técnicos, exames, estágios...
Como um samurai sem senhor, um ronin, estou livre para seguir o caminho que bem entender, indiferente a querelas de estilos e linhas, afastado das guerras chatas e desgastantes... E esse caminho levou-me, mais uma vez, com o meu amigo Augusto, o meu primeiro professor de karaté, a Paredes de Coura para treinar com o mestre Vilaça Pinto.
Como jovens aprendizes, dormimos no ginásio do mestre, apesar do frio cortante, treinámos sob a sua orientação, beneficiámos das suas numerosas correcções. Cansados, mas satisfeitos, com muita matéria para estudar (nós estudamos com o corpo), eis-nos já a pensar na próxima viagem a Paredes de Coura...

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Uma fera!


O Rotweiller é uma verdadeira fera. Não há pantufas que lhe resistam.
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Duas meninas


Por falar em cães grandes, a Sete (June da Casa de S. Domingos). Com saudade dos dez anos em que fomos inseparáveis.
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Imperdível

Este post de João Gonçalves, "Contra a amabilidade"
Até quanto aos cães estamos de acordo: "Por isso gosto de cães grandes e detesto caniches." Acrescento: foram os pequeninos (o último foi uma cocker) que me morderam.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Quero o meu dinheiro!

Talvez sejam reminiscências do salazarismo – não sei. O que sei é que empresas como os CTT fazem a sua própria lei e têm práticas de honestidade questionável, desprezando o cidadão cliente que lhes paga os serviços.


Veja-se o que aconteceu comigo: enviei um dos meus romances à cobrança e o destinatário pagou-o prontamente; recebi o respectivo vale de correio, mas não dei a devida atenção à data limite para levantamento (não vem a propósito, mas lido mal com o tempo e raramente sei a quantas ando). O que importa é que – e a assumo total responsabilidade por esse facto – deixei passar o prazo e cinco dias depois de terminado fui aos CTT para receber o meu dinheiro. "Não pode ser", informa a funcionária. "Para receber o vale tem de fazer um pedido… e pagar 2,5 euros."


"Não pago", respondo. "O dinheiro é meu, não vejo porque é que havia de pagar para o receber. Do valor do livro, 12,5 euros, os CTT receberam, como intermediários no negócio, 7,5 euros! Receberam tudo o que quiseram, não vejo por que é que devem receber mais, visto que, entretanto, não me prestaram mais nenhum serviço."


O diálogo de surdos prolonga-se, sempre educadamente. Então, para sair dali, coloco assim a questão: "Não me pode dar o meu dinheiro porque o prazo terminou. Os CTT não podem ficar com ele porque a tal não têm direito; então, devolva-o ao comprador do livro." Não pode ser. "Então vamos oferecê-lo a uma instituição de caridade." Também não pode ser. Para se livrar dos "trilemas" (o dinheiro ou vai para quem o pagou, ou para mim, que o deveria receber, ou para caridade) a senhora vai chamar a chefe. Tudo se repete. Insisto: no caso, os CTT funcionam como entidade bancária; será que, num momento de falta de liquidez, os meus 12,5 euros ocuparam tanto espaço que, por cinco dias, me tenham de cobrar juros de 20%? Quanto não daria ao ano?


Desnecessário seria dizer que não recebi o meu dinheiro. Vou reclamar. Telefonei para os números do Provedor do Cliente – ninguém atende. Vou escrever. Quero o meu dinheiro, não pela quantia, que, mesmo assim, dá um almoço para dois no Ribeiro, mas por duas razões: é meu e não é dos CTT.

Como é que se chama a quem se apropria do alheio?

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Avaliação de desempenho

Já há quem olhe para a Avaliação de Desempenho dos professores (e para a consequente retórica ministerial) com olhos de ver. Vale a pena ler no blogue Da Literatura, o excelente post sobre o assunto, da autoria de João Paulo Sousa.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Não cuspas contra o vento...

