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terça-feira, 24 de agosto de 2010

Los valientes

Soterrados há 19 dias, a 700 metros de profundidade, 33 mineiros chilenos lutam pela vida. Imagino-os apertados, na escuridão, famintos, a respirar ar viciado, obrigados a defecar no próprio local, senão nas próprias calças, à espera de um qualquer sinal de que não foram dados como mortos e sepultados vivos nessas profundezas. Imagino-os agora, a esperança reavivada, a suportarem meses de sofrimento e de desilusões até que, finalmente, os mais resistentes venham a ver novamente a luz do dia, a abraçar as famílias, que sofrem talvez mais ainda do que eles. Estes mineiros são a prova de que os homens ainda se não acabaram no planeta -- embora sejam cada vez mais raros. Como eles, como os familiares, como o seu país, desejo ardentemente que saiam vivos da sepultura em que jazem; como tantos outros tentarei reter as lágrimas quando os vir aparecer à superfície.

Venha a bruxa

Nem previsões sabe fazer. É que se me oferece dizer deste governo que não acerta uma e ainda se vangloria disso:
«Nestes seis meses, o crescimento da economia que se verificou em Portugal foi o dobro do previsto pelo Governo no início do ano», afirmou o primeiro-ministro em Vale de Cambra. "
(NOTA: estar farto de Sócrates não implica qualquer ilusão a respeito de outros candidatos à governação, com ou sem coelhos na cartola. É que já o não posso ouvir, menos ainda ao SS, ao Valter Lemos,.. )

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

De volta ao karaté

Após paragem forçada de mais de um mês --  férias, canícula e lesões de final de época a tal obrigaram -- eis-me de regresso aos treinos. Com uma semana de atraso, culpa da infecção de garganta que me atirou para a cama.
Tanto para rever, tanto para corrigir! A Via é ilimitada, dizem os antigos mestres. Enquanto o corpo responder, melhor ou pior, há que persistir. E os resultados neste regresso não são satisfatórios, na força que falta, na técnica sempre imperfeita, como bem mostra esta primeira parte de Jion, a minha Tokui-Gata ('forma' favorita).

Ninguém

"Ó Ciclope, perguntaste como é o meu nome famoso. Vou dizer-to,
e tu dá-me o presente de hospitalidade que me prometeste.
Ninguém é como me chamo. Ninguém chamam-me
a minha mãe, o meu pai, e todos os meus companheiros."

Homero, Odisseia (trad. Frederico Lourenço)

(Negrito meu. Note-se que "ninguém" é muito mais sugestivo do que "alguém".)

sábado, 21 de agosto de 2010

Grande oferta de livros

Feita por José Mário Silva. Fotos aqui.
Num recanto lindo de Lisboa, bem participada, ambiente extremamente simpático, civismo irrepreensível. Mais que os livros trazidos, as recordações de um momento especialmente agradável.
Muito obrigado pela ideia e pela sua concretização.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Repatriar e deportar

O governo francês repatriou umas centenas de estrangeiros que considera indesejáveis, a viver em condições precárias, e até deu 300 euros a cada um, deixando claro que nada impedirá que esses romenos agora reenviados para a sua pátria voltem quando entenderem. Logo, logo, surgem acusações de práticas nazis, transformam-se as expulsões em deportações massivas e receia-se já o reacender das fornalhas dos campos de extermínio. Esta argumentação, intelectualmente desonesta por substituir factos por interpretações, não se pronuncia sequer sobre o direito que um país tem de acolher quem bem entender e reduz a Europa à situação da velha puta, sempre de porta aberta.
Sampaio, instalado como comissário para os refugiados, vem aparentemente defender o seu emprego. Aparentemente porque continuo sem perceber nada daquilo que o homem diz em Português:
O antigo Presidente da República de Portugal realçou ainda “a necessidade de as sociedades serem sociedades plurais, que já o são”, e de ser promovida a tolerância entre as pessoas.
Já era assim quando presidia à República. Falava, falava, e eu não percebia nada. Talvez Sarcozy ou os romenos o compreendam.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Viver não custa

O ex-primeiro ministro britânico Gordon Brown cobra 100.000 euros por discurso. Ó sr. primeiro ministro de Portugal, veja o que anda a perder. Deveria saber que nós não valorizamos aquilo que é grátis. Deixe essa chatice do governo, cesse de arengar para auditórios enjoados e vá discursar para quem o aprecia e lhe pagará ainda por cima. Essas coisas do salto tecnológico, das reformas na educação, na justiça, da criação de centenas de milhares de empregos serão verdadeiras minas de oiro. E se precisar de quem escreva os discrusos, lembre-se de mim, que lhe dei a ideia.

