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terça-feira, 25 de novembro de 2008

Ao Menino Jesus


Lista, ainda incompleta, de sugestões de prendas para mim
Livros:
Um Homem: Klaus Klump/A máquina de Joseph Walser, Gonçalo Tavares, FNAC, 14,36 euros;
Myra, Maria Velho da Costa, FNAC, 14,40 euros;
A Invenção do amor e outros poemas, Daniel Filpe, FNAC, 6,24 euros;
Filmes:
Ran, os senhores da guerra, Akira Kurosawa, FNAC, 9,95 euros (qualquer outro filme de Akira Kurosawa é bem-vindo);
O grande ditador, Charlie Chaplin, FNAC, 14,95 (qualquer outro filme de Chaplin é bem-vindo);
Utilitários
Pantufas (que não escorreguem no chão molhado);
Jogo de chaves de luneta (pequenas);
(...)

As escolhas do Diabo

De um lado, as imposições do Ministério da Educação, formuladas em puro "eduquês", que visam transformar os professores em meros burocratas; do outro, o ridículo das propostas sindicais, como a que há pouco ouvi a Mário Nogueira: que a avaliação dos professores se faça este ano mediante apresentação de "relatório crítico"! O que sofri ao ler tantos, copiados uns pelos outros, mal escritos, recheados de erros de Português, idiotas do ponto de vista pedagógico e científico, insinuando imodestamente, porque sem a grandeza de Mohamed Ali, Eu sou o maior!
(Nas ruas e na televisão, comportamentos e tomadas de posição de "colegas" em que me não revejo e só me envergonham.)
Entre ME e sindicatos, que venha o Diabo e escolha. A partir de agora, eu estou fora. Derrotado, como sempre. Umas vezes pelo primeiro, outras pelos segundos.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Ministra da Educação falou e (não) disse

Há ministros e ministérios de que apenas se fala quando há problemas. Como a Educação: só quando as asneiras são reiteradas e assumem proporções escandalosas tem lugar nos espaços noticiosos. Foi assim com as colocações de professores, com os exames nacionais, com a TLEBS, agora com a avaliação de desempenho e com o Estatuto do Aluno… Mas hoje foi um exagero: vi primeiro a minha ministra numa conferência de imprensa à saída de um Conselho de Ministros extraordinário, sobre Educação, e depois, há pouco, entrevistada por Judite Sousa na 1. Confesso que não gosto de a ver e, menos ainda, de a ouvir. Protagonismo a mais para um cargo que deveria ser discreto, carecendo de mais obras e de menos conversas. Como as primeiras, certamente motivadas por boas intenções, enquanto não vão aquecer um pouco mais o Inferno, se ressentem da forma desajeitada que a sua implementação assume, esquecendo frequentemente que o porta-voz do governo é o Diário da República, comento as segundas, as conversas.

E nesta matéria, verifica-se que a senhora ministra fala de mais e diz de menos; desembrulha e encadeia lugares-comuns, em ritmo acelerado para evitar que lhe sejam colocadas questões, denota nervosismo, que nunca ajuda a persuadir, jamais responde com clareza e objectividade, tanto às questões que lhe colocam os entrevistadores como àquelas que sabe serem as nossas, as dos professores e das escolas. Se algo de importante consegui reter daquela verborreia, que como torneira aberta despejou chavões sobre chavões, é que ficará tudo na mesma. Haverá, é certo, alguma flexibilidade, mas o modelo sacrossanto, só não ungido pelo Sumo Pontífice porque este governo é laico, o modelo fica na mesma, adornado por alusões vagas, como a promessa, já anteriormente feita, mas nunca implementada, de compensações horárias para os avaliadores.