Nada tenho a favor ou contra Rodrigues dos Santos, e não me impressiona minimamente saber que vende que se farta -- melhor para ele e para os felizardos dos seus leitores. Nem sequer me quero pronunciar sobre os seus romances, dado que, embora tenha vários em casa, não li, e creio que não lerei, nenhum deles. Não é inveja, não é má vontade, tão-somente desinteresse por uma escrita que não faz o meu género. Mas, confesso, entrevistas como esta irritam-me.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Avaliação de desempenho dos professores

Entrevistada pelo Correio da Manhã sobre a malfadada Avaliação de Desempenho dos Professores, disse a Senhora Ministra da Educação que "[S]e há procedimentos inúteis têm de ser abolidos; as escolas têm autonomia para isso. O trabalho nas escolas tem de ter sentido. Os professores são um grupo qualificado e devem organizar o seu trabalho menos burocraticamente."

Algumas questões: não seria mais adequado publicar em Diário da República legislação que permitisse abolir esses "procedimentos inúteis" e esclarecesse o "sentido" que deve ter o trabalho nas escolas? Abolir os "procedimentos inúteis" não será responsabilidade de quem os criou? Que sentido faz invocar a autonomia das escolas, sabido que é que elas podem tomar as medidas que entendam adequadas desde que sejam conformes ao estipulado pelo ME? Que tal fixar os limites dessa autonomia?

Ocorre-me, também, perguntar se em vez dos "peritos para assessoria às escolas" não seria mais barato e mais eficiente simplificar as fichas de avaliação impostas pelo ME: é nelas que reside a "burocracia", é delas que decorrem os "procedimentos inúteis "e não nos é permitido alterá-las, apesar da referida "autonomia das escolas"...

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Tanta pedra!

As pedras servem para impedir as galinhas de comer as couves... o Afonso prefere as minhas às que se encontram pelo chão e, quando descobre que tenho muitas, conta-as:

Vale a pena ler

Inquérito OLAM: Frederico Lourenço

domingo, 19 de outubro de 2008

O meu ajudante

O Miguel e a mamã

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O Miguel e a mamã

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O Afonso

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Um sorriso

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O sono do Miguel



"(...) Calai-vos, águas do moinho!
Ó Mar! fala mais baixinho...
E tu, Mãe! e tu, Maria!
Pede àquela cotovia que fale mais devagar:
Não vá o João, acordar... (...)

António Nobre,
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terça-feira, 14 de outubro de 2008

Medina Carreira

Falta-me a paciência para ouvir comentadores e, mais ainda, para os nossos políticos, qualquer que seja o seu campo. Por isso, mal começam a arengar, logo mudo de canal. Porém, há pouco, Medina Carreira, em conversa com Mário Crespo, conseguiu prender a minha atenção. Foi, antes de mais, a sua recusa em falar de assuntos que ainda não estudou ou de outros que considera servirem apenas para nos manter presos às televisões. Depois, o seu pessimismo esclarecido, apoiado em gráficos que até eu consigo perceber e, sobretudo, o seu comentário sobre a educação em Portugal. Disse ele que os pais deviam sair à rua, não para protestar porque na escola dos filhos falta uma funcionária, mas porque lá, como nas outras deste país, não aprendem nada. Questionou o valor dos diplomas de 12º ano e, sobretudo dos das Novas Oportunidades, criticou um ex-ministro que defendeu no mesmo programa a Escola Inclusa, que obriga a permanecer na escola alunos que lá não querem estar, com prejuízo deles próprios e dos outros, e questionou a oferta de computadores a crianças de seis anos, antes de terem uma formação de base decente, não enjeitando, no entanto, a sua possível utilidade aos doze anos.
Mesmo que ele esteja errado -- e receio que não esteja -- é uma voz a escutar atentamente.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Três notas sobre a crise financeira

(1) Não é coisa nova:
"Carlos não entendia de finanças: mas parecia-lhe que, desse modo, o país ia alegremente e lindamente para a bancarrota.
-- Num galopezinho muito seguro e muito a direito -- disse o Cohen, sorrindo. -- Ah, sobre isso, ninguém tem ilusões, meu caro senhor. Nem os próprios ministros da Fazenda!... A bancarrota é inevitável: é como quem faz uma soma..."