Grande oferta de livros

Ideia original e extremamente simpática de José Mario Silva, a braços com falta de espaço para os livros que já tem e, sobretudo, para aqueles que têm de entrar. Por isso, resolveu oferecer parte deles:
"a partir das dez da manhã montarei uma banquinha junto ao novíssimo e simpatiquíssimo quiosque do miradouro (...) Quem vier pode escolher à vontade e levar o que lhe apetecer, sem pagar um cêntimo. Entre os livros oferecidos não haverá novidades editoriais, como é evidente, mas também nada de refugo (pelo contrário).
Se quiserem, os leitores do Bibliotecário de Babel podem ainda aproveitar para conhecer pessoalmente o Bibliotecário de Babel, (...)  (é só um tipo normal que gosta de livros)."
Ler na íntegra AQUI.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Da limpeza das armas

O ministro da Administração Interna diz que "em tempo de guerra não se limpam armas". Ou o ministro não foi à tropa, ou já se esqueceu do pior pesadelo do soldado: que caia em emboscada, a arma encrave e tenha de a desmontar e voltar a montar debaixo de fogo. É sobretudo em tempo de guerra que se limpam as armas.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Paninhos quentes

O país arde em cada Verão, os bombeiros combatem os fogos com abnegação incrível, perdendo alguns a vida, e a conversa é sempre a mesma: há incendiários, há desleixo, há falta de acessos, de limpeza... Quando é se passará das palavras aos actos? Por exemplo, muitos dos incendiários são reincidentes. Deve ser criado quadro legal que permita interná-los durante o Verão, com mordomias suficientes para não chocar a nossa esquerda; deve ser permitido expropriar os metros de terreno necessários para construir os acessos; a limpeza deve ser feita recorrendo aos subsidío-dependentes, porque trabalhar não envergonha ninguém e dar algo em troca do que se recebe contribuirá para aumentar a auto-estima e, eventualmente, para que possam sair dessa situação de dependência. E os juízes não devem desautorizar a GNR, libertando imediatamente os incendiários capturados, por vezes em flagrante delito.
Por último, deve acabar o espectáculo promovido pelas televisões, em péssimo Português, sabido que é que há quem faça qualquer coisa por uns instantes de celebridade.
Os fogos, ou como agora se diz, as "ignições"são inevitáveis. Mas pode-se reduzir a frequência, a dimensão, os estragos. Basta querer e deixar de tratar o problema com paninhos quentes.

ADENDA:
(1) De 29 incendiários detidos, 9 encontram-se em prisão preventiva (31%). Resta saber durante quanto tempo mais.
(2) Um deles, reincidente, estava a cumprir prisão. Em regime de dias livres. Passa pela cabeça de alguém, com o país devastado por incêndios, não obrigar a recolher até às próximas chuvadas pelo menos todos os presos por este crime? E não será óbvio para os juízes que o castigo deve estar relacionado com o crime? Queimou? Que se condene a limpar um determinado número de hectares. Reincidiu? Que seja bombeiro à força nos incêndios -- sempre na linha da frente.
(3) As mulheres da aldeia tentaram capturá-lo. Se o têm conseguido agarrar, em vez de "alegado incendiário" e "presumível criminoso" teríamos, de certeza, um criminoso bem chamuscado.
(4) O medo guarda(va) a vinha, que não o vinhateiro. Mas hoje, medo de quê, se os castigos são recompensas?