Pelo meio, por aqui e por ali, o reconhecimento do absurdo do modelo de avaliação, que ela própria propôs e continua a defender intransigentemente, com uma fé e uma arrogância que fazem, inevitavelmente, recordar a mentalidade do "orgulhosamente sós"; por exemplo, para combater o abandono escolar, cada professor, ao saber (como?) que um aluno anulou ou vai anular a matrícula (isso é abandono? E se for para fazer a disciplina em exame final, com melhor nota? Ou porque, fora da escola, há formas de fazer um ciclo de três anos em três meses, sem esforço e com sucesso assegurado?) deve reunir com o aluno, reunir o Conselho de Turma, reunir com os pais (tê-los-á? Virão à escola, se não for para espancar o professor?) Simples, não? O meu 7º A tem vinte professores. Se nenhum quiser ficar atrás dos outros, haverá vinte reuniões com cada aluno em risco de abandono, vinte com os pais de cada um deles… Não esquecer de lavrar as respectivas actas, ou faltarão as "evidências"! Ora uma colega do meu departamento tem 15 turmas, 28 alunos na maior parte delas... (Eu sei, os professores não trabalham nem querem trabalhar, viva a ministra que os há-de pôr na linha…) Quando dizemos que o modelo de avaliação é burocrático e absurdo, sabemos do que falamos. Quando a ministra diz que o vai simplificar, aguardamos legislação.

Ouvir a senhora ministra não foi uma completa perda de tempo. Fiquei a saber (1) que só terá aulas assistidas quem o pedir, por pretender ter Muito Bom ou Excelente. (Haverá professor que se considere inferior aos outros?). Só não percebo qual o problema em ter aulas assistidas. Há muitos anos que digo que as portas das minhas salas de aula estão sempre abertas – e quando o calor do Verão aperta, são, literalmente, escancaradas. (2) Que os resultados escolares dos alunos não serão tidos, por enquanto, em conta. Que pena! Há anos que não reprovo alunos, ficarei prejudicado. (3) Que qualquer professor terá o direito de ser avaliado por alguém da sua área disciplinar. Elementar, dirá qualquer Sherlock. De resto, tudo na mesma. A montanha pariu um rato – e a ministra não chega ao Ano Novo. Aposto: um dos meus romances contra um lanche ou, melhor, contra um jantar.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Avaliação de desempenho suspensa na ES Entroncamento

Os professores da Escola Secundária com 3º Ciclo do Entroncamento aprovaram, em reunião plenária realizada hoje, a suspensão do actual modelo de avaliação de desempenho, tendo havido 120 votos a favor da suspensão, 5 contra e 2 nulos.
A escola tinha já aprovado um pedido de suspensão, entretanto indeferido pela senhora ministra.
Lamento sinceramente que a cegueira e a obstinação da equipa ministerial nos tenham encurralado, trazendo para as escolas desalento, desencanto, frustração; uma classe pacata, obediente, respeitadora das hierarquias é hoje uma classe revoltada - e não é difícil prever que o pior ainda está para vir.

Para afugentar o desalento outonal



Do grande Prévert, esta obra-prima:

CHANSON DES ESCARGOTS QUI VONT À L'ENTERREMENT

"A l'enterrement d'une feuille morte

Deux escargots s'en vont
Ils ont la coquille noire
Du crêpe autour des cornes
Ils s'en vont dans le soir
Un très beau soir d'automne
Hélas quand ils arrivent
C'est déjà le printemps
Les feuilles qui étaient mortes
Sont toutes réssucitées
Et les deux escargots
Sont très désappointés
Mais voila le soleil
Le soleil qui leur dit
Prenez prenez la peine
La peine de vous asseoir
Prenez un verre de bière
Si le coeur vous en dit
Prenez si ça vous plaît
L'autocar pour Paris
Il partira ce soir
Vous verrez du pays
Mais ne prenez pas le deuil
C'est moi qui vous le dit
Ça noircit le blanc de l'oeil
Et puis ça enlaidit
Les histoires de cercueils
C'est triste et pas joli
Reprenez vous couleurs
Les couleurs de la vie
Alors toutes les bêtes
Les arbres et les plantes
Se mettent a chanter
A chanter a tue-tête
La vrai chanson vivante
La chanson de l'été
Et tout le monde de boire
Tout le monde de trinquer
C'est un très joli soir
Un joli soir d'été
Et les deux escargots
S'en retournent chez eux
Ils s'en vont très émus
Ils s'en vont très heureux
Comme ils ont beaucoup bu
Ils titubent un p'tit peu
Mais là-haut dans le ciel
La lune veille sur eux"