Eça de Queirós, Os Maias

(2) Há pouco, ouvi Obama dizer algo como: os americanos têm de passar a viver de acordo com as suas possibilidades, substituindo o cartão de crédito pela poupança.

Creio não errar ao presumir que lá, como cá, mais facilmente passará o camelo pelo buraco da agulha do que o cidadão prescindirá do cartão de crédito.

(3) Ontem recebi mais uma mensagem no telemóvel propondo-me uma transferência de 3500 euros para a minha conta. Os bancos têm mesmo falta de liquidez?

sábado, 11 de outubro de 2008

Shotokan revisitado

Hoje, em Leiria, em treino de instrutores dirigido pelo mestre Vilaça Pinto, e com karatekas que não encontrava há uns vinte anos, uns vindos do Algarve, outros do Norte, a maior parte do Centro. Regresso com o prazer de um bom treino e com a satisfação de o ter conseguido aguentar até ao fim, apesar das dores num joelho, agora diluídas nas outras de todo o corpo...
Como cantava Brel, num contexto diferente,
(...)Finalement, finalement
Il nous fallut bien du talent
Pour être vieux sans être adultes (...)

(La chanson des vieux amants)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O próximo romance?

"Quando sai o próximo romance?, perguntam-me frequentemente leitores e leitoras de Entre Cós e Alpedriz. Tenho dificuldade em explicar que não tem data prevista - pode, até, nem haver "próximo romance". Só posso garantir que trabalho duro, não em um, mas em dois projectos - mas trabalho não chega, nem sequer é garantia de qualidade. E sem que eu reconheça qualidade (outros poderão legitimamente discordar dos meus juízos de valor), não sai nada meu.

Falta-me tempo, mas não é a falta de tempo que me atrasa a escrita: é antes a incapacidade de escrever o que quero como quero, e depois, para piorar as coisas, aquilo que escrevo é sempre comparado, por mim e, provavelmente, por todos os leitores, com as obras de referência, antigas e contemporâneas!

É escusado alongar-me, procurando desculpas, descrevendo a tortura que é escrever, primeiro enfrentando o ecrã em branco, depois, frequentemente, apagando desconsoladamente o produto de horas e horas de trabalho, outras vezes avançando por páginas e páginas para mais tarde descobrir que se trata de um beco, de onde importa sair para recomeçar noutro local e de outra forma... E no fim há a dúvida, constante, insidiosa, sobre a qualidade do pouco que sobrevive à acção de DEL, essa tecla destruidora de textos...

Entretanto, enquanto não publico nada (Do lacrau e da sua picada não será publicado, conforme explicarei em breve, que hoje os olhos já se fecham), sugiro a leitura de excertos de Entre Cós e Alpedriz, a qual trará certamente pormenores e motivará interpretações que talvez tenham escapado da primeira vez. Ou a leitura de mestres da escrita, como Mário de Carvalho (Um deus passeando pela brisa da tarde, Contos Vagabundos, A Sala Magenta...), Gonçalo M. Tavares (Jerusalém, Aprender a rezar na era da técnica...), Saramago (Levantado do Chão, Memorial do Convento, Jangada de Pedra...). Ou de clássicos, como Homero, nas traduções de Frederico Lourenço - especialmente da Ilíada.

Boas leituras!

domingo, 5 de outubro de 2008

Necessidades de formação?

Se o DN transcreveu correctamente o que foi dito (ou escrito), o sr. assessor está a precisar urgentemente de formação intensiva na área do Português:

"Contactado pelo DN, o assessor de imprensa do Ministério da Educação, Rui Nunes, admitiu que a formação de professores "está a ser reorganizada", nomeadamente com novas regras para os centros de for- mação das associações de escolas que "exigem precisamente a identificação exacta das necessidades". No entanto, garantiu que além de estarem a decorrer "imensas acções de formação, nomeadamente através dos serviços ministeriais, o processo não parou. Estamos em Outubro. Até ao fim do ano vão haver muitas formações"."

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Ou com a tia Sofia?