Pieguices

"Que em vivo ardor tremendo estou de frio". A febre deita-me abaixo, deixa-me incapaz de fazer o que quer que seja. Prostrado, amodorrado, o corpo bem mais dorido que depois de um estágio de karaté, dormito constantemente. Tudo isto por causa de uma infecção da garganta, que talvez me obrigue a ir ao médico. De positivo: só estou doente nas férias.

sábado, 14 de agosto de 2010

O Tex de férias

Dinossauros e carros

O Afonso e o Miguel em breves férias nos Montes. Num momento de paz, sempre raro entre irmãos

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Pecado mortal

É dizer que os romances de Bolaño são chatos. É preferir os clássicos. É preferir o romance do século XIX.
Pois eu leio por prazer e recuso torturar-me. Ou gosto ou não.E digo como Sinatra:

Someone said, drink the water, but I will drink the wine.

Da faculdade da linguagem

O ser humano nasce com uma faculdade da linguagem que lhe permite, muito rapidamente, aprender a língua em que está imerso. A exposição a essa língua activa os princípios inatos da gramática universal, fixando, por exemplo, a ordem básica dos constituintes das frases.
E eu maravilho-me ao acompanhar a aprendizagem da língua pelos meus netos. Posso, por exemplo, afiançar que aos dois anos, idade do Miguel, a ordem básica do Português (sujeito - verbo - complemento) já está adquirida. Há pouco, ele e o Afonso, quatro anos e meio, discutiam porque nenhum queria dar ao Tiago, seis meses, um dos seus brinquedos. E o Miguel insistia, apontando para o pato que o Afonso recusava emprestar: "Não, bebé qué pá!" (Não, o bebé quer o pato!)

Paraísos terrestres

No tempo de Mário Soares, o paraíso ficava na Suécia; de há uns anos para cá, parece ter-se deslocalizado para a Finlândia, isto a fazer fé nos modelos que os nossos governantes nos tentam impor -- vejam-se, por exemplo, as recentes declarações da ministra da educação a propósito do fim dos chumbos.
Convencido que estou de que, apesar dos defeitos, Portugal é o melhor país para um português viver (eu sei, o amor cega), nunca me seduziram esses paraísos nórdicos, onde para comprar uma garrafa de vinho é preciso licença -- mas se pode ter um arsenal em casa, como os recentes massacres em liceus, feitos por miúdos finlandeses, evidenciam. Outros pormenores, ocasionalmente noticiados, aumentaram a minha desconfiança: a criação e o treino de Pit Bulls, as lutas de cães -- agora essa fantástica prova desportiva, o Mundial de Sauna,  em que os "atletas" se deixam cozer a 110 graus centígrados e que só foi notícia  cá porque um deles morreu. Convenhamos: querer substituir a lagosta não revela lá muito bom senso nem confirma um nível educacional superior ao nosso, apesar da vulgaridade tão criticada aos nossos "atletas" de aldeia, que se empanturram com febras grelhadas e sardinhas assadas em campeonatos bem renhidos e bem regados. Alarves? Sem dúvida. Parvos ao ponto de nos deixarmos cozer vivos? Ah, chamem os nórdicos, de alguma coisa lhes deve servir o seu ensino por cá tão invejado.

domingo, 1 de agosto de 2010

Eu chumbei

E foi o melhor que então me podia ter sucedido. Tive 9 a Desenho e 8 a Oficinas, o que, na época, implicava reprovação. Ninguém se comoveu com as boas notas que eu tinha a Português, a História, a Ciências, com as razoáveis a Matemática, etc. Ora este chumbo, que me humilhou de tal forma que nessas férias grandes nem saí à rua, ensinou-me duas coisas fundamentais: a primeira, que eu estava no curso errado (Formação de Serralheiros), uma vez que tinha reprovado nas disciplinas fundamentais; a segunda, bem mais importante, que alguma facilidade na aprendizagem, a que chamavam então inteligência, e sorte não chegavam; era preciso portar-me melhor, faltar menos às aulas chatas para andar de barco no rio, estudar com afinco. 
Mudei de curso, comecei a aplicar-me, vim a ser novamente bom aluno. Nunca mais deixei de estudar. Embora, confesso-o, só depois dos quarenta, já na conclusão do meu mestrado em Linguística, lhe tenha tomado o gosto.