Jacques Prévert, Paroles

(Dois caracóis vão, carregados de luto, ao enterro de uma folha morta, numa noite de Outono; quando chegam, é já Primavera, as folhas mortas ressuscitaram, e os caracóis ficam desapontados; Mas o Sol convida-os a sentarem-se, a beberem um copo de cerveja (si le coeur vous en dit), as histórias de caixões são tristes e nada bonitas. Então todos os animais, as árvores e as plantas se põem a cantar a plenos pulmões a verdadeira canção dos seres vivos, a canção do Verão. E toda a gente a beber, e toda a gente a emborcar, é uma bela tarde de Verão. E os dois caracóis regressam a casa, comovidos, muito felizes. Como beberam bastante, vacilam um pouco, mas lá no alto do céu a Lua olha por eles.)


segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A Verdade Suprema

"Ministra da Educação diz que a avaliação "está em curso em toda as escolas". Estranho... A minha escola foi uma das que pediu a suspensão - e suponho que muitas outras fizeram o mesmo. Mas não. Estamos enganados. Não pedimos a suspensão da dita cuja porque, segundo a ministra, "Não está suspensa a avaliação, não pode estar suspensa. Insisto: não se pode pedir a suspensão da avaliação. É muito importante que ela prossiga e está em curso em todas as escolas".

Diz o povo que não há pior cego do que aquele que não quer ver. Esta ministra vai ainda mais longe: não só não quer ver, não só recusa as evidências, como se obstina (de forma que me abstenho de classificar por respeito para com o cargo que desempenha) em afirmar a impossibilidade de poder haver outro ponto de vista que não o seu.
Curiosamente, ao "corrigir" o Estatuto do Aluno, outra criação genial da actual equipa ministerial, afirma ter constatado "que a aplicação do estatuto aos regulamentos internos não se fazia nos termos do próprio espírito da lei do estatuto do aluno"! Mais uma vez, a culpa é das escolas, que não sabem ler as instruções ministeriais! Não seria melhor anexar à legislação que vai produzindo as respectivas correcções aos Regulamentos Internos? E, já agora, mandar também os Projectos Educativos, Projectos Curriculares de Turma, Planos Educativos e quejandos, que tanto tempo fazem perder, inutilmente, às escolas e aos professores? Ou trata-se de castigo, para punir uma classe de calaceiros?

domingo, 16 de novembro de 2008

Ronin

Ao fim de 25 anos, interrompi o ensino do karaté, mas não a prática, que a paixão continua, tão ou mais viva do que quando comecei. O facto de não ter alunos libertou-me de responsabilidades e de compromissos - quota da federação, pertença a uma associação, programas técnicos, exames, estágios...
Como um samurai sem senhor, um ronin, estou livre para seguir o caminho que bem entender, indiferente a querelas de estilos e linhas, afastado das guerras chatas e desgastantes... E esse caminho levou-me, mais uma vez, com o meu amigo Augusto, o meu primeiro professor de karaté, a Paredes de Coura para treinar com o mestre Vilaça Pinto.
Como jovens aprendizes, dormimos no ginásio do mestre, apesar do frio cortante, treinámos sob a sua orientação, beneficiámos das suas numerosas correcções. Cansados, mas satisfeitos, com muita matéria para estudar (nós estudamos com o corpo), eis-nos já a pensar na próxima viagem a Paredes de Coura...