O Miguel não terá mais parecenças com a tia do que com a mãe?
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A mãe do Miguel e do Afonso


Diz a tia Sofia que o Miguel é parecido com a mãe... Será?
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sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Conteúdos educativos

Tenho defendido publicamente, para irritação daqueles que por idealismo ingénuo ou por razões menos nobres se obstinam em ver nas ferramentas tecnológicas o Santo Graal da educação, que essas ferramentas não resolvem, por si só, nenhum dos problemas do ensino, subalternizam o papel do professor, e o seu emprego ressente-se da inexistência de conteúdos interessantes.

Por isso me agradou o artigo "Conteúdos educativos: o parente pobre do plano tecnológico", (Rui Pacheco, da Porto Editora, in PCGUIA 155, Outubro de 2008, p. 13), de onde extraí a seguinte citação:

“Há até meritórios esforços de criação de comunidades educativas em torno de plataformas como o Moodle e outras. Não obstante, os conteúdos disponibilizados são recorrentemente elementares, pouco atractivos, raramente interactivos, muito pouco multimédia e, com lamentável assiduidade, resultam, consciente ou inconscientemente, do desrespeito da propriedade intelectual alheia, isto é, da cópia ilegal de textos e imagens”.

Em vez de fazer depender a criação de conteúdos da boa vontade e da carolice de professores nem sempre devidamente preparados para essa tarefa, e sempre com crónica falta de tempo (por mim falo), não deveria o nosso governo providenciar a aquisição de materiais e conteúdos educativos com empenho igual àquele com que adquire computadores, videoprojectores e quadros electrónicos? E não deveria tomar como suas as necessidades de manutenção e de segurança, não apenas dos equipamentos, mas sobretudo dos dados armazenados pelas escolas? Quem será responsabilizado quando algo der para o torto? Direcções que, em certos casos, talvez nem façam ideia do que seja uma rede ou um servidor?

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Regresso às aulas

Primeira aula, décimo ano, alunos desconhecidos. Depois de me apresentar sumariamente, peço a cada aluno que fale um pouco de si: nome, hobbies, hábitos de leitura, expectativas futuras… Corre tudo bem até que chego a uma menina:

-- Sou X e, sem querer ser malcriada, não vou responder porque não lhe diz respeito!

Confesso: foi preciso chegar ao trigésimo terceiro ano de trabalho na profissão para ouvir uma destas. E viva a avaliação diagnóstico, a da oralidade, com um peso de 25%, e as aulas de apresentação de noventa minutos, em que é preciso esticar o assunto já que não podemos terminar mais cedo…

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Jerusalém, de Gonçalo M. Tavares


"Gonçalo M. Tavares não tem o direito de escrever tão bem apenas aos 35 anos: dá vontade de lhe bater!", disse Saramago. Entretanto, Gonçalo Tavares publicou nos seu Livros Pretos Aprender a rezar na era da técnica, obra excelente, embora eu continue a gostar mais de Jerusalém.

domingo, 7 de setembro de 2008

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O Miguel, dois meses

E também a avó Zé e o Afonso.

Ai Magalhães!

É bom que façam o Magalhães, do e-escolinhas, bem robusto: clientes como o Afonso teclam com vontade.

sábado, 30 de agosto de 2008

Hacker destrói o meu site

Pela segunda vez em poucos meses, o meu site (www.jose-catarino.com) foi destruído pelo ataque de um pirata. Com aqui escrevi da primeira vez, não compreendo o porquê: não molesta nem ofende ninguém, não tem interesse económico… A repetição dos ataques a este site indicia direccionalidade e intencionalidade: há alguém que, por razões que desconheço, se empenha em destruir o meu trabalho. (O ranhoso assina "Latin Hack Team").


"A homem de valor jamais faltarão inimigos", escrevi em Entre Cós e Alpedriz, pelo que não me surpreenderá que em breve o site seja novamente destruído. Inútil gastar palavras a tentar descrever a pulhice de quem se dedica a estragar o trabalho alheio, valentemente protegido pelo anonimato. Segunda-feira o site estará novamente de pé.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

sábado, 23 de agosto de 2008

Saramago, a escrita e os passeios no campo

No blogue da fundação josé saramago (assim mesmo, em minúsculas, à moda de valter hugo mãe ou, mais para trás, de e.e. cummings), há um texto de apresentação do novo romance de Saramago, assinado por Pilar, que, querendo salientar as vicissitudes que a escrita do livro conheceu, começa assim:
"Queridas amigas, queridos amigos,
Escrevê-lo não foi um passeio ao campo:(...)"
Interrogo-me: desde quando é que escrever, mesmo para um mestre como Saramago, pode ser comparado a um passeio no campo? Não terá ele vivido em cada romance anterior as falsas partidas, penetrado em becos sem saída, sentido a dúvida angustiante (serei capaz outra vez?), não terá precisado de vencer quotidianamente a certeza derrotista e paralisante (já não sou capaz, isto não vai prestar, não se compara ao que já escrevi...), não se terá atormentado, palavra a palavra, frase a frase, parágrafo a parágrafo com a dificuldade de "résumer le pourquoi du monde dans un comment écrire"?
Não, trata-se, certamente, apenas de uma frase infeliz, em que Pilar procurou fazer estilo.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Reflexões sobre o estilo (1)


Encontro, por vezes, textos que dão conta de alguma preocupação com as ferramentas do escritor – se prefere o computador, a caneta, a velha máquina de escrever… Considero esta questão perfeitamente desinteressante: Homero não utilizou nenhuma delas, como as não utilizaram Fernão Lopes, Camões, Camilo ou Eça. Só há uma ferramenta que conta: a mente do criador, e só há um resultado que conta: a obra final produzida. Tudo o resto, dos meios de produção ao que o autor sentiu ou pensou, se escreveu na cama ou no comboio, são pormenores irrelevantes e distractivos.

Já a reflexão sobre o estilo me parece muito mais produtiva, talvez por ser uma das minhas obsessões. Importa esclarecer: não sou (nem aspiro vir a ser) crítico literário; o estilo interessa-me como elemento fulcral da obra, uma vez que condiciona a voz do narrador e todo o discurso (o modo como a história é contada). Ora em alguma da literatura portuguesa contemporânea predomina um estilo oralizante, avesso a convenções ortográficas e a convenções da narrativa (e.g., suprimir os elementos que permitem identificar o discurso directo) que, pesem embora eventuais vantagens – polifonia, envolvimento do leitor na construção da narrativa, ritmo rápido pela inexistência de "travões" como seriam as maiúsculas, etc., resulta obscuro, chato, não raro ilegível (terá algo a ver com a história do rei que ia nu?) e eu, leitor que procura o prazer do texto, rapidamente me enfado e ponho o livro de lado, sem me deixar impressionar pelo nome ou pelo currículo do autor.

Pode objectar-se que os tempos mudaram, já ninguém escreve com a limpidez de Camilo, o rigor de Eça. Mas, mesmo sem puxar pela cabeça, saltam logo contra-exemplos: Yourcenar, Vergílio Ferreira, García Marquez, Mário de Carvalho…

Fico-me na fé do Padre Vieira. Desagradava-lhe o estilo predominante na sua época: "[u]m estilo tão empeçado, um estilo tão dificultoso, um estilo tão afectado, um estilo tão encontrado a toda a arte e a toda a natureza" e defendia que "[o] estilo há-de ser muito fácil e muito natural (…) Aprendamos do céu o estilo da disposição, e também o das palavras. As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há-de ser o estilo da pregação; muito distinto e muito claro. E nem por isso temais que pareça o estilo baixo; as estrelas são muito distintas e muito claras, e altíssimas. O estilo pode ser muito claro e muito alto; tão claro que o entendam os que não sabem e tão alto que tenham muito que entender os que sabem." (in Sermão da Sexagésima)

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Contos Vagabundos, Mário de Carvalho

Inclui contos excepcionais: "Carolina, Fernando e eu", "Do conserto do mundo", "Deus" e “Andando”, o conto que mais me agradou, o mais estranho de todos -- um prodígio misterioso.

A ler por quem aprecia boas histórias, muito, muito bem contadas. A reler por quem, como eu, vê neste autor um mestre.

domingo, 10 de agosto de 2008

Guerra entre a Geórgia e a Rússia (2)

Na guerra entre a Geórgia e a Rússia, impressionou-me o bom senso dos entrevistados nas zonas de conflito: apesar da devastação generalizada e do sofrimento pessoal, não sucumbiram ainda ao ódio, sublinhando que, como têm de viver juntos, há que fazer rapidamente a paz. Sobre as razões de ambas as partes, que animam os discursos dos políticos (os quais são certamente os principais responsáveis pelas hostilidades), vem a propósito e reproduzo de memória uma história de sabedoria oriental contada pelo mestre Henry Plée:

Um mestre foi instado para presidir a um julgamento. Ouviu atentamente a vítima e concluiu: — Tens toda a razão.

Veio o réu e a cena repetiu-se: — Tens toda a razão.

Um dos membros do júri indignou-se: — Mestre, não podes dar a razão a ambos, ao réu e à vítima!

— Tens toda a razão, disse, e abandonou o tribunal.

sábado, 9 de agosto de 2008

Guerra entre a Geórgia e a Rússia

Se eu fosse comentador, daqueles que têm sempre opinião sábia sobre tudo o que se passa, indignar-me-ia com a indiferença noticiosa face à guerra entre a Geórgia e a Rússia; é de guerra que se trata, sem eufemismos, que já há milhares de feridos e de mortos. O equilíbrio mundial está em causa, o sangue corre, cadáveres amontoam-se nas ruínas, mas as televisões, todas, dão destaque à chegada de mais um espanhol para o Benfica ou anestesiam-nos com intermináveis tretas da "história" dos Jogos Olímpicos, prognósticos e profecias. E os jornais mal se deram ainda conta do conflito. (Será por estas e por outras que os leitores escasseiam? Será que começamos a ficar fartos de ser tratados como Maria-vai-com-as-outras?)

Dentro de meia hora, Bush em pessoa dirige-se aos americanos, pronunciando-se sobre o conflito. Talvez, então, os media acordem.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Escrita: ponto da situação

Terminei até agora dois romances: Do lacrau e da sua picada (2005) e Entre Cós e Alpedriz (2007). Após várias recusas de editoras, publiquei o primeiro na Edit on Web como ebook e, já descrente das capacidades desta "editora", optei por uma edição de autor para o segundo.


Relativamente a Do lacrau e da sua picada, a Edit on Web vendeu, pasme-se!, dois exemplares! Nunca esperei enriquecer com o romance, o que até daria jeito para poder dedicar mais tempo à escrita, mas vender dois exemplares num ano inteirinho é obra!


Pelo contrário, Entre Cós e Alpedriz excedeu largamente as minhas expectativas iniciais, demasiado baixas por não ter conseguido interessar nenhuma das editoras que contactei (Caminho e Oficina do Livro), nem obter uma única crítica (mesmo que fosse a título pessoal, mesmo desfavorável) dos numerosos críticos, literários e sociais, a quem ofereci a obra. Com raríssimas excepções, nem sequer consegui que confirmassem tê-la recebido! Já os leitores e as leitoras continuam a fazer-me chegar comentários muito elogiosos, que se podem resumir num "gostei muito". (O meio editorial refere frequentemente a falta de leitores, mas não reflecte sobre o que lhes oferece para ler.)


A segunda tiragem está praticamente esgotada; restam alguns, poucos, exemplares à venda – meia dúzia na Junta de Freguesia dos Montes, outros tantos na Feira do Livro da Nazaré, e uma dúzia numa loja do Bairro Alto. É possível que me decida por uma terceira tiragem, mas só depois de Do lacrau e da sua picada sair em papel, o que acontecerá logo que tenha a capa pronta.


Entretanto, o terceiro romance (Um amor inventado, título provável, embora provisório) vai avançando, penosamente, laboriosamente. Espero terminá-lo até ao Natal, quando fará dois anos de escrita, mas, mesmo que o consiga, não será publicado nos meses seguintes. E por detrás, impaciente, perfila-se o seguinte, que procura em vão captar a minha atenção…

domingo, 27 de julho de 